Portugal lidera descarbonização no sul da Europa com 71% de eletricidade renovável, embora com críticas ao nível local

O nosso país alcançou 71% de eletricidade renovável em 2024, liderando no sul da Europa. Porém, os grandes projetos enfrentam oposição em comunidades locais. Saiba mais aqui!

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Em 2024, Portugal alcança posição dianteira na transição energética no sul da Europa, com 71% do consumo nacional de eletricidade proveniente de fontes renováveis.

Em 2024, Portugal consolidou-se como referência na transição energética no sul da Europa, com 71% do consumo nacional de eletricidade proveniente de fontes renováveis. Este marco foi alcançado graças à crescente aposta em energia hidroelétrica, eólica, fotovoltaica e biomassa.

Caminhos até à conquista da liderança em energia renovável no sul da Europa

A redução drástica das emissões de dióxido de carbono, que passaram de 3,7 milhões de toneladas em 2023 para 1,9 milhões no ano passado, foi destacada pela organização ambientalista Zero como um recorde histórico e explicam parte do caminho de Portugal até chegar aqui.

Este progresso coloca Portugal ao lado de países como a Áustria, a Suécia e a Dinamarca no ranking europeu de energias limpas. Outros países do Sul da Europa também avançam, como Espanha e Croácia, embora ainda distantes da meta portuguesa, enquanto outros, como Itália e Grécia permanecem atrás neste campo, sem progressos tão notórios.

O sucesso português deve-se, em grande parte, à continuidade de políticas públicas favoráveis às energias renováveis desde 2005, independentemente das alternâncias políticas entre o Partido Socialista (PS) e o Partido Social Democrata (PSD). Sob a liderança do ex-primeiro-ministro José Sócrates, o país iniciou a expansão das energias renováveis com grandes projetos hidroelétricos e eólicos. António Costa, que assumiu o Governo em 2015, consolidou esta trajetória, com medidas como o encerramento antecipado das centrais a carvão em 2021 e a agilização de processos de licenciamento para projetos de menor dimensão.

Em 2024, os dados da Rede Elétrica Nacional (REN) mostraram que a produção de eletricidade renovável foi sustentada por centrais hidroelétricas (28%), eólicas (27%), fotovoltaicas (10%) e biomassa (6%). Os planos futuros incluem o desenvolvimento da energia eólica offshore, particularmente em plataformas flutuantes adaptadas às águas profundas da costa portuguesa.

Embora o Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) antecipe a neutralidade carbónica para 2045, cinco anos antes do prazo inicial, nem todos os objetivos avançam com a mesma celeridade. O transporte, a climatização e a refrigeração ainda dependem significativamente de combustíveis fósseis, o que limita o impacte global das renováveis no consumo final de energia.

No entanto, o consenso político tem sido crucial para garantir estabilidade e continuidade das políticas públicas. O atual Governo de Luís Montenegro, de centro-direita, manteve as metas traçadas pelo executivo anterior, incluindo o objetivo de alcançar 93% de eletricidade renovável até 2030.

O desafio de equilibrar progresso energético com justiça ambiental e inclusão social

Apesar dos avanços, a transição energética não está isenta de controvérsias. Grandes projetos, como a central solar flutuante em Cabril, promovida pela Voltalia, têm gerado resistência em comunidades locais. Com uma capacidade instalada de 33 megawatts, o projeto encara críticas por interferir em atividades tradicionais, no turismo náutico e no uso do território.

António Lopes, presidente da Câmara de Pedrógão Grande, afirmou que a população local está contra o projeto, destacando também o impacte potencial na operação de hidroaviões usados no combate a incêndios, um tema sensível na região, que viveu a tragédia dos fogos de 2017.

A central fotovoltaica em Santiago do Cacém, promovida pela Iberdrola, também defrontou protestos devido ao seu impacte ambiental. Com capacidade prevista de 1200 megawatts, o projeto recebeu luz verde da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), mas lida com recursos judiciais. Os grupos do ProtegeAlentejo criticam a falta de consideração por Instrumentos de Gestão Territorial (IGT) e apontam para o risco de "monocultura de painéis solares".

Além disso, o papel dos pequenos produtores e das comunidades de energia tem sido secundarizado. Apesar de uma legislação aprovada em 2019, apenas em 2023 foram introduzidos estímulos fiscais para incentivar a venda de energia produzida por particulares. Alerta-se, aliás, que a transição energética deve ser inclusiva e beneficiar todas as partes envolvidas, desde as empresas até aos cidadãos.

conflitualidade de interesses fotovoltaica
De entre as várias fontes de energia, a fotovoltaica ocupou 10% do total de energia renovável em 2024. Ainda assim, há muito a fazer, sobretudo no domínio do conflitualidade de interesses.

Portugal mostrou que é possível liderar uma transição energética rápida e eficaz, mas tem agora o desafio de conciliar metas ambiciosas com os interesses das populações locais e a preservação ambiental. O equilíbrio entre progresso tecnológico e inclusão social será crucial para manter o apoio público à descarbonização.