Primavera portuguesa caracterizada pelo declínio de aves migratórias

De acordo com o SPEA, registou‐se em Portugal um declínio generalizado de diversas espécies de aves migratórias de longa distância. Será que temos de emcontrar um novo símbolo para a primavera? Veja aqui!

Andorinha
Há muitas aves migratórias cujo número tem vindo a diminuir, graças a fatores tão diversos como alterações na paisagem agrícola, alterações climáticas ou capturas acidentais pelas artes da pesca. Fonte: Petz

A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves aponta que o número de andorinhas em Portugal diminuiu 40% nos últimos 20 anos, uma queda representativa do declínio generalizado de diversas espécies de aves migratórias de longa distância.

Para além da andorinha também o cuco, o picanço-barreteiro e a rola-brava estão em declínio em Portugal, Espanha e na Europa, em geral.

Estas conclusões chegam do Censo das Aves Comuns, que avaliou as tendências populacionais de 64 aves comuns em Portugal continental para o período 2004-2023.

“Em plena crise da biodiversidade, termos acesso a informação atualizada sobre o estado das nossas espécies de aves comuns é uma enorme mais-valia.” De acordo com Hany Alonso, técnico da SPEA e coordenador do Censo de Aves Comuns.

O mesmo técnico afirma ainda que ao vermos as aves comuns podemos compreender melhor o que se passa à nossa volta. Estas espécies vão ser as primeiras a dar-nos indicação de que alguma coisa não está bem.

Alterações Climáticas afetam as aves migratórias

As aves migratórias como as andorinhas têm sido fortemente afetadas pelas alterações climáticas, seja nos sinais que usam para iniciar a migração seja quanto à abundância de insetos para alimentar as crias.

Pardal
O relatório Estado das Aves em Portugal 2019, que é apresentado esta quarta-feira em Lisboa, mostra que entre 2011 e 2019 esta ave diminuiu cerca de 29%. Fonte: Petz

Também as aves comuns nos meios agricolas, como o pardal, o peneireiro e a milheirinha, estão em declínio nos últimos 20 anos, devido à intensificação das práticas agrícolas, que têm vindo a artificializar os campos, destruindo "os mosaicos tradicionais que permitiam que a biodiversidade florescesse”.

A SPEA apela à restauração da natureza, através da implementação de políticas que promovam práticas agrícolas sustentáveis, assim como são necessárias alterações no ordenamento do território, no desenvolvimento energético, e nas avaliações de impacto.

“Numa altura em que precisamos de ter mais informação sobre o estado da biodiversidade, estes dados são importantes porque além de nos ajudarem a identificar as espécies e habitats que podem estar sob maior ameaça e sobre as quais devemos priorizar medidas de conservação, também podem ajudar a definir e a implementar políticas e medidas de gestão sustentáveis.” Salienta Hany Alonso.

Espécies piscícolas fogem da costa portuguesa

Contudo também no oceano é possivel encontrar espécies que estão a desaparecer de Portugal.

Sardinha
A crise de plâncton na costa portuguesa poderá repercutir-se na quantidade de sardinha, assim como de todos os peixes juvenis que se alimentam de plâncton e, por sua vez, terá consequências em toda a cadeia alimentar marinha. Fonte: Continente

Segundo os pescadores algarvios a sardinha está cada vez mais longe da costa portuguesa e é mais difícil de capturar.

A costa portuguesa perdeu cerca de 55% da quantidade de sardinha nos últimos 10 anos, o que contribuiu para o aumento do preço desse peixe.

Esta diminuição deve-se essencialmente à quantidade de plâncton na costa portuguesa que está a diminuir devido às alterações climáticas e esse decréscimo poderá conduzir à redução das comunidades de peixe que ficará sem alimento.