Poderão os agricultores em fúria mudar o paradigma da agricultura na Europa?
Enquanto caminhamos a passos largos para mais uma eleição europeia, os protestos dos agricultores mantêm-se, podendo levar a uma mudança na política, no sistema de produção alimentar e até no sistema político do continente. Fique a saber mais, aqui!
O descontentamento que grassa no seio do setor agrícola e pecuário já levou a inúmeros protestos, a nível europeu, ao longo do último ano, mas está, em última análise, a levar muitos a ponderar o abandono da atividade, algo que pode levar a uma mudança significativa na forma em como a Europa produz os seus alimentos.
Se, por um lado, a magnitude e a dimensão dos protestos pode ter como consequência o enfraquecimento dos objetivos climáticos para os próximos anos, por outro, verifica-se um abalar da unidade europeia em relação à grande Rússia, na medida em que a guerra com a Ucrânia não tem perspetivas de acabar tão cedo.
Os protestos das últimas semanas, que levaram à invasão das ruas de várias capitais europeias, já tiveram como resultado algumas concessões por parte das autoridades, que podem ter impactes diretos no ambiente. Aparentemente, voltou a ser permitido o uso de certos pesticidas e fertilizantes na atividade agrícola, cujo uso estava praticamente interdito devido a questões ambientais.
Contudo, as preocupações dos agricultores não ficam por aí: a entrada de produtos cultivados com mão de obra mais barata, seja do leste da Europa ou do Norte de África, bem como o excesso de regulamentação europeia continuam a ser temas objeto de discussão.
Futuro da agricultura no velho continente
O futuro desta atividade é sempre incerto, pois depende sempre do comportamento de vários fatores, que podem ser de ordem natural ou humana. Do ponto de vista humano, tem-se registado de forma paralela uma diminuição sustentada da população ligada ao setor primário e um progressivo envelhecimento dessa população.
Os custos de produção não param de subir, numa escalada que teve o último grande salto com o início da guerra na Ucrânia. Os custos com rega e eletricidade mais do que duplicaram em 2023 e os custos com fertilizantes triplicaram no mesmo período, exatamente quando a União Europeia cortou os apoios e subsídios aos agricultores, especialmente aqueles que não adotaram métodos de produção mais ecológicos.
Do ponto de vista político, é a extrema-direita que mais lucra com o “estado a que isto chegou”. Caracterizam esta situação como um confronto entre a elite arrogante que nunca saiu do escritório e o povo simples, que só quer produzir e ter um meio de subsistência. Para esta faixa política, as preocupações ambientais são demasiado punitivas, especialmente para um conjunto de indivíduos que já vive em dificuldades económicas.
Tudo isto são sinais de que a União Europeia, bem como o Parlamento Europeu que sair da eleição deste ano, deve pensar com sabedoria o futuro do setor agrícola a nível europeu. Depois das sucessivas PAC’s, que permitiram a abundância de alimentos à mesa dos europeus, é necessário encontrar soluções que vão ao encontro tanto da economia, como da ecologia. Será necessário um jogo de escalas temporais, em que o curto, o médio e o longo prazo devem ser bem ponderados.