Porque está tanto vento nas tardes de verão? Saiba o que origina o fenómeno popularmente conhecido por Nortada!
A nortada é o vento de norte ou de noroeste que sopra na costa ocidental de Portugal continental. Atinge uma intensidade máxima durante a tarde e é mais comum nos meses mais quentes do ano, entre maio e setembro.
Normalmente, o anticiclone dos Açores manifesta-se a oeste da costa de Portugal continental ao longo da estação do verão. Este centro de altas pressões, aliado à depressão térmica sobre o deserto norte-africano, condiciona de maneira decisiva os estados do tempo vividos durante a época estival.
Já no inverno, a história é outra no que toca às condições climático-meteorológicas. Com o anticiclone açoriano numa posição geográfica mais meridional, o Continente fica exposto à passagem de distintas massas de ar.
Apesar do vento do Noroeste soprar com muita frequência ao longo do ano, os ventos provenientes do quadrante Norte intensificam a sua passagem pela nossa geografia continental durante a estação mais quente do ano (verão). Os ventos de Norte e Noroeste incidem em Portugal continental em cerca de 82% dos meses de julho e agosto.
O que é a nortada?
Ao longo do verão os ventos de Norte e Noroeste são dominantes e a sua velocidade intensifica frequentemente durante a tarde. Este fenómeno meteorológico - Nortada - são ventos de direções entre 315 º e 45 º, com velocidades maiores ou iguais a 7 metros/segundo. Manifesta-se também na temperatura à superfície do mar, favorecendo a formação de nevoeiros na faixa costeira ocidental.
A Nortada atinge em cheio a costa ocidental portuguesa durante praticamente toda a duração dos verões e é fator igualmente explicativo da formação de uma corrente de deriva litoral Norte-Sul, bem como temperaturas da água do mar relativamente baixas.
Os valores mais baixos da temperatura da água ao largo da costa de Portugal continental, sobretudo na Costa Norte do nosso país, refletem o contexto geofísico associado à nortada que sopra durante o verão e que contribui para a circulação oceânica com o efeito de Coriolis.
Isto significa que, no verão, dá-se um desvio para a direita da corrente estimulada pela nortada, o que desencadeia o afastamento das águas superficiais em direção ao largo e à subida das águas mais profundas próximas à costa, com temperaturas mais baixas.
O vento na praia e o papel do anticiclone dos Açores
Quando o anticiclone dos Açores se posiciona a noroeste de Portugal (gradiente de pressão fraco entre 1010-1020 hPa), o vento sopra mais forte, quase de maneira perpendicular à costa, sobretudo entre as 12:00 e as 15:00, começando a afastar-se da praia a partir das 16:00 e rodopiando lentamente para a direita.
Nesta situação, o vento não se manifesta na praia de um modo geral, mas é possível observar-se pequenas ondas de espuma branca no mar, reflexo da presença de vento moderado.
Contudo, quando o anticiclone dos Açores se situa a norte da Península Ibérica, a pressão atmosférica exibe valores entre 1012 e 1018 hPa. Quando isto sucede, por norma, forma-se nevoeiro a norte do Cabo da Roca que se prolonga sobre o mar.
O vento matinal é fraco (inferior a 11 km/h), mas a partir do início da tarde começam a aparecer as pequenas ondas de espuma branca no mar. A partir das 14:00 o vento aproxima-se da praia, aumenta de intensidade (28 a 37 km/h), sopra de Noroeste e diminui de intensidade ao final da tarde.
Uma terceira possível situação ocorre quando o anticiclone dos Açores e a depressão térmica sobre a Península Ibérica “entalam” Portugal, o que faz com o anticiclone se desdobre em crista desde o Norte do país até ao Golfo da Biscaia.
Isto dá origem a dias com vento muito forte de Nor-Noroeste, com velocidades superiores a 35/45 km/h, e em que as rajadas máximas podem atingir desde 65 a 90 km/h ao longo da tarde.
Um necessário equilíbrio atmosférico
Sabe-se que o ar por cima da terra aquece muito mais rápido do que o ar sobre o mar. Para que exista um equilíbrio atmosférico, o ar quente sobre a terra sobe e o ar mais frio sobre o oceano desce, o que provoca a movimentação de massas de ar, e daí surge o vento.
As diferenças de pressão atmosférica fazem com que as massas de ar mais quente se desloquem e se expandam e que as mais frias fiquem mais comprimidas. É daqui que resulta a nortada, a ventania popularmente conhecida do verão português!