Peregrinos em Meca experimentam temperaturas extremas e 'fala-se' em centenas de vítimas mortais
O verão no Hemisfério Norte tem-se manifestado, na última semana, na bacia do Mediterrâneo Oriental e no Médio Oriente, com as consequências habituais para os seres humanos. Fique a saber mais sobre este assunto, connosco!
O dia de segunda-feira, 17 de junho de 2024, ficará marcado na história da Arábia Saudita como um dos dias mais quentes de que há registo. A cidade de Meca, a cerca de 100 km a Este de Jidá (Jeddah), aquela que é a principal cidade sagrada do Islão, registou 51,8 ºC, uma temperatura recorde que colocou em perigo a saúde de uma população que está habituada a temperaturas extremas.
Estes valores de temperatura registam-se na semana do hajj (ou haje), a peregrinação mais importante para o islão, ao templo sagrado de Meca. Este evento religioso é extremamente importante para os praticantes, pois é considerado um dos cinco pilares do Islamismo e assim a peregrinação deve ser feita pelo menos uma vez na vida, se todo o muçulmano adulto tiver possibilidades para tal.
Efeitos na saúde dos peregrinos
O haje teve início a 14 de junho (sexta-feira) e terminou ontem, dia 19 de junho, e representa a passagem por Meca de qualquer coisa como 2 a 3 milhões de peregrinos. Só durante o fim de semana, as autoridades sauditas alegaram que teriam assistido mais de 2000 pessoas devido a problemas de saúde relacionados com o stress térmico.
As temperaturas extremas aliadas à dureza da peregrinação fizeram, segundo algumas fontes, mais de 500 vítimas mortais. Contudo, estes dados não são totalmente aceites, já que o número de vítimas difere bastante da fonte: entre 40 e 60 jordanos podem ter sucumbido ao calor e crê-se que morreram pelo menos 300 peregrinos de nacionalidade egípcia. Há ainda um número incerto de peregrinos desaparecidos o que só adensa mais as dúvidas quanto ao número real de vítimas mortais.
Alterações climáticas e religião
A Península Arábica tem registado algumas mudanças climáticas na última década. As peregrinações a Meca têm sentido as alterações, já que segundo um estudo saudita, as temperaturas naquela região subiram em média 0,4 ºC por década, culminando nos mais de 51 ºC na última segunda-feira.
São inúmeros os relatos de voluntários que têm ajudado os peregrinos a refrescarem-se, nomeadamente através da distribuição de garrafas de água e outras bebidas geladas, bem como de gelados de fruta e gelo. Esta ajuda vai ao encontro das recomendações das autoridades de saúde e civis que recomendam a utilização de guarda-chuvas para proteger do Sol, a ingestão de grandes quantidades de água e a minimização da exposição ao Sol, nas horas mais quentes do dia.
Um outro problema identificado prende-se com os peregrinos que não se registam e não pedem visto para entrar na Arábia Saudita, na sequência do haje, com o objetivo de pouparem algum dinheiro. Se por um lado a vertente económica fica a ganhar, estes peregrinos ficam automaticamente excluídos de instalações de acolhimento, equipadas com ar condicionado.
Para além de peregrinos sauditas, egípcios e jordanos, há ainda outras nacionalidades que podem ter peregrinos desaparecidos, nomeadamente da Indonésia, Irão e Senegal. Entretanto, um novo balanço aponta para que o número de mortos pode andar perto dos 1000, algo que deve fazer pensar os que ainda são céticos em relação à mudança climática.