Porta-aviões com substâncias tóxicas afundado no Atlântico
Foi o fim controverso de um dos símbolos, primeiro do poderio militar francês e depois do poderio militar brasileiro, que continha nas suas entranhas material considerado altamente tóxico. Fique a saber mais sobre este assunto, connosco!
O porta-aviões “São Paulo”, da Marinha do Brasil, foi afundado na passada sexta-feira (3), ao largo do Estado brasileiro do Pernambuco, a cerca de 350 km da costa. Esta embarcação navegava há cerca de 5 meses, praticamente à deriva, em círculos nas águas da Zona Económica Exclusiva do Brasil, depois de uma viagem frustrada à Europa.
A referida viagem, que teria como destino final a Turquia, aconteceu no âmbito da venda do porta-aviões a uma empresa turca, especializada no desmantelamento de embarcações. Em agosto do ano passado, as forças armadas brasileiras venderam o último porta-aviões da sua frota à referida empresa, por uma soma de cerca de 2 milhões de dólares norte-americanos (USD).
Contudo, a embarcação nunca chegou ao seu destino final, já que quando se encontrava próxima do estreito de Gibraltar foi obrigada a voltar para trás, pois o governo turco proibiu a sua entrada em qualquer porto daquele país, devido às 9,6 toneladas de amianto que estavam no casco da embarcação (valor que segundo algumas fontes, poderia ser três vezes superior) e às 644 toneladas de tintas e materiais considerados perigosos para o meio ambiente, espalhados um pouco por todos os componentes do navio.
Não bastasse a recusa turca, quando voltou a estar perto da sua última pátria também viu recusada a sua entrada nos portos brasileiros, devido à sua potencial pegada ambiental. Desde então que o navio ficou praticamente abandonado, ao largo do Porto de Suape, junto à cidade pernambucana de Recife.
Custos e implicações ambientais desta medida
Segundo a Marinha brasileira, o “procedimento foi conduzido com a necessária competência técnica e segurança” de forma a “evitar prejuízos logísticos, operacionais, ambientais e económicos ao Estado Brasileiro”. Contudo, o naufrágio programado do navio está envolto em várias polémicas, a vários níveis.
Por um lado, esta ação foi autorizada pela Justiça Federal, mas com o Ministério Público a tentar impedir a execução devido às referidas questões ambientais. A Marinha brasileira por seu lado, afirmou que o afundamento do navio era inevitável, a curto prazo, já que o casco estaria irremediavelmente danificado, situação que ameaçava a estabilidade e a navegabilidade do navio.
Aquele que chegou a ser o maior navio de guerra da América do Sul (tinha 266 m de comprimento, capacidade para 1300 tripulantes e 30 aviões de combate) foi construído em França, entre 1957 e 1960, tendo servido com o nome de “Foch”. No início do século foi adquirido pela Marinha do Brasil, por uma quantia a rondar os 12 milhões de USD.
Contudo, a sua vida útil no Hemisfério Sul foi de apenas 17 anos, já que os incontáveis problemas mecânicos associados aos elevados custos de manutenção e modernização levaram a que as autoridades brasileiras abdicassem da posse do navio em 2017.
As preocupações ambientais com a solução encontrada para o navio serão motivo de estudos nos próximos anos. Acredita-se que a enorme quantidade de produtos tóxicos, presentes no navio, pode ter implicações diretas na fauna e flora submarinas daquela região.