Principal corrente do Atlântico pode estar perto do colapso
O principal sistema de circulação de água no Atlântico meridional, ao qual pertence a corrente do Golfo, pode ter perdido estabilidade, de acordo com os cientistas climáticos que detetaram sinais de um possível colapso. Isto teria consequências devastadoras para o planeta Terra.
Sendo o principal sistema de circulação do Oceano Atlântico, e um importante regulador do clima mundial, a AMOC (Atlantic Meridional Overturning Circulation) – em português Circulação Termohalina Meridional do Atlântico - perdeu quase toda a estabilidade durante o século passado e pode estar mesmo prestes a atingir um ponto crítico e irreversível.
De que modo a AMOC influencia o clima no globo?
A AMOC funciona como um motor do clima do Hemisfério do Norte, sendo um grande sistema de correntes oceânicas que transporta água quente dos trópicos para o norte na superfície do oceano e água fria para o sul no fundo do oceano, o que é bastante relevante para as temperaturas razoavelmente amenas na Europa. Além disso, influencia os sistemas meteorológicos de todo o mundo.
Assim, se de facto colapsar, terá consequências catastróficas em todo o mundo, perturbando severamente as chuvas de que dependem milhares de milhões de pessoas para a alimentação na Índia, América do Sul e África Ocidental; aumentando as tempestades e reduzindo as temperaturas na Europa; e empurrando o nível do mar para o leste da América do Norte. A floresta tropical amazónica e os lençóis de gelo da Antártida também ficariam ainda mais ameaçados.
O estudo coloca urgência na redução de emissões
A complexidade do sistema da AMOC e a incerteza sobre o aquecimento global futuro tornam impossível prever, para já, quando é que este sistema pode colapsar. Mas o colossal impacto que teria, salienta a necessidade de impedir que aconteça, frisaram os cientistas.
"Os sinais de desestabilização já visíveis são inesperados e assustadores", disse Niklas Boers, do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático na Alemanha, autor principal do estudo, em declarações ao The Guardian. "É algo que simplesmente não podemos permitir que aconteça".
Não se sabe que nível de CO2 desencadearia um colapso da AMOC, disse. "Portanto, a única coisa a fazer é manter as emissões tão baixas quanto possível. A probabilidade de este evento de impacto extremamente elevado acontecer aumenta com cada grama de CO2 que colocamos na atmosfera".
Aquecimento global está a aumentar a instabilidade das correntes
Já em maio, Boers e os seus colegas tinham relatado que uma parte significativa do manto de gelo da Gronelândia estava à beira da rutura, ameaçando uma grande subida do nível global do mar.
A Circulação Termohalina Meridional do Atlântico é impulsionada pela água do mar densa e salgada que se afunda no oceano Ártico, mas o derretimento da água doce do manto de gelo da Gronelândia está a dificultar esse processo mais cedo do que os modelos climáticos previam. A água doce é mais leve do que a salgada e reduz a tendência da água de afundar da superfície para maiores profundidades, o que é um dos motores da circulação.
Conjuntos de dados de temperatura e salinidade medidos independentemente, que remontam a 150 anos, permitiram a Boers mostrar que o aquecimento global está de facto a aumentar a instabilidade das correntes, e não apenas a alterar o seu padrão de fluxo. "Este declínio pode estar associado a uma perda quase completa de estabilidade ao longo do século passado, e a AMOC pode estar próxima de uma transição crítica para o seu modo de fraca circulação".
Proxies paleoclimáticos como provas da desestabilização da corrente
Segundo uma investigação publicada na revista Nature Geoscience e baseada em simulações de computador com dados do passado da Terra, os chamados "registos proxy paleoclimáticos", a AMOC está no seu estado mais fraco dos últimos 1.600 anos. David Thornalley, do University College London no Reino Unido e co-autor da investigação, acrescentou: "Estes sinais de estabilidade decrescente são preocupantes. Mas ainda não sabemos se ocorrerá um colapso, ou quão perto podemos estar dele".