Produção de cortiça em Portugal atinge 4,5 milhões de arrobas. Há stock suficiente para a atividade industrial deste ano
A quantidade de cortiça disponível na campanha de 2024 permite "assegurar os níveis de stocks" das fábricas para o próximo ano industrial. A utilização das máquinas de extração nos montados é “cada vez mais crucial no futuro”.
A Associação Interprofissional da Fileira da Cortiça (FILCORK) revelou esta semana os resultados económicos obtidos e as principais conclusões relativamente à campanha de extração da cortiça em 2024. E a campanha “decorreu de uma forma positiva”, revela a Associação, afirmando que a janela temporal de extração desta matéria-prima natural em Portugal foi “alargada” e decorreu “sem fenómenos que impactassem” o seu decurso normal.
Cortiça é isolante térmico e acústico
A cortiça é retirada do tronco do sobreiro (Quercus suber L) a cada nove anos, sem danificar a árvore. É uma matéria-prima totalmente natural, com propriedades únicas que lhe conferem um caráter inigualável. É leve, impermeável a líquidos e a gases, é elástica e compressível, é um isolante térmico e acústico, tem uma combustão lenta e é muito resistente ao atrito. Além disso, é totalmente biodegradável, renovável e reciclável.
As maiores áreas de floresta de sobro (montado) existem em países do Mediterrâneo ocidental: Portugal, Espanha, Itália, França, Marrocos, Tunísia e Argélia.
Perante estes dados e a quantidade de cortiça disponível este ano para as empresas de transformação, a Associação do setor não tem dúvidas de que “a campanha de 2024 permitiu assegurar os níveis de stocks na indústria para uma normal atividade no próximo ano industrial”.
Quanto aos preços, “a campanha de 2024 registou uma redução do preço médio em redor de 15%”, diz a FILCORK, salientando que se verificou “uma redução da amplitude de preços entre as cortiças suportada na valorização das cortiças destinadas à trituração, devido à tendência de alteração de mix de consumo de rolhas nos mercados internacionais”.
Esta é uma redução de preço que se segue ao aumento registado em 2023, “voltando o preço médio a valores em linha com a curva de evolução do novénio, que apresenta um crescimento positivo”.
Por outro lado, a inflação e o “aumento dos salários médios” fez com que o custo de extração de cortiça em 2024 mantivesse “a tendência das últimas campanha”, diz a FILCORK.
Mecanização na extração da cortiça
Durante décadas, o processo de extração da cortiça, também designado de descortiçamento, foi manual, usando-se uma catana especial. E sempre foi visto como uma tarefa muito especializada, levada a cabo pelos tiradores de cortiça, cuja arte apurada era transmitida por gerações de homens e mulheres que se especializaram nesta atividade e que exigia grande precisão manual e experiência.
A primeira extração de cortiça de um sobreiro é a desbóia. A cortiça que é extraída deste primeiro descortiçamento, vulgarmente conhecida como cortiça virgem, é irregular, dura e muito difícil de trabalhar. É utilizada para painéis decorativos, vasos para flores e outras aplicações.
A segunda extração do sobreiro após os primeiros nove anos é chamada secundeira. Embora muito mais maleável e regular do que a cortiça inicialmente extraída, não é ainda a cortiça de melhor qualidade.
Já o terceiro descortiçamento marca o início da maturidade do material e o seu mais alto nível de qualidade. A partir dessa fase, de nove em nove anos, a cortiça extraída - amadia - é da melhor qualidade possível. É com ela que são fabricadas as melhores rolhas de cortiça natural utilizadas para envelhecer os melhores vinhos do mundo.
A campanha da cortiça de 2024 tem, ainda, outra particularidade: “decorre e termina num contexto de negócio pautado por uma contração no consumo mundial de vinho”, diz a FILCORK. E por uma “consequente retração em quantidade e valor das exportações portuguesas”, quer em 2023, quer já no primeiro semestre de 2024, “derivado, fundamentalmente, à atual conjuntura internacional”.
A Associação Interprofissional da Fileira da Cortiça, ciente desta realidade, defende “um maior reconhecimento económico e social das funções ambientais do montado”, assim como do “papel relevante” desta atividade silvícola no “combate à desertificação e na provisão de serviços de ecossistema”.
Suberina (45%) | Principal componente das paredes das células, responsável pela elasticidade da cortiça. |
Lenhina (27%) | Composto isolante. |
Polissacáridos (12%) | Componentes das paredes das células que ajudam a definir a textura da cortiça. |
Taninos (6%) | Compostos polifenólicos responsáveis pela cor. |
Ceróides (5%) | Compostos hidrofóbicos que asseguram a impermeabilidade da cortiça. |
Não falando do “impacto positivo” que o montado proporciona na “adaptação às alterações climáticas”, diz a FILCORK. Daí defenderem a “remuneração efetiva da produção florestal por todos os serviços prestados à sociedade”. Acima, confira a tabela que contém a composição química da cortiça.