Prémios Europeus da Agricultura Biológica elegem oito vencedores. Portugal ficou pelo caminho
A Comissão Europeia anunciou na última segunda-feira os vencedores dos Prémios Europeus da Agricultura Biológica. Um relatório publicado no mesmo dia pelo Tribunal de Contas Europeu questiona a eficácia dos apoios da UE à agricultura biológica.
A exemplo de anos anteriores, os vencedores deste ano dos Prémios Europeus da Agricultura Biológica apresentaram-se a concurso com projetos considerados sustentáveis e inspiradores em toda a cadeia de valor. Os eleitos do júri demonstraram como a agricultura e a produção em modo biológico podem gerar inovação e novas oportunidades de emprego em áreas rurais.
Foram recebidas cerca de 100 inscrições para as oito categorias e havia três finalistas portugueses a concurso: a Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Tâmega e Barroso (Chaves), a cidade de Cascais e a biorregião de São Pedro do Sul. Porém, nenhum logrou integrar a lista de premiados.
Os oito vencedores da edição 2024 dos EU Organic Awards, anunciados no Dia Europeu da Agricultura Biológica, são os seguintes:
Na categoria “Melhor agricultora biológica” (mulher), foi premiada a senhora Reinhilde Frech-Emmelmann, da Áustria. Fundou a ReinSaat GmbH em 1998 numa quinta biodinâmica em St. Leonhard am Hornerwald, na Baixa Áustria, especializada em sementes biológicas, livres de organismos geneticamente modificados (OGM) e com mais de 800 variedades resistentes, assim promovendo a biodiversidade e a agricultura sustentável na Europa.
Benny Schöpf, da Alemanha, foi eleito o melhor agricultor orgânico (homem). O senhor Schöpf é o principal produtor de vegetais na Kartoffelkombinat, a maior exploração cooperativa apoiada pela comunidade na Alemanha. Fornece todas as semanas vegetais produzidos em modo biológico para 2300 famílias e dá prioridade a condições de trabalho justas e a práticas agrícolas sustentáveis.
O prémio para a melhor cidade biológica foi para BioStadt Bremen, na Alemanha. Com mais de 30% das explorações agrícolas certificadas como biológicas, a cidade promove sistemas alimentares sustentáveis através de projetos comunitários e iniciativas agrícolas inovadoras, capacitando os cidadãos a impulsionar mudanças locais. BioStadt Bremen está, aliás, a trabalhar para converter em biológicos, até 2025, todos os serviços municipais de alimentação para escolas, creches e hospitais.
Sörmland (Suécia): melhor biodistrito
Sörmland, na Suécia, foi eleito o melhor biodistrito. Localizado a sul da capital, Estocolmo, Sörmland tem sido um pioneiro na agricultura biológica desde a década de 1940, reunindo propriedades agrícolas, a indústria de transformação alimentar, restaurantes e outros agentes económicos. Com 20% das terras agrícolas a produzir em modo biológico, em Sörmland promovem-se os produtos biológicos locais, o turismo sustentável e a consciencialização sobre os benefícios deste modo de produção agrícola.
O prémio para a melhor PME de transformação de alimentos biológicos foi para a Gino Girolomoni, uma cooperativa agrícola em Itália. Localizada na região de Marche, esta cooperativa é especializada na produção de massas biológicas, continuando a missão de seu fundador, Gino Girolomoni. Possui 80 hectares de terras agrícolas a operar em modo biológico e instalações movidas a energia renovável. Produz nove milhões de toneladas de massas anualmente, apoiando mais de 300 agricultores e 60 trabalhadores locais.
O prémio para o melhor retalhista de alimentos biológicos foi para a SAiFRESC, em Espanha. Fundada por três agricultores em 2011, a SAiFRESC fez a transição para a agricultura biológica, revitalizando a agricultura na Huerta de Valencia. Com 30 hectares de terra a produzir em modo biológico, este retalhista produz 70 produtos, vendendo 90% de sua colheita localmente e reduzindo as embalagens, promovendo a economia circular.
Por fim, o melhor restaurante biológico/serviço de alimentação. O prémio foi atribuído à cadeia Kalf & Hansen, na Suécia. Fundada em 2014 por Rune e Fabian Kalf-Hansen, esta rede de restaurantes oferece cozinha nórdica sazonal 100% biológica. Com dois restaurantes, serviços de bufet e refeições biológicas nos comboios suecos, o Kalf & Hansen dá preferência ao fornecimento local, à sustentabilidade e às refeições biológicas acessíveis.
PAC tem 14,7 mil milhões para a agricultura biológica
A agricultura biológica desempenha um papel considerado essencial no desenvolvimento de um sistema alimentar sustentável para a União Europeia (UE). Os planos estratégicos da Política Agrícola Comum (PAC) têm disponíveis apoios financeiros no montante global de 14,7 mil milhões de euros de 2023 a 2027, destinados aos agricultores da UE que queiram converter as suas explorações para o modo biológico.
Nos últimos anos, as vendas totais de produtos biológicos na UE aumentaram de 38,6 mil milhões de euros em 2019 para 45,0 mil milhões de euros em 2022, de acordo com os dados revelados nesta segunda-feira pela Comissão Europeia.
O pico destas vendas - 46,3 mil milhões de euros - foi atingido em 2021. A UE é o segundo maior mercado de produtos biológicos, depois dos EUA.
Tribunal de Contas Europeu muito crítico
Ainda assim, um relatório publicado na última segunda-feira pelo Tribunal de Contas Europeu (TCE) coloca dúvidas sobre a eficácia dos apoios da UE à agricultura biológica.
“Os milhares de milhões de euros que todos os anos vêm da UE fizeram aumentar a área dedicada à agricultura biológica, mas não se dá atenção suficiente às exigências e necessidades do setor. Por isso, o mercado da produção biológica continua a ser muito pequeno. O TCE avisa, assim, que “o mais certo é a UE ficar muito longe da meta definida”.