Por favor, não despreze as urtigas! Saiba como usá-las no jardim e na alimentação
Se souber como lidar com a planta, ela dá tudo o que têm: fertilizantes para o solo e vitaminas que podem ser consumidas numa rica variedade de pratos culinários. Sabemos que a tarefa é espinhosa, mas fornecemos, já seguir, as ferramentas de que precisa para aproveitar todos os seus benefícios.
As urtigas quando invadem o jardim ou a horta são uma dor de cabeça. Não é apenas porque as suas folhas cobertas de pelos ardem em contacto com a pele, provocando comichão e vermelhão. Pela sua natureza invasora, crescem também rapidamente, roubando nutrientes às nossas plantas e legumes. Como se não bastasse, dão ainda abrigo aos pulgões, capazes de destruir as nossas culturas se não as conseguirmos controlar.
Têm tudo para serem detestáveis, certo? Errado! Encaradas durante séculos como autênticas pragas, as urtigas foram injustamente desprezadas e eliminadas de jardins e pomares.
A convivência com as urtigas é delicada, mas se as tratar com carinho, elas baixam a guarda e dão tudo o que têm: fertilizantes para o solo do jardim e, ainda, raízes, caules, folhas e flores ricos em proteínas, vitaminas e minerais, que podem ser consumidos numa diversidade de receitas: infusões, sopas, batidos, pesto, saladas ou uma variante original de hortícola cozinhada.
Está na hora, portanto, de lhes darmos o devido valor. Sabemos que é uma tarefa espinhosa, mas não desista. Continue a ler porque iremos fornecer todas as ferramentas de que precisa para se reconciliar finalmente com as urtigas.
Um cantinho especial para as urtigas
Apesar dos muitos e bons motivos para deixar esta planta em paz, não convém exagerar. A urtiga propaga-se no subsolo e é necessário controlá-la para não tomar conta da horta ou do jardim. Reserve um recanto isolado, onde possam crescer sem importunar as outras plantas.
A cobertura morta retém a humidade e impede a luz de chegar às sementes de urtiga, inibindo a sua germinação para lá da fronteira que lhe foi atribuída.
É o quanto basta para criar uma horta paralela muito útil aos pássaros, que comem as sementes da urtiga, ou lagartas de borboletas, que se alimentam das suas folhas.
Eliminar o excesso e ficar com essencial
Uma parte do problema está resolvida. Mas o que fazer quando já se espalharam por todo o lado? Se a quantidade de urtigas ainda não é preocupante, pode tentar removê-las manualmente. Nunca é demais avisar para não chegar perto delas sem luvas grossas, botas, mangas e calças compridas. Todo o cuidado é pouco e não queremos irritá-las.
Em casos mais complicados, poderá aplicar herbicidas naturais, como vinagre branco, diretamente nas plantas. Esta solução, no entanto, acarreta perigos para outras culturas, que podem ficar também queimadas. É por isso importante uma precisão cirúrgica.
Poderá ainda alternar as culturas de uma estação para outra. Ao variar os nutrientes presentes no solo, reduz as condições propícias para o crescimento das urtigas, que apreciam solos húmidos e abundantes em azoto.
Prevenir antes de remediar
Lembre-se de que, sem paciência e persistência, não há recompensa. As urtigas são difíceis de derrotar e, por isso, o melhor remédio é a prevenção. Depois do terreno devidamente limpo, é obrigatório fazer a manutenção. A limpeza regular das ervas daninhas evita o surgimento e a dispersão das sementes.
A rega em demasia, em contrapartida, favorece o seu surgimento. Certifique-se ainda que o solo tem boas condições de drenagem. Sempre que possível, cultive em zonas ensolaradas e bem iluminadas, pois as urtigas gostam de ficar à sombra onde a humidade é mais elevada.
Não se esqueça, por fim, de desinfetar bem as ferramentas de cada vez que as usar no jardim para eliminar quaisquer sementes de urtiga que possam ter ficado.
Não deite fora as urtigas recolhidas
Agora que tem um recanto especialmente destinado às urtigas, use e abuse delas para enriquecer o solo e aproveitar os seus benefícios na alimentação. Poderá, desde logo, utilizá-las num composto natural. A compostagem, no entanto, deve ser feita num recipiente fechado e quente para eliminar completamente as sementes e impedi-las de regressar à terra do jardim.
As folhas dão ainda para fazer um adubo altamente nutritivo. Misture um quilo, picado grosseiramente, em 10 litros de água e deixe fermentar durante 14 dias. O processo está concluído quando já não há mais bolhas de ar a subir até à superfície.
O líquido deve depois ser diluído em água na proporção de um para dez e colocado no regador para ser aplicado diretamente nas plantas. O inconveniente é o cheiro pestilento, por isso, mantenha o preparado bem vedado e longe da casa e não o utilize nas plantas de interior.
Uma rica opção na cozinha
Se souber lidar com o temperamento peculiar das urtigas, elas nunca serão inconvenientes. Pelo contrário: as folhas, nos pratos culinários, são ricas em vitaminas A, C, K, ferro, magnésio, potássio e flavonoides. E o sabor não difere muito dos espinafres, das couves ou dos brócolos, mas irá sentir um ligeiro formigueiro na boca.
Truques também não faltam para torná-la inofensiva na cozinha. Os pelos podem ser domesticados se forem alisados na parte superior da planta. Folhagem e rebentos, acabados de colher, podem ser, em alternativa, colocados entre duas folhas de papel vegetal e enroladas num rolo apertado. Mais fácil ainda é processar tudo num copo liquidificador.
Se ainda não está totalmente convencido, talvez não saiba que há uma cidade portuguesa completamente rendida aos encantos das urtigas.
Queijadas, alheiras, queijos, recheios para bombons de chocolate, azeite aromatizado, pão ou licores são algumas das iguarias já certificadas e comercializadas. Confesse, aqui entre nós, ficou com água na boca, não foi?
Referências do artigo:
Waechter, Dorothée. Solamente mala fama: por qué la ortiga es útil en el jardín. Lavoz.com (2023)
Jimenez, Mayka. ¿Por qué salen ortigas en el huerto y cómo eliminarlas? Jardineriaon.com (2024)