Pitaia ganha raízes no Algarve. E o consumo deste fruto está a aumentar porque faz bem à saúde

A pitaia é um fruto com interessantes características nutricionais e que ajuda a emagrecer. A Universidade do Algarve liderou um estudo para ajudar os agricultores a apostarem nesta cultura, aumentando o rendimento das famílias.

Pitaia
A pitaia é originária da América Central e do México e há vários países a apostar na sua plantação, como o Brasil, Israel e a China. Portugal está a dar os primeiros passos na cultura deste fruto.

A fruticultura é uma área de grande importância em Portugal, com regiões demarcadas de elevado interesse para a produção. Em 2023, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), a área total de culturas permanentes a nível nacional aumentou 2,24%, comparativamente a 2021, atingindo os 761 932 hectares.

Uma das regiões onde a fruticultura mais se destaca é o Algarve e que começa a ser atrativa pelo clima favorável ao cultivo de certas espécies frutícolas exóticas, menos carentes de água, como é o caso da pitaia (Hylocereus sp).

A pitaia é originária da América Central e do México e há vários países a apostar forte na sua plantação, nomeadamente o Brasil, Israel e a China. Portugal está agora a dar os primeiros passos na cultura deste fruto, que se assemelha a uma pinha colorida, pintada de cores garridas no exterior e contendo uma textura espinhosa. O seu interior é branco ou vermelho e está repleto de pequenas sementes, de cor preta. O sabor é comparado ao da melancia, sendo doce e proporcionando uma sensação de frescura a quem o consome.

Amílcar Duarte é docente e investigador do Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento- MED da Universidade do Algarve. É licenciado em Agronomia, mestre em Citricultura e doutorado em Ciências Agrárias, com a especialidade de Fruticultura. Coube-lhe coordenar, em 2022, o projeto “Fruta dragão: validar a capacidade produtiva da pitaia vermelha”.

Esta investigação, financiada pela Política Agrícola Comum (PAC) através do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR2020 de Portugal), no âmbito dos Grupos Operacionais, visou produzir conhecimento com vista a desenvolver a cultura da pitaia em Portugal. O objetivo era - e ainda é - atrair produtores e permitir aumentar o rendimento das famílias mais carenciadas que vivem em meio rural.

Baixas necessidades de água

E tudo parece jogar a favor desse desígnio no nosso país, justamente na região do Algarve, já que as necessidades de rega desta cultura são relativamente baixas, uma vez que se trata de uma cactácea.


Amílcar Duarte, que coordenou este estudo com o apoio do PDR 2020 e instalou um campo experimental com 800 plantas que já dão frutos, localizado em Cacela Velha, no concelho de Vila Real de Santo António, não tem dúvidas: “O cultivo da pitaia é bastante adequado para o Algarve, tendo em conta os ciclos de seca da região”.

Este campo experimental em Cacela Velha acolhe uma coleção de 15 variedades ao ar livre e em estufa, no viveiro Mil Plantas, em Estoi, com o objetivo de caracterizar o crescimento, a floração e a frutificação. E, ao mesmo tempo, adicionando informação existente sobre a cultura, otimizando o seu desenvolvimento na região do Algarve.

Pitaia
A pitaia possui interessantes características nutricionais, ajudando a emagrecer, uma vez que é pobre em calorias, rico em fibras, em vitaminas e em minerais, refere um estudo da Universidade do Algarve.

Apesar de a pitaia ser resistente a longos períodos de seca, e não necessitar de muita rega, existem, ainda assim, algumas condições que não favorecem o seu cultivo na região do Algarve e que foram identificados no estudo levado a cabo pela Universidade do Algarve. A escassez de agentes polinizadores naturais (morcegos, entre outros polinizadores noturnos) é um exemplo, assim como as temperaturas demasiado baixa em algumas localidades ou, ainda, a intensidade da radiação solar durante certos períodos do ano.

Seja como for, o potencial económico desta cultura parece inquestionável. A pitaia é uma planta rústica, com adaptação à secura, o que implica custos reduzidos associados à rega e os agricultores estão atentos a esta oportunidade. Por outro lado, adapta-se ao cultivo ao ar livre e em estufa, em solo e substrato, o investimento é reduzido e os frutos são pagos a preço elevado pelos consumidores.

Consumo de pitaia faz emagrecer

E a procura pela pitaia está a aumentar entre a população, devido aos benefícios para a saúde. “É um fruto com interessantes características nutricionais, que ajuda a emagrecer, uma vez que é pobre em calorias, rico em fibras, em vitaminas e em minerais”, refere o investigador da Universidade do Algarve.

Pitaia
Sendo uma cultura agrícola com viabilidade em pequenas explorações, o cultivo da pitaia pode contribuir para erradicar a pobreza nas regiões, aumentando o rendimento das famílias.

Dentro da diversidade deste fruto, que tem diferentes cores da polpa e da casca, o estudo centra-se na pitaia vermelha de polpa branca e na de polpa vermelha e rosada. Procura-se determinar qual, ou quais, se adaptam melhor ao nosso país, bem como as tecnologias de cultivo mais adequadas nestas condições.

Um rendimento adicional para as famílias

Este projeto de investigação visa ainda dar a conhecer a planta e o fruto aos agricultores e ao público em geral, ao mesmo tempo que se tenta compreender como as várias espécies de pitaia se adaptam às condições climáticas, particularmente do Algarve.

“Estamos a acompanhar a experiência de vários produtores pioneiros desta cultura, em Portugal e em Espanha, e temos ensaios ao ar livre e em estufa, para determinar quais os tipos de solo a que se adapta melhor, assim como quais as formas de condução mais adequadas”, refere Amílcar Duarte.

A investigação realizada na Universidade do Algarve pretende ainda determinar as exigências de rega e de fertilização, sabendo que “as necessidades de água são relativamente baixas, uma vez que se trata de uma cactácea, o que torna o cultivo da pitaia bastante adequado para o Algarve, tendo em conta os ciclos de seca da região”.

Amílcar Duarte espera que “o desenvolvimento do conhecimento e da tecnologia de cultivo desta planta faça com que alguns agricultores passem a cultivá-la e a ter um rendimento adicional”. Espera-se ainda que, “devido às necessidades de mão-de-obra, esta cultura seja recomendável sobretudo para pequenas explorações agrícolas, de caráter familiar”.

Este projeto de investigação agrícola está alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, visto ser uma cultura considerada sustentável, com baixas necessidades de consumo de água, o que contribui para a poupança deste recurso.

Sendo também uma cultura agrícola que terá viabilidade em pequenas explorações agrícolas, pode ainda contribuir para "erradicar a pobreza" nas regiões onde for instalada, aumentando, assim, o rendimento das famílias mais pobres que vivem nos meios rurais.