Produção de vinho em Portugal cai 8% devido à instabilidade meteorológica durante o ciclo vegetativo
No Douro, apesar de terem ficado 237 parcelas e 117,4 hectares de vinha por vindimar, a produção aumentou 5% em 2024/2025. No Algarve e Beira Interior, o Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) diz que a produção de vinho subiu 20%.
Em Portugal, os viticultores partiram muito céticos para as vindimas deste ano, cientes dos elevados stocks de vinho ainda por escoar de anos anteriores e a braços com elevados custos de produção, escassez de mão de obra e diminuição nas taxas médias de consumo em Portugal, na Europa e no mundo.
E os números confirmam este ceticismo. Excetuando algumas regiões mais bafejadas pela meteorologia, na campanha de 2024/2025 verificou-se uma quebra na produção de vinho nas principais regiões vitivinícolas do país.
As previsões do IVV publicadas em julho de 2024 já apontavam para este cenário.
Numa nota divulgada a 30 de julho, o IVV estimava que a produção de vinho na campanha 2024/2025 atingiria “um volume de 6,9 milhões de hectolitros", o que se traduziria num "decréscimo de 8% face à campanha 2023/2024”.
Para as regiões da Beira Interior, Trás-os-Montes e Algarve, o IVV traçou previsões a apontar para “aumentos em relação à campanha anterior", enquanto para a região de Távora-Varosa "não se espera variação na produção”.
Instabilidade meteorológica e doenças
Volvidos cinco meses, os dados recolhidos através das Declarações de Colheita e Produção preenchidos pelos viticultores e entregues ao IVV confirmam as previsões. Eles atestam uma diminuição do volume de vinho produzido em Portugal que, este ano, atingiu um total de 6,9 milhões de hectolitros (hl).
Este volume de produção representa um decréscimo de 8% face à campanha 2023/2024, sendo que, em relação à média das cinco campanhas anteriores, representa uma redução de 0,1%.
Entre os fatores que contribuíram para este decréscimo na produção de vinho, em média, em Portugal, destaca-se “a instabilidade meteorológica durante o ciclo vegetativo da videira”, que, segundo o IVV, “favoreceu o surgimento de doenças, com especial incidência do míldio”.
Na generalidade, as produções por região registaram um decréscimo face à campanha anterior. Destacam-se as regiões dos Açores, da Bairrada, do Dão, da Península de Setúbal e de Lisboa, que apresentaram quebras superiores a 20%.
No entanto, nem todas as regiões vitivinícolas se comportaram da mesma forma. No Algarve e na Beira Interior, o IVV revela que se registaram “aumentos de produção superiores a 20%”, face à campanha de 2023/2024.
No início de dezembro, o Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP) revelou que, dos 250 mil hectares que integram a Região Demarcada do Douro, houve 237 parcelas e 117,4 hectares de vinha (0,29%) não vindimados.
Isto, porque, antes da vindima, havia “120 milhões de litros de vinho a mais nas adegas cooperativas e privadas (quase um quinto da produção nacional)”, segundo o IVDP. Por essa razão, muitos viticultores optaram por não colher as uvas.
DOP e IGP continuam dominantes
No cômputo geral da produção de vinho em Portugal, as produções declaradas como aptas a Denominação de Origem Protegida (DOP) e Indicação Geográfica Protegida (IGP) “continuam dominantes”, avança o IVV. Elas atingiram, nesta campanha, “91% da produção nacional”, de acordo com a mesma fonte.
Em linha com o verificado nos últimos anos, “é predominante a produção de vinhos tintos, representando 57% do total produzido”, diz ainda o IVV. Por sua vez, o volume dos vinhos brancos, que ficou “ligeiramente acima dos 2,5 milhões de hectolitros”, tem um peso de 36% na produção nacional. Os vinhos rosados representam 7% do total.