PEVOLCA deteta atividade anómala no Teide. O geólogo Lorenzo Pasqualini explica se existe risco de erupção
O vulcão Teide, situado na ilha de Tenerife, nas Canárias, tem vindo a apresentar desde 2016 um comportamento considerado anómalo pelos especialistas. Este facto, juntamente com uma série de pequenos terramotos, está a gerar incerteza entre a população.
A 23 de janeiro, os peritos do Comité Científico de Avaliação e Vigilância dos Fenómenos Vulcânicos nas Canárias do PEVOLCA (Plano Especial de Proteção Civil e de Emergência devido ao risco vulcânico na Comunidade Autónoma das Canárias) qualificaram de “anómala” a atividade do vulcão Teide, situado na ilha de Tenerife, sublinhando que os sinais “não parecem ser precursores de um processo eruptivo a curto prazo”.
Embora os cientistas tenham, desde o início, excluído a possibilidade de uma erupção vulcânica iminente, existe alguma preocupação entre o público, nomeadamente devido à forma como esta informação tem sido divulgada em alguns meios de comunicação social. Vamos então esclarecer-lhe a situação, começando por alguns factos interessantes sobre o Teide, um dos vulcões mais fascinantes da Europa.
El Teide, um vulcão gigantesco que se ergue no centro de Tenerife
El Teide, como já dissemos, é um grande vulcão situado na ilha de Tenerife, no arquipélago das Canárias, no Oceano Atlântico. Com 3.715 metros acima do nível do mar, é o pico mais alto de Espanha e é visível a grande distância, mesmo das ilhas mais distantes do arquipélago.
Considerando o território da União Europeia, é também o vulcão mais alto, seguido imediatamente pelo Monte Etna, situado na ilha da Sicília, em Itália.
Protegido pelo estatuto de Parque Nacional, o Teide atrai milhões de visitantes todos os anos e foi incluído na lista do Património Mundial da UNESCO.
Erupções mais recentes nas Canárias e na zona do Teide
Nas Ilhas Canárias, as erupções mais recentes ocorreram nas ilhas mais ocidentais, em particular no oeste da ilha de La Palma, no outono de 2021 (que deu origem ao vulcão Tajogaite), e ao largo da costa de El Hierro (erupção submarina de 2010-2011).
Em 1909, o vulcão Chinyero, situado num dos flancos do Teide, entrou em erupção. Esta foi a última erupção na zona. Outras erupções vulcânicas ocorridas nos últimos séculos, das quais temos registos, são as de 1492, 1704, 1706 e 1798.
O Teide pode voltar a entrar em erupção?
Os geólogos ainda não conseguem prever exatamente quando ocorrerá uma nova erupção vulcânica, mas há várias pistas que nos podem ajudar a perceber se um vulcão entrará em erupção no futuro.
A primeira pista vem da própria história: se um vulcão entrou em erupção várias vezes ao longo da história, como é o caso do Teide, é muito provável que ocorram novas erupções no futuro.
A segunda pista é dada pelo comportamento do vulcão. Um possível aumento dos terramotos, a deformação do solo, um aumento da concentração de gases, são sinais que podem indicar uma reativação do vulcão. São estas as anomalias apontadas pelos especialistas que acompanham o Teide. São entendidas como “anomalias” porque estão longe do que tem sido normal nas últimas décadas.
É por isso que os vulcões são vigiados de perto, porque qualquer alteração dos parâmetros (concentração de gases, deformação do solo, terramotos) pode ser um sinal de que se aproxima uma nova erupção. A questão é que estes sinais nem sempre precedem uma erupção. E é precisamente este o caso do Teide.
O que é que os geólogos descobriram?
Segundo os especialistas, desde 2016, houve mudanças na atividade sísmica, mas também mudanças geodésicas e geoquímicas. Houve, portanto, uma alteração de alguns parâmetros em relação à norma, e é por isso que falamos de uma anomalia.
Estas alterações podem ter aumentado um pouco desde 2022, atribuíveis a um aumento da pressão no sistema hidrotermal sob a ilha de Tenerife, o que, explicam os especialistas, exige um maior controlo do vulcão.
Entre os dados mais relevantes analisados pelos cientistas está a evidência de que, desde 2016, se verificaram alterações nas emissões de gases do Teide, que indicam um aumento da pressão no sistema hidrotermal, e que também podem estar correlacionadas com o aumento da frequência da atividade sísmica registada.
Em suma, há um aumento da pressão nestas zonas, que pode dever-se à chegada de novo magma ou estar relacionado com outras causas.
Vários sismos, agrupados em enxames sísmicos, foram também detetados desde 2023. Todos eles são de baixa magnitude, mas devem ser seguidos de perto porque podem dar pistas sobre o que está a acontecer na zona do vulcão.
Afinal, os enxames sísmicos e as alterações na concentração de gases podem ocorrer sem que haja uma erupção. É por isso que os especialistas insistem que não há dados que indiquem uma erupção iminente. De facto, o semáforo de alerta vulcânico continua verde, o nível mais baixo.
Ao mesmo tempo, numa ilha vulcânica como Tenerife, ninguém pode excluir a possibilidade de uma erupção a médio ou longo prazo, algo que parece mais provável. Por conseguinte, como as Canárias são um arquipélago vulcânico, a prevenção e a educação para a convivência com os vulcões devem continuar.
O que pode acontecer se o Teide entrar em erupção?
A última erupção em Tenerife, a do vulcão Chinyero em 1909, durou apenas dez dias e não causou danos à população, mas foi bastante explosiva e espalhou cinzas por uma vasta área. Nessa altura, a área era muito menos povoada do que hoje, e atualmente mais de 200.000 pessoas vivem nas áreas afetadas pela erupção, existem infraestruturas e dois aeroportos.
Como sempre acontece nas zonas sujeitas a riscos naturais (terramotos, inundações, erupções vulcânicas), a presença de atividades humanas e de povoações aumenta o risco.
O risco vulcânico, entendido como a soma da probabilidade de uma erupção com a quantidade de elementos expostos e a vulnerabilidade, aumentou precisamente porque a população da zona e a quantidade de edifícios e infraestruturas expostos aumentaram. A prevenção e a informação da população são, por isso, fundamentais.
Entretanto, os especialistas continuam a monitorizar o vulcão e garantem que qualquer notícia sobre o seu comportamento será imediatamente comunicada à população.
Referências da notícia
Los científicos del PEVOLCA coinciden en la “anómala” actividad del Teide aunque sin indicios de una erupción - https://www3.gobiernodecanarias.org/noticias/los-cientificos-del-pevolca-coinciden-en-la-anomala-actividad-del-teide-aunque-sin-indicios-de-una-erupcion/
The 1909 Chinyero eruption on Tenerife (Canary Islands): insights from historical accounts, and tephrostratigraphic and geochemical data - https://www.pi.ingv.it/the-1909-chinyero-eruption-on-tenerife-canary-islands-insights-from-historical-accounts-and-tephrostratigraphic-and-geochemical-data/