Procura por informação sobre terramotos aumenta após sismo de 3,4 no Algarve: quais são os avanços de que necessitamos?
Na tarde de 6 de novembro, um sismo de magnitude 3.4 foi registado ao largo do Algarve. Este evento ocorre num momento de grande procura de informação sobre terramotos em Portugal, impulsionada pela recente memória do sismo de Lisboa, em finais de agosto.
O sismo de 3.4 no Algarve reacende o interesse por “terramotos” em Portugal, destacando a importância de medidas preventivas face ao risco sísmico. Na tarde de 6 de novembro de 2024, às 16h03, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) registou um sismo de magnitude 3.4 na escala de Richter ao largo da costa sul de Portugal, com o epicentro localizado a cerca de 60 km de Olhão, no Algarve.
Apesar da magnitude moderada e de não haver relatos de que o abalo tenha sido sentido em terra, este evento relembra a sismicidade que caracteriza a região. O sismo recente, aliás, reaviva a discussão sobre a preparação de Portugal para eventos sísmicos de maior impacte, como o que se associa ao terramoto devastador de Lisboa em 1755.
A geotectónica da região e o risco sísmico
Portugal está localizado junto à fronteira entre as placas Euro-Asiática e Africana, particularmente na designada falha Açores-Gibraltar. A complexidade desta fronteira faz com que o território esteja sujeito a eventos sísmicos ocasionais, com intensidade variável. A falha GLORIA, o Banco de Gorringe e o Rifte da Terceira são apenas alguns dos segmentos desta fronteira tectónica que geram movimentos, desde deslizamentos e compressão a afastamentos entre placas.
Historicamente, a região sul de Portugal, especialmente o Algarve, apresenta elevada sismicidade, não só devido à proximidade com a fronteira de placas, mas também pela presença de falhas ativas, como as de Portimão, Quarteira e Faro-Loulé. Estas falhas, embora gerem sismos de menor magnitude, localizam-se próximo de aglomerados populacionais, onde as ondas sísmicas podem provocar acelerações do solo e potenciais danos estruturais.
Doravante, o terramoto de Lisboa, ocorrido a 1 de novembro de 1755, é um dos episódios mais devastadores da história sísmica de Portugal e da Europa. Com uma magnitude estimada entre 8.7 e 9.0, o sismo gerou ondas de choque, um tsunami e incêndios que destruíram grande parte de Lisboa, resultando em milhares de vítimas e vastos danos materiais. Este evento não só é recordado como um marco na história do país, mas também como um símbolo da imprevisibilidade e força destrutiva dos sismos.
Apesar dos avanços na construção de edifícios resistentes a sismos e na implementação de normas de segurança, muitas das construções em Portugal ainda são vulneráveis a um evento desta magnitude. Estudos recentes indicam que áreas como Lisboa, o Vale do Tejo e o Algarve podem não estar completamente preparadas para um sismo de grande intensidade. Estes locais têm alta densidade populacional e infraestruturas que, em alguns casos, podem não resistir às acelerações do solo geradas por sismos de alta magnitude.
Soluções? Exemplo do exercício "A Terra Treme" e a consciencialização pública
Perante o risco contínuo de sismos em Portugal, torna-se fundamental manter a população informada e treinada para responder adequadamente a um evento sísmico, recorrendo a exercícios como o de "A Terra Treme", que são promovidos pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), tendo sido o último na passada terça-feira (5 de novembro).
A simulação do exercício "A Terra Treme" tem particular relevância em Portugal, um país que, apesar de não estar localizado em zonas de elevada sismicidade global, como o Japão ou o Chile, está sujeito a riscos sísmicos de impacte considerável. A simulação visa, essencialmente, educar e criar uma resposta rápida e coordenada em caso de um sismo real.
No caso em concreto, embora o sismo registado ao largo do Algarve tenha sido de baixa magnitude, destaca-se a necessidade de uma preparação contínua para eventos sísmicos. O IPMA, em colaboração com outras entidades científicas e governamentais, tem desenvolvido estudos sobre as falhas ativas no território português e sobre os potenciais cenários de risco sísmico. No entanto, é crucial que esta informação seja amplamente divulgada e acessível à população para que todos saibam como agir numa emergência.
Por onde é o caminho para tornarmos as comunidades mais resilientes?
Além da sensibilização e da participação no "A Terra Treme", as autoridades recomendam a inspeção e reforço das estruturas mais antigas e menos resistentes, principalmente em regiões de maior risco sísmico. Em Lisboa, a Câmara Municipal implementou o Programa Municipal de Reforço Sísmico, que se concentra em identificar e fortalecer edifícios históricos e habitações construídas antes da regulamentação antissísmica.
A implementação de programas semelhantes noutras regiões do país, especialmente no Algarve e no Vale do Tejo, poderia contribuir para aumentar a segurança e a resiliência das populações face a eventos sísmicos.
Embora a previsão exata de um sismo seja cientificamente impossível, a monitorização contínua e os estudos geológicos e sísmicos permitem identificar áreas de maior risco e implementar medidas preventivas adequadas. A instalação de sensores sísmicos mais avançados, o mapeamento detalhado das falhas e a atualização das normas de construção são algumas das práticas que podem ajudar a mitigar os impactes de um sismo de grande magnitude no futuro.