Produção da castanha em alta, à exceção de Valpaços. Tempestade Kirk provoca quebra de 30% na região

O Instituto Nacional de Estatística (INE) estima “um aumento de 15%” na produtividade da castanha em Portugal, face aos dois anos anteriores, mas, em Valpaços, as condições meteorológicas desfavoráveis originam “uma colheita fraca”.

Castanhas
Em Portugal, existem 50 mil hectares de castanheiros. Segundo a Associação Portuguesa da Castanha (RefCast), “a grande massa de castanheiros” está localizada nas Beiras e em Trás-os-Montes.

Em Portugal, existem 50 mil hectares de castanheiros. Segundo a Associação Portuguesa da Castanha (RefCast), “a grande massa de castanheiros” está localizada nas Beiras e em Trás-os-Montes, sendo que, a norte do rio Tejo, está 95% daquilo que é a área portuguesa da castanha, com a região de Trás-os-Montes a concentrar “mais de 80%” das plantações.

A 30 de setembro, nos soutos transmontanos as árvores apresentavam “uma carga de ouriços normal e um melhor estado sanitário, face aos dois anos anteriores”, que foram muito marcados por pragas e doenças no castanheiro.

Entre essas pragas e doenças está a vespa das galhas (Dryocosmus kuriphilus), a septoriose (Septoria spp) e, ainda, as doenças crónicas: o cancro (Cryphonectria parasitica) e a tinta (Phytophthora cinnamomi), refere o INE no seu Boletim da Agricultura e Pescas de outubro.

“Prevê-se um aumento de 15% na produtividade da castanha, observando-se uma carga normal de ouriços e um melhor estado sanitário, face aos dois anos anteriores”, escreveu o INE, revelando que, no final de setembro, e nas variedades temporãs, já se observavam “ouriços abertos na árvore”, que apresentavam “uma alta percentagem de frutos viáveis de elevado calibre”.

Novos soutos em produção

Essa situação fazia prever, se as condições continuassem favoráveis, que a produção de castanha na região de Trás-os-Montes seria “de melhor qualidade e consideravelmente superior à das duas últimas campanhas”, devido também ao facto de “existirem novos soutos a entrarem em produção”.

Aliás, a Associação Portuguesa da Castanha (RefCast), que promove no dia 30 de novembro, no Porto, a primeira Gala da Castanha, para dar notoriedade a este fruto, até avançou com estimativas mais altas.

Ouriços de castanhas
A floração tinha sido fraca nos castanheiros em Valpaços, mas a tempestade Kirk, que trouxe ventos fortes à região, derrubou ouriços com o fruto ainda verde.

Em declarações à agência Lusa, o secretário-geral da RefCast, José Gomes Laranjo, que é docente e investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), falou de um “aumento da produção de castanhas entre 25 e 30%, podendo atingir as 30 mil toneladas”.

“A campanha está a correr melhor do que no ano passado, apesar de algumas incidências negativas que ocorreram”, refere o responsável da RefCast, lembrando os problemas fitosanitários do passado, relacionados com a podridão da castanha. Em 2023, este fungo “deu cabo de cerca de 50% da produção portuguesa de castanha”, disse José Gomes Laranjo, referindo que se esperava poder atingir as 50 mil toneladas e cifrou-se em “menos de metade”.

Mas as produtividades não serão as mesmas em toda a região de Trás-os-Montes. Em Valpaços, por exemplo, concelho onde, na Serra da Padrela, se situa a maior mancha de castanha judia da Europa e que é, paralelamente, um dos principais centros de produção de castanha de Portugal e onde se pode encontrar a maior mancha contínua de castanheiros de toda a Península Ibérica, a produção vai baixar, este ano.

A floração já tinha sido fraca nos castanheiros do concelho, mas a tempestade Kirk, que trouxe ventos fortes à região, derrubou ouriços com o fruto ainda verde e partiu ramos e árvores, afetando as quantidades de fruto.

Em virtude das ocorrências, a Câmara de Valpaços enviou uma comunicação ao Ministério da Agricultura e à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) a solicitar apoio para os produtores afetados, mas o presidente da autarquia, citado pelo Porto Canal esta terça-feira, 29 de outubro, referiu que “até ao momento não há nenhuma decisão” quanto à atribuição de apoios para mitigar os prejuízos.

Apesar de a castanha ser “pouca” no concelho, o presidente da Câmara de Valpaços, António de Medeiros, garante que “é de boa qualidade”. Declarações feitas esta terça-feira, justamente, em Carrazedo de Montenegro, durante a apresentação da XXVII Feira da Castanha Judia, que se realiza entre os dias 8 e 10 de novembro.

Castanhas assadas
Apesar de a castanha ser “pouca”, o autarca de Valpaços garante que “é de boa qualidade”. Declarações feitas em Carrazedo de Montenegro, na apresentação da XXVII Feira da Castanha Judia.

Também para dar notoriedade a este fruto de outono, “levar a castanha para fora da zona da castanha” e “pôr as pessoas a falar da castanha que não as pessoas da região da castanha", a RefCast vai organizar, pela primeira vez, uma Gala da Castanha, na Alfândega do Porto.

Trabalhar a imagem da castanha

O secretário-geral da RefCast, José Gomes Laranjo, explicou à comunicação social que esta Gala é a concretização de “um desafio que remonta a 2013, à génese da associação”. Uma organização que agrega produtores individuais, associações, cooperativas, a agroindústria, assim como entidades ligadas à investigação e os municípios.

"Estamos a trabalhar a imagem da castanha de uma outra forma, procurando modernizá-la, procurando, de facto, criar um momento de charme que a castanha bem merece, pela sua qualidade e por aquilo que ela representa em termos da fileira a nível nacional", declarou à Lusa o investigador da UTAD.

Reconhecendo que "a castanha tem tido alguns problemas ao longo dos últimos anos", o dirigente salientou que o objetivo da gala passa por "afirmá-la pela positiva" e premiar os eventos ligados à comunicação, inovação, governança, internacionalização e gastronomia.

A apresentação da Gala da Castanha decorreu na Colónia Agrícola Martim Rei, no concelho do Sabugal (Guarda), onde foi criado um campo experimental e instalados um viveiro de castanheiros e outro de avelãs, na sequência de um protocolo celebrado em 1988 entre a autarquia e a Direção Regional da Agricultura da Beira Interior.