Porque estão certos lagos a ficar menos azuis?
Os lagos, a nível mundial, podem estar a sofrer mudanças na sua coloração, situação que pode estar a ser potenciada pelas alterações climáticas. Fique a saber mais sobre este assunto, connosco!

Os lagos de todo o mundo, e especialmente os azuis, podem ter a sua cor original em risco. Esta afirmação está associada a um estudo recém-publicado na Geophysical Research Letters, que apresenta o primeiro grande inventário das cores dos lagos a nível mundial. Sabe-se assim que os lagos azuis estão a ficar cada vez mais verde-acastanhados, situação anómala que pode ter impactes severos nos ecossistemas.
Os lagos que apresentam uma tonalidade azul representam menos de um terço do total de lagos no mundo e apresentam esta cor por serem tendencialmente mais profundos, por se situarem em latitudes superiores, tanto a Norte como a Sul, em regiões mais frias e onde se registam valores mais elevados de precipitação. Já os lagos com cores mais verdes-acastanhadas, a maioria (69% do total de lagos), estão distribuídos por regiões mais secas no interior dos continentes ou junto à linha de costa.
Para catalogar os lagos através das cores mais comuns foram utilizadas mais de 5 milhões de imagens de satélite, de mais de 85 mil lagos e lagoas distribuídos por todo o mundo, de um período temporal de 7 anos (2013 a 2020), o maior estudo jamais feito neste campo da ciência.
É sabido pela comunidade cientifica que já há alguns fatores que interferem na cor de um lago, como é o caso das algas e dos sedimentos, mas este novo estudo indica que fatores como a temperatura do ar, a precipitação, a profundidade dos lagos, bem como a elevação do seu fundo podem desempenhar papéis importantes nas cores que os lagos apresentam.
Climate change is making lakes less blue. Blue lakes in North America and Europe will likely turn green-brown as global temperatures rise. https://t.co/IGt1Z9DT5f pic.twitter.com/5KGkVtQunI
— SMU Dedman College (@SMUDedman) September 26, 2022
Consequências possíveis
As consequências deste fenómeno podem ser variadas e implicar os seres vivos a múltiplos níveis. Se a água de um determinado lago estiver a ser utilizada para abastecimento da rede pública, o facto de estar a ficar mais quente e mais verde implicará provavelmente tratamentos mais caros. Já do ponto de vista da presença de espécies piscícolas, é provável que as populações diminuam drasticamente.
Sabe-se que a cor dos lagos muda tendo em conta a época do ano. Estas mudanças sazonais estão associadas ao crescimento e proliferação de algumas espécies de algas. Se a temperatura da água dos lagos azuis subir, tendo em conta a subida das temperaturas do ar em certos locais, é possível que certas espécies de algas se desenvolvam mais frequentemente, mudando a tonalidade dominante.
Os Grandes Lagos Norte-Americanos, tal como alguns lagos localizados em regiões remotas próximas do Ártico, têm experimentado estas condições: por um lado, são das massas de água que têm registado um maior aumento da temperatura, por outro, e em simultâneo, tem-se assistido à proliferação anormalmente acelerada de algas.
É inegável que esta mudança pode ter consequências graves nos ecossistemas associados. Mas, para além disso, pode ter consequências a nível recreativo e cultural. Locais onde as paisagens são tradicionalmente associadas a lagos de tons azuis, se registarem este tipo de mudança podem sofrer algum tipo de rejeição, tanto pelos habitantes locais como pelos turistas.