Portugal regista até final de julho o menor número de ignições e a mais curta área ardida dos últimos 10 anos

Portugal registou desde o primeiro dia do ano e até ao final de julho um total de 2.820 incêndios dos quais resultaram 4.425 hectares de área calcinada pelo fogo, os melhores resultados em 10 anos. Mas como poderá ser agosto?

incêndios em Portugal
Portugal registou até ao final de julho o valor mais baixo dos últimos anos em número de incêndios e em área ardida.

Portugal registou desde o início do ano, até ao último dia de julho, um total de 2.820 incêndios rurais que se traduziram em 4.425 hectares de área ardida, segundo o mais recente relatório do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), publicado recentemente.

Os pouco mais de quatro mil hectares distribuem-se entre povoamentos florestais (1.506 ha), matos (2.106 ha) e áreas agrícolas (813 ha). Estes dados representam uma redução de 58% no número de incêndios em relação à média dos últimos 10 anos, ou seja, o valor mais reduzido desde 2014 e de menos 87% de área ardida, o que o coloca também, em comparação, no ano mais baixo em área queimada.

A maioria dos incêndios ocorreu no mês de julho, com um total de 1.082 ocorrências, o que representa 38% do número total registado no ano. Também neste mês se conheceram as maiores cifras de área ardida, com um total de 1.538 hectares calcinados pelo fogo, o que corresponde a 17% do total de área ardida.

Até ao dia 31 de julho, foram registados, em território continental, 5 grandes incêndios (área ardida total igual ou superior a 100 hectares), que se manifestaram em 759 hectares de área ardida, o que representa cerca de 68% do total da área queimada pelo fogo.

Todos estes incêndios de maior dimensão se deram no Alentejo, nos concelhos de Reguengos de Monsaraz (202 ha), Aljustrel (167 ha), Elvas (151 ha), Serpa (124 ha) e Castro Verde (115 ha).

Cerca de 85% das ocorrências de incêndio rural foram dadas como terminadas ainda na fase de ataque inicial, o que evidencia que, até 31 de julho, os incêndios com área ardida inferior a 1 hectare foram os mais frequentes, como é comum no nosso território.

incêndios
As regiões a do norte do rio Tejo continuam a ser as mais afetadas, onde o uso do fogo é mais comum, a densidade populacional é maior e existem aglomerados urbanos de maior dimensão, em maior escala.

Distritos e concelhos mais afetados

Os distritos com maior número de incêndios foram o do Porto (429), Viana do Castelo (265) e Braga (239). Já as Comunidades Intermunicipais com maior número de ignição foram a Área Metropolitana do Porto (285), Tâmega e Sousa (267) e Alto Minho (265).

No que à área ardida diz respeito, o distrito mais afetado foi Viana do Castelo com 712 hectares, cerca de 14% da área total ardida, seguido de Beja com 697 hectares (16% do total) e de Braga com 449 hectares (10% do total). Os concelhos onde mais ardeu foram Elvas (252 ha), Reguengos de Monsaraz (224 ha), Montalegre (204 ha), Arcos de Valdevez (190 ha) e Aljustrel (169 ha).

Dos incêndios investigados que puderam chegar a uma conclusão das suas causas, concluiu-se que a grande maioria, 44% resultou do uso do fogo (queimas, queimadas e realizações de fogueiras). O restante é distribuído entre 24% por incendiarismo, 16% resultado de responsabilidade acidental, 3% por reacendimentos e 12% por outras causas apuradas. Apenas 1% são consequências de causas naturais (quedas de raios).

O relatório evidencia que a grande maioria dos incêndios ocorreu em períodos de severidade meteorológica baixa (57% na classe mais baixa) e que apenas 34 deles ocorreram em períodos de temperaturas mais elevadas, vento forte, ausência de precipitação e humidade relativa baixa.

O que podemos esperar para o mês de agosto?

Apesar dos excelentes resultados, a verdade é que o mês de julho já começou a revelar algumas cifras idênticas aquilo que foram os anos anteriores, principalmente em número de ignições, sobretudo pelo maior volume destas no período final do mês. Felizmente foram poucas as ocorrências que resultaram em incêndios de grandes dimensões.

Este comportamento deveu-se sobretudo às condições atmosféricas, que não permitiram uma propagação inicial do fogo. Em muito contou a precipitação que se fez pautar pelo território nacional até mais tarde e em muito ajudou a manter os níveis de humidade dos combustíveis. Ainda que seja positivo, a ocorrência pode vir a revelar-se contraproducente, por permitir uma maior disponibilidade de combustível. Esperemos que não.

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Espera-se que agosto possa vir a ser um mês especialmente complexo, num ano que até agora foi de maior calmaria.

O mês de agosto também começa com um número de ignição, aparentemente, superior ao que foi a média diária registada em julho. Se assim continuar, é bem provável que as cifras registradas no mês passado sejam pulverizadas. Ainda assim, nos primeiros 5 dias do ano não se registou nenhum incêndio de grandes dimensões, ainda que esta informação careça de confirmação oficial.

Ora, os incêndios conhecem um comportamento ideal de propagação quando registam valores de humidade relativa abaixo de 30%, temperaturas superiores a 30 º C e velocidade do vento superior a 30 km/h, ainda que estes não sejam os únicos fatores determinantes.

Em plena canícula (período caracterizado por ser o mais quente e seco do ano) são períodos esperados de grande severidade meteorológica e que podem ser responsáveis por incêndios de grandes dimensões. É por isso expectável que venham a conjugar-se calor extremo, baixas humidades relativas e vento moderado a forte, maioritariamente provenientes do quadrante leste (geralmente mais quente e seco).

A previsão global para as próximas semanas aponta para um cenário de subida gradual e acentuada da temperatura, com a possibilidade dos termómetros registarem temperaturas máximas próximas ou acima dos 40 ºC em muitos locais do interior Norte e Centro e Alentejo já no final desta semana.

É, por isso, natural que existam ocorrências de incêndio rural, principalmente nestas geografias, e no período expectável de maior severidade meteorológica, que estes possam vir a adotar um comportamento extremo, sendo expectável que o mês de agosto possa vir a ser um período específico complexo e desafio para todos aqueles que combatem este flagelo.