Portugal apresenta em Óbidos projeto de investigação BioFago, o pomar do futuro

O maior evento mundial dedicado à pera – o Interpera - acontece esta semana, em Óbidos, e recebe o ministro da Agricultura. Portugal é um dos principais produtores na Europa, especialmente a variedade Pera Rocha, símbolo do Oeste.

peras
Portugal possui 11.297 hectares dedicados ao cultivo de pereiras, dos quais 84% estão concentrados na região do Oeste, abrangendo 2.158 explorações agrícolas.

O Interpera, o maior congresso internacional dedicado à pera, acontece esta semana (26 e 27 de junho) em Óbidos, organizado pela AREFLH - Assembly of European Horticultural Regions, em colaboração com a ANP - Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha.

Entre visitas técnicas a pomares, centrais de distribuição e centros de investigação e no meio dos debates com convidados nacionais e estrangeiros sobre os desafios e as oportunidades na produção de pera, a organização do Interpera quer trazer a debate o pomar do futuro.

O momento alto dessa discussão é a apresentação do projeto português BioFago, levado a cabo por um consórcio que desenvolveu um agente antibacteriano natural para mitigar o fogo bacteriano (causado pela bactéria Erwinia amylovora), uma doença devastadora para muitas árvores de fruto, entre elas as pereiras.

BioFago é financiado pelo PRR

A investigação, liderada, entre outras entidades, pela Universidade do Porto, o COTHN - Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional, a ANP - Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha e o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), é financiada a 100% pelo PRR - Plano de Recuperação e Resiliência. Tem um custo total de 278.105,28 euros e deverá estar concluída em 30 de setembro de 2025.

A bactéria Erwinia amylovora é o agente causal do fogo bacteriano, que afeta várias espécies vegetais, em particular da família das rosáceas, designadamente pereiras, macieiras, marmeleiros e algumas espécies de ornamentais.

Provoca importantes danos económicos e, no limite, a perda total de produção e dos pomares. Em Portugal e, em especial, no Oeste, já foram arrancadas largos milhares de plantas em dezenas de hectares de pomares nos últimos anos, devido à doença.

A bactéria transmite-se a partir de árvores doentes e pode ser transportada através da chuva, vento, insetos, instrumentos de poda, pássaros, máquinas e equipamentos agrícolas, assim como por via de material vegetal para plantação infetado ou, até, pelo homem.

Hugo Oliveira, docente e investigador da Universidade do Minho, vai explicar aos participantes no Interpera, portugueses e estrangeiros, as vantagens da nova estratégia de utilização do BioFago.

O último Recenseamento Agrícola do INE, de 2019, revela que Portugal possui 11.297 hectares dedicados ao cultivo de pereiras, dos quais 84% estão concentrados na região do Oeste, abrangendo 2.158 explorações agrícolas.

Nos últimos 12 anos, a produção média de pera foi de 174.286 toneladas por ano, das quais 60% são destinadas à exportação para 20 países - Europa (50%), Marrocos (20%) e Brasil (20%). As receitas anuais do setor ascendem a cerca de 85 milhões de euros.

Pera Rocha
A bactéria Erwinia amylovora é o agente causal do fogo bacteriano, que afeta várias espécies vegetais, em particular da família das rosáceas, designadamente pereiras, macieiras, marmeleiros e algumas espécies de ornamentais.

O primeiro dia do congresso Interpera é inteiramente dedicado a visitas técnicas a pomares, centrais de distribuição e centros de investigação da região Oeste, berço da produção da variedade Pera Rocha, onde os participantes poderão conhecer o que de melhor se faz no setor em Portugal.

No segundo e último dia do evento, que decorre no Auditório Praça da Criatividade, em Óbidos, terão lugar os debates e mesas redondas com especialistas nacionais e internacionais em agricultura.

O primeiro painel reúne representantes da União Europeia (UE) dos principais países europeus produtores de pera. Vão analisar a última campanha e revelar as previsões da primeira colheita deste ano. Entre os oradores estarão Manel Simon, da Afrucat (Espanha), Tomas Bosi, do CSO (Itália), Vincent Guérin, da ANPP (França), Luc Vanoirbeek, do VBT (Bélgica), e Wilco van den Berg, do Groenten, da Fruit Huis (Países Baixos).

Outros dos oradores do congresso é o belga Jef Vercammen, da empresa Pcfruit, que falará da combinação ideal de produção de pera para o futuro, das variedades mais resistentes a pragas e doenças, da mecanização e do uso eficiente da água nesta cultura.

Uma nova tecnologia de tratamento de água

Também o consumo de peras estará em análise. Serão abordadas as tendências atuais, as preferências de saúde, conveniência e sustentabilidade. Este painel será dedicado ao valor da pera e a formas mais eficientes de comunicar este valor, com a participação de María José Millán, Diretora Geral da AGR Food Marketing.

As alterações climáticas, a escassez de água em algumas zonas da UE e a saúde dos solos são outros desafios em destaque. Javier Meyer, Diretor na AQUA4D, vai apresentar uma tecnologia avançada de tratamento de água para gestão de salinidade e Isabel Brito, da Universidade de Évora, discutirá a importância da saúde do solo e do microbioma.