“Portugal não tem falta de água". "Não está é a geri-la como deve ser”, conclui o Congresso da Rega e Drenagem
“Portugal dispõe do dobro da quantidade de água ‘per capita’ face ao resto da Europa” e não está a saber geri-la. Esta é uma das conclusões do Congresso da Rega e Drenagem, que decorreu em Alcobaça. Na próxima semana discute-se a resiliência hídrica, no Fundão.
“Portugal dispõe do dobro da quantidade de água per capita face ao resto da Europa”. Por outro lado, “Portugal não tem falta de água, não está é a geri-la como deve ser”. Estas são duas das conclusões do X Congresso Nacional da Rega e da Drenagem, organizado na última semana pelo Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio (COTR), que também apresentou a Agenda de Investigação e Inovação para o Regadio.
Em Portugal, 60% da produção agrícola e mais de metade das explorações dependem do regadio para a sua sobrevivência e rentabilidade. Contudo, “apenas 16% - 620 mil hectares - dos 3,7 milhões de hectares de superfície agrícola utilizável estão devidamente equipados” para dele poderem beneficiar, referiu o presidente do COTH, Gonçalo Morais Tristão, durante a apresentação do Congresso, que aconteceu de 13 a 15 de novembro em Alcobaça.
53 mil milhões de m3 de água para o mar
O evento arrancou com a intervenção do presidente da Câmara de Alcobaça, Hermínio Rodrigues, que frisou a importância da água para a atividade agrícola no seu concelho. “A agricultura com regadio é vital para a nossa região e não se pode falar de regadio sem falar de agricultura”, disse o autarca, realçando que Alcobaça “é dos poucos municípios do país com um pelouro da Agricultura”.
Na opinião deste especialista, se nada for feito nos próximos anos, a redução da precipitação e o aumento da temperatura vão “tornar inviável a atual paisagem de sequeiro” no país e “fica instalado o deserto”. Daí que considere que “a manutenção do mundo rural passa pelo regadio, integral ou de apoio, que complemente as culturas de sequeiro, alimente zonas ambientais e mantenha o coberto arbóreo”.
No Congresso da Rega e Drenagem de Alcobaça também foi realçado que “o modelo de gestão dos recursos hídricos deve ser semelhante a Alqueva e assentar em fins múltiplos”, sendo que “os privados são quem impulsiona investimentos na modernização do regadio em Portugal”.
Uma coisa é certa: “a mudança de paradigma na água e na agricultura �� também uma questão de transição energética”, já que “a tecnologia ajuda a fazer uso mais sustentável e racional da água”. Isto, embora isto deva ser “conjugado com conhecimento agronómico humano” e com um “aumento da literacia dos agricultores” e um “impulso da capacitação digital do setor”.
Resiliência hídrica em debate no Fundão
Resiliência hídrica e a estratégia “Água que Une”, que está a ser preparada pelo Governo e deverá ser apresentada até ao final do ano, vão voltar a estar em destaque na próxima semana, desta vez nas XV Jornadas da FENAREG - Federação Nacional de Regantes de Portugal, no Fundão, em colaboração com a Associação de Beneficiários da Cova da Beira. José Manuel Fernandes, ministro da Agricultura e Pescas, faz a abertura do evento.
Assumindo-se como “o mais relevante encontro nacional sobre o setor do regadio nacional", deverão participar neste evento “mais de 20 oradores”, de acordo com a organização. Estão previstas “várias apresentações e múltiplas mesas redondas em debate”, que se pretende “decisivo”, sobre a resiliência hídrica e a estratégia nacional da água em Portugal.
Entre as várias comunicações, a FENAREG, liderada por José Núncio, irá apresentar “um estudo que identifica o valor necessário a investir em Portugal até 2030 na modernização do regadio”, que é considerado “uma componente vital da estratégia nacional da água e da qual depende vastamente a sustentabilidade e a segurança alimentar do país”.
“Esta é uma importante oportunidade de reflexão sobre o setor, os investimentos disponíveis e os principais desafios a ultrapassar, num esforço conjunto de se alicerçar uma estratégia nacional para a água – um recurso escasso que Portugal tem em abundância mas que urge gerir para assegurar o futuro do país, das regiões e das populações”, refere a organização.
No dia 27 de novembro terá lugar a Assembleia Geral da FENAREG, uma sessão técnica sobre os Sistemas de Rega e o uso eficiente da Água e ainda haverá uma visita à Barragem da Meimoa, do Aproveitamento Hidroagrícola da Cova da Beira.