Portugal continua a registar o menor número de incêndios e a menor área ardida da década

O território nacional continental registou até ao final do mês de agosto a menor área ardida e o menor número de incêndios desde 2014. O uso negligente do fogo continua a ser a principal causa das ignições.

incêndios Portugal
Número de incêndios e área ardida continuam a ser os mais baixos da década.

Portugal Continental registou desde o início do ano e último dia do mês de agosto, um total de 4.457 incêndios rurais e viu arder 10.294 hectares, segundo o mais recente relatório publicado ontem (10) pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Os mais de dez mil hectares de área ardida distribuem-se entre povoamentos florestais (3.655 ha), matos (5.126 ha) e áreas agrícolas (1.513 ha). Estes resultados representam uma diminuição de 53% no número de ignições em relação à média dos últimos 10 anos e uma redução de 86% na área ardida.

Assim, até ao dia 31 de agosto, foi registado o valor mais reduzido em número de incêndios e o valor mais reduzido de área ardida, desde 2014. Nesse ano registou-se o segundo valor mais baixo da década, com 17.481hectares queimados.

A maioria dos incêndios ocorreu no mês de agosto, com um total de 1.757 ocorrências de incêndio, o que representa 39% do número total registado no ano. Foi também neste mês que se deu a maior área ardida, com um total de 5.843 hectares calcinados pelo fogo, o que corresponde a 57% do total de área ardida. Ardeu mais em agosto do que em todo o resto do ano. Em julho tinham ardido 1.569 hectares.

Os incêndios de pequena dimensão são os mais frequentes (85% do total), mas para estas cifras muito contribuem os grandes incêndios, ou seja, aqueles que atingiram áreas superiores a 100 hectares. Foram 13 os que se registaram e se enquadram nesta categoria. Juntos são responsáveis por 43% do total da área ardida, 4.474 hectares. Assinala-se a ocorrência de um incêndio ultrapassou os 1.000 hectares.

Os maiores incêndios deram-se nos concelhos de Vimioso (1.936 ha), Bragança (446 ha), Valença (388 ha), Penafiel (308 ha) e Freixo de Espada À Cinta (250 ha).
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Os incêndios de menor dimensão continuam a ser os mais frequentes. O maior incêndio até ao momento deu-se no concelho de Vimioso.

Quais são as regiões mais afetadas?

O maior número de incêndios continua a dar-se nos distritos do Porto (845), Viana do Castelo (464) e Braga (373). Também as Comunidades Intermunicipais (CIM) com maior número de ignições continuam a ser a Tâmega e Sousa (552), Área Metropolitana do Porto (501) e Alto Minho (464).

Os distritos que conheceram maiores áreas ardidas foram Bragança com 2.857 hectares, cerca de 28% da área total ardida, seguido de Viana do Castelo com 1.637 hectares (16% do total) e de Beja com 837 hectares (8% do total). Já as CIM mais afetadas foram Terras de Trás-os-Montes com 2.552 hectares, cerca de 25% da área total ardida, seguido da região do Alto Minho com 1.637 hectares (16% do total) e do Tâmega e Sousa com 816 hectares (8% do total).

Os concelhos que apresentam maior número de incêndios localizam-se todos a norte do Tejo, à exceção dos concelhos de Abrantes e Almada, e caracterizam-se, maioritariamente, por terem uma elevada densidade populacional, a presença de grandes aglomerados urbanos ou a utilização tradicional do fogo na gestão agroflorestal. Destaque para Arcos de Valdevez com 516 ocorrências registadas.

Na área ardida, ainda que não seja tão clara a expressão dos concelhos nortenhos, estes estão em evidente maioria (13 dos 20 mais afetados). Destaque para Miranda do Douro com 1.448 hectares ardidos.

Os territórios a norte do rio Tejo, com uma cultura mais ligada ao fogo, continuam a registar o maior número de incêndios e área ardida.

O uso do fogo continua a ser a principal causa principal responsável

O uso do fogo continua a ser a principal causa dos incêndios em Portugal, 35% do total. O incendiarismo representa 31%, 16% são resultado de acidentes, 5% por reacendimentos e 12% por outras causas apuradas. Apenas 1% são consequências de causas naturais (quedas de raios).

O relatório evidencia que a grande maioria dos incêndios ocorreu em períodos de severidade meteorológica baixa (37% na classe mais baixa) e que apenas 93 se deram em períodos de alta severidade meteorológica, caracterizados pelas temperaturas mais elevadas, vento forte, ausência de precipitação e humidade relativa baixa.

Um ano positivo no combate ao flagelo dos incêndios rurais

É mais do que sabido que a história da cultura portuguesa rural e agrícola está intimamente relacionada com o uso do fogo para a gestão agroflorestal e, por isso, estes resultados não podem deixar de ser vistos como positivos, apesar do uso negligente deste ainda ser o principal responsável pelas ignições.

Mesmo que muito ainda haja a fazer em matéria de políticas públicas que possam, por exemplo, remunerar os serviços que os espaços agroflorestais oferecem, de sensibilização e educação para o risco, na regulamentação, ou até na prevenção estrutural, estes resultados carregam um ânimo para o futuro.

Para que se tenha noção da dimensão dos resultados obtidos até ao final de agosto, a média anual no decénio (71.468 ha) é largamente superior aquela registada este ano.

O período mais crítico do ano está ultrapassado, já lá vai a canícula e o outono climatológico já teve início, mas o perigo de incêndio continua em muitos concelhos (principalmente a norte do rio Tejo) nas classes máxima ou muito elevada.

Nos próximos dias ainda muitos locais do interior norte vão conhecer temperaturas superiores a 30 ºC, sobretudo no início da próxima semana, que aliado às baixas humidades do ar e o vento moderado a forte, que se faz pautar sobretudo no litoral, poderão propiciar a propagação de incêndios, que podem adotar comportamentos extremos, ainda durante o mês de setembro, pelo menos até que a humidade dos combustíveis se mantenha em níveis baixos.