Produtos lácteos estão cada vez mais caros, mas os produtores de leite em Portugal recebem “o preço mais baixo” da UE-27

Os produtores de leite em Portugal recebem, em média, 49 cêntimos por cada litro, revela a Associação dos Industriais de Laticínios (ANIL), mas o consumidor final paga-o, no supermercado, a cerca de 81 cêntimos (sem IVA).

Produtos lácteos
O consumo de leite e de produtos lácteos em Portugal é de 62 litros per capita, segundo informações da Associação dos Industriais de Laticínios (ANIL), sendo que 98% da produção de leite é de vaca.

A secretária-geral da Associação Nacional dos Industriais de Laticínios (ANIL) assumiu na última semana, na Assembleia da República, numa audição na Comissão de Agricultura e Pescas, que o preço por litro de leite pago ao produtor é, em média, 49 cêntimos, mas que é vendido ao consumidor, sem IVA, a cerca de 81 cêntimos.

Maria Cândida Marramaque revelou nessa audição que o setor dos laticínios em Portugal agrega 334 empresas, emprega cerca de 650 mil trabalhadores, 6.500 dos quais de forma direta, e que terá registado em 2024, um volume de negócios na ordem dos 1.822 milhões de euros.

Por sua vez, o consumo de leite e de produtos lácteos em Portugal é de 62 litros per capita, segundo informações adiantadas pela secretária-geral da ANIL, sendo que 98% da produção de leite no nosso país é de vaca.

Já nesta segunda-feira, 24 de fevereiro, a Associação dos Produtores de Leite de Portugal (APROLEP) veio a terreiro revelar que “os produtores de leite portugueses receberam, em dezembro de 2024, um preço médio de 45,8 cêntimos por quilo de leite”, e que esse valor é “o pior preço da Europa”.

“Foi o preço mais baixo entre os 27 Estados da União Europeia, cerca de nove cêntimos abaixo da média comunitária”, diz a APROLEP em comunicado, frisando que a evolução significativa dos preços do leite pagos à produção nos países da União Europeia (UE-27) no segundo semestre de 2024 “não foi acompanhada em Portugal” pela indústria de laticínios.

Preço "não é suficiente" para investimentos

“O atual preço do leite, na generalidade dos casos, permite pagar as despesas correntes de produção, mas não é suficiente para efetuar investimentos que permitam aumentar a competitividade e eficiência das vacarias, proteger o ambiente, melhorar as condições de bem-estar animal e as condições de trabalho dos agricultores e colaboradores”, diz a Associação, que é agora liderada por Miguel Silva, natural de Vila do Conde.

Além do aumento dos custos de produção, a APROLEP sublinha que “é cada vez mais difícil encontrar mão de obra qualificada e disponível, pelo que é necessário automatizar os sistemas de alimentação e ordenha”, só que os preços que os produtores recebem pelo leite não lhes permite esse nível de investimentos.


A Associação dos Produtores de Leite alerta, assim, que “é importante a indústria e a distribuição acompanharem a tendência europeia, aumentando o valor de aquisição do leite ao produtor, para garantir a sobrevivência do setor e o abastecimento de leite produzido em Portugal”.

Vaca
O preço do leite pago à produção não é suficiente para investir na competitividade e eficiência das vacarias, proteger o ambiente e melhorar as condições de bem-estar animal.

A mesma organização, que foi a eleições a 31 de janeiro deste ano e elegeu os corpos sociais para os próximos quatro anos, adverte ainda o Governo e, em particular o Ministério da Agricultura, para “as dificuldades que os produtores [de leite] enfrentaram nos últimos 15 anos”, devido ao “preço baixo e altos custos”.

E fazem notar que, no âmbito do PEPAC [Plano Estratégico da Política Agrícola Comum de Portugal 2023-2027], “sejam disponibilizados apoios ao investimento, os quais, “neste momento estão apenas disponíveis para jovens agricultores”.

Guerra na Ucrânia fez disparar custos

Recorde-se que a invasão da Rússia à Ucrânia em fevereiro de 2022, uma região de onde eram provenientes grande parte dos cereais consumidos na União Europeia, nomeadamente em Portugal, veio colocar uma enorme pressão ao setor agroalimentar, a que o setor da produção de leite não ficou imune.

Leite
"É importante a indústria e a distribuição acompanharem a tendência europeia, aumentando o valor de aquisição do leite ao produtor", diz a APROLEP.

Esta situação surge, aliás, após longos meses de crise provocada pelas consequências da pandemia de covid-19 e da seca.

A limitação da oferta de matérias-primas e o aumento dos custos de produção, nomeadamente dos fertilizantes e da energia, que são indispensáveis à produção agroalimentar, acabariam por dar origem a um incremento dos preços das matérias-primas nos mercados internacionais e, consequentemente, ao aumento dos preços dos produtos ao consumidor final.

Os consecutivos aumentos dos preços ao consumidor nessa altura, nomeadamente em produtos como a alimentação, contribuíram também para o aumento da taxa de inflação para níveis históricos nos anos 2022 e 2023.

Ultrapassada a turbulência desses anos, o Instituto Nacional de Estatística (INE) já revelou que, no final de 2024, a taxa de inflação média anual terá ficado nos 2,4%, um valor bastante abaixo dos 4,3% de 2023 e dos 7,8% de 2022.

No início de 2025, a taxa de inflação em Portugal voltou a desacelerar, descendo dos 3% registados em dezembro para 2,5% em janeiro deste ano.