Portugal lidera no consumo de pescado na Europa, mas deve fazer escolhas mais sustentáveis
Os peixes brancos (bacalhau, pescada, paloco ou arinca) são dos produtos do mar os capturados de modo mais sustentável. Portugal é líder no consumo 'per capita' na Europa, mas deve aumentar a oferta de pescado sustentável para atender à crescente preocupação dos consumidores com a saúde dos oceanos.
O último Relatório Anual do Peixe Branco Sustentável (Sustainable Whitefish Yearbook, na designação em inglês), publicado na última semana, revela que, no final de 2023, quase três quartos das capturas mundiais de peixe branco estavam incluídas no programa de produtos do mar sustentáveis do Marine Stewardship Council (MSC).
O MSC é uma organização não-governamental que identifica se o peixe capturado provém de uma pesca sustentável. Esta organização criou padrões reconhecidos a nível mundial para a pesca sustentável e a cadeia de abastecimento de produtos do mar, sendo que, atualmente, cerca de 19% das capturas marinhas selvagens do mundo já estão envolvidas no programa de certificação do MSC.
O paloco e o bacalhau estão entre as dez espécies marinhas selvagens capturadas com os maiores desembarques em 2021, o último ano para o qual existem dados disponíveis da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). De acordo com a FAO, o paloco representa 3,4 milhões de toneladas da produção total da pesca selvagem.
Por seu lado, as capturas de peixe branco estão entre as pescarias certificadas mais antigas, muitas das quais estão envolvidas no programa do MSC há mais de duas décadas. O peixe branco é o maior grupo de espécies no programa do MSC. Representa 40% do total de capturas.
No seu último Relatório Anual do Peixe Branco Sustentável, o MSC revela que, em 2023-24, mais de 550 mil toneladas métricas de produtos à base de peixe branco com o selo do MSC foram vendidas em todo o mundo. Desse total, a maior parte do peixe branco com o selo azul do MSC é vendido congelado.
Programa de pesca sustentável
O Marine Stewardship Council foi criado como um programa de pesca sustentável orientado para o mercado, com o objetivo de resolver o problema da sobrepesca nos oceanos através do envolvimento dos consumidores e de todos os agentes da cadeia de abastecimento.
“Orgulhamo-nos de trabalhar com algumas das pescarias de peixe branco mais bem geridas do mundo, que ajudaram a transformar a cadeia de abastecimento de peixe branco e a preservar as unidades populacionais deste peixe extremamente popular para os consumidores atuais e futuros”, diz ainda Nicolas Guichoux.
Portugal a caminho da sustentabilidade
Portugal lidera há vários anos o consumo de pescado na Europa, com 56,5 quilos per capita. E as espécies de peixe branco são “uma parte significativa do pescado consumido” no nosso país. Entre abril de 2023 e março de 2024, foram comercializadas mais de 15 mil toneladas de peixe branco certificado MSC, distribuídas por 45 marcas.
Os produtos de pescado congelados dominam o mercado (91,2% do volume), refere o Relatório Anual do Peixe Branco Sustentável, seguidos do peixe salgado seco (bacalhau, sobretudo) e do surimi (um alimento feito à base de carne ou pasta de peixes brancos).
Grandes retalhistas como o Lidl, Continente e ALDI “adotaram políticas de compra sustentável”, diz o MSC, enquanto marcas como a “Riberalves e Iglo expandiram as suas ofertas certificadas”.
O bacalhau é a espécie MSC mais exportada para todo o mundo, principalmente para o Brasil, Luxemburgo, França e Espanha.
O relatório anual agora publicado descreve algumas das capturas de peixe branco de longa data no programa do MSC, incluindo a captura de bacalhau do Pacífico no Mar de Bering e nas Ilhas Aleutas.
Observadores nas embarcações
A gestão dinâmica das pescas “ajudou a responder ao declínio das unidades populacionais de peixes causada pelas ondas de calor marítimas em 2020”, diz ainda o MSC, que garante que “as unidades populacionais recuperaram rapidamente” fruto da sua atividade de verificação.
A captura de peixe-lapa da Islândia com certificação MSC é um exemplo. Os seus responsáveis utilizaram aplicações móveis para o registo de diários de bordo, o que deu origem ao encerramento de determinadas zonas de pesca, para evitar a sobrepesca.
E foram implementadas proibições de capturas, fruto, também, do aumento do número de observadores nas embarcações, com vista também a reduzir as capturas acessórias, ou seja, capturadas acidentalmente, refere o MSC.