Planalto das Cesaredas: uma marca do cársico no Oeste e um território repleto de história que deve conhecer

O Planalto das Cesaredas é um território repleto de história, com um elevado valor paisagístico e patrimonial e com forte carácter identitário, é um dos maiores refúgios de biodiversidade do Oeste. Fique a conhecer melhor este território!

O Vale Cornaga é um dos ex-líbris da região. As azenhas, as pontes, as fontes e a cascata dão encanto a este lugar que outrora foi bastante movimentado. Fonte: Município da Lourinhã.

O Planalto das Cesaredas é uma unidade territorial com elevado valor paisagístico e patrimonial e com forte carácter identitário, localizada na região Oeste de Portugal Continental. Este é um território de calcário de aproximadamente 49 quilómetros quadrados, localizado entre os concelhos de Lourinhã, Peniche, Óbidos e Bombarral, e que se apresenta como um prolongamento do sistema montanhoso Aire/Montejunto.

A topografia e geomorfologia formam um planalto, relevo de cume aplanado, com uma nivelação que varia sobretudo entre os 130 e os 170 metros de altitude. A povoação de Cesaredas, no concelho da Lourinhã, encontra-se a 150 metros de altitude, sendo o ponto mais alto o talefe das Castelhanas, aos 201 metros acima do nível do mar.

Localizado a baixa altitude na transição entre o maciço de Montejunto e vale Tifónico das Caldas da Rainha, este afloramento cársico inclui-se no distrito bioespeleológico Lusitânico, unidade biogeográfica que inclui os maciços da Arrábida, Estremenho, Sicó-Condeixa-Alvaiázere, Outil-Cantanhede e os afloramentos calcários da Península de Lisboa.

Aqui predominam as formações do período Jurássico Inferior a Superior, entre 180 a 144 milhões de anos, sendo o calcário a única rocha presente. As rochas têm espécies únicas de invertebrados fósseis do Jurássico Médio e Superior.

Conhecem-se pelo menos 170 espécies fósseis do Planalto das Cesaredas, que incluem corais, bivalves, amonites, braquiópodes, equinodermes e raros vertebrados (dinossauros e crocodilomorfos).

Algumas destas espécies são consideradas raras, o que lhe valeu receberem o nome de epíteto específico do planalto, como a Cyathophora cesaredensis, Stomechinus cesaredensis Loriol, Leptophyllia cesaredensis Koby, 1905 e Terebratula cesaredensis.

Os campos de lapiás e a presença de vários algares e grutas marcam um importante espólio arqueológico. Fonte: Município da Lourinhã.

Trata-se de uma importante zona de infiltração de águas, uma vez que a pluviosidade neste território infiltra-se muito facilmente após escorrer pelos calcários à sua superfície, através das diversas fendas, as diáclases.

Do Planalto drena a água para quatro bacias hidrográficas: Rio Grande, Rio de Atouguia, Rio Real e Ribeira de Benfeito, que fazem parte do sistema de pequenas bacias das ribeiras do Oeste.

Lugar de grutas, algares, lapiás e muito mais

Ao longo do Planalto das Cesaredas, podemos observar campos de lapiás e a presença de vários algares e grutas, que guardaram um importante espólio arqueológico. Conhecem-se cerca de 50 grutas, algares e cavidades no Planalto das Cesaredas, entre as quais Lapa da Feteira, Gruta dos Ralis, Algar da Columbeira, Lapa do Suão e Gruta dos Bolhos.

A flora da região caracteriza-se pela existência de grandes manchas com carrascos (Quercus coccifera), povoamentos de pinhal e, sobretudo, de eucaliptal assim como algumas áreas residuais de carvalhos, sobreiros e medronheiros, que fazem parte da floresta autóctone pré-existente neste território.

Este não é um território afoito para a agricultura, ainda que esta também esteja presente a espaços na paisagem. Outrora, teve grande importância a produção de maçãs raineta, de tal forma que era também dado a este fruto o nome "Maçã Reguengueira" por alusão à povoação de Reguengo, de onde provinham.

O planalto das Cesaredas é importante zona de infiltração de águas, uma vez que a pluviosidade neste território infiltra-se muito facilmente após escorrer pelos calcários à sua superfície. Fonte: Município da Lourinhã.

Vivem no Planalto cerca de 7000 pessoas, em vinte povoações. Os principais aglomerados são Moledo, Reguengo Grande, Reguengo Pequeno, Feteira, Fontelas, Cesaredas e São Bartolomeu dos Galegos (Lorinhã), Olho Marinho (Óbidos), Azambujeira dos Carros e Columbeira (Bombarral).

Um Planalto repleto de história

O Planalto deve o seu nome ao facto de no seu centro geográfico, se encontrar uma pequena povoação chamada Cesaredas, clara reminiscência da colonização romana, da qual há vestígios datados do período entre os séculos II a.C. e V d.C.

Este território possui também interesse arqueológico, tendo em conta os vestígios da ocupação humana durante toda a Pré-História, com necrópoles, alguns povoados, como o Castro da Columbeira, e grutas classificadas (mais de uma dezena das 50 existentes) como sítios arqueológicos do Paleolítico e do Neolítico (de há 12 mil anos).

Este foi lugar que a história, a lenda e a tradição popular associaram a caçadas reais e amores clandestinos entre D. Pedro I e D. Inês de Castro. Na periferia do Planalto deu-se a Batalha da Roliça a 17 de Agosto de 1808, aquando das invasões napoleónicas, com o confronto das forças francesas contra britânicas e portuguesas lideradas por Sir Arthur Wellesley.

Planalto das Cesaredas como Área Protegida

Recentemente, o executivo municipal da Lourinhã mostrou a intenção de ver aprovada uma proposta de caracterização de uma área protegida no Planalto das Cesaredas. A proposta, votada em reunião camarária, e que iria entrar em fase de discussão pública, foi suspensa, devido a críticas quanto à definição do polígono em causa, aguardando novos desenvolvimentos.

Este será um passo fundamental, quando solucionadas as divergências em presença, se queremos ver preservado um dos maiores refúgios de biodiversidade da região Oeste, com mais de 700 espécies observadas neste território.