Perdas económicas com desastres relacionados com clima disparam
Recente boletim da Organização Meteorológica Mundial dá conta dos custos económicos relacionados com o impacto de fenómenos meteorológicos adversos extremos nos últimos 51 anos. Conheça os detalhes aqui!
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) publicou na passada segunda-feira, 22 de maio, um boletim informativo onde descreve que as perdas económicas relacionadas com eventos meteorológicos extremos dispararam nas últimas cinco décadas.
Ao todo contabilizam-se, desde o ano de 1970 até 2021, 11.778 eventos catastróficos ao redor do globo causados por riscos relacionados com o clima, com o estado do tempo e com a água, segundo esta organização.
Segundo a OMM, um único país, os Estados Unidos da América são "responsáveis" por perdas contabilizadas em mais de 1,7 milhões de biliões de dólares nos últimos 51 anos, o equivalente a 39% do montante global.
De acordo com este órgão, 90% das mortes e 60% das perdas económicas causadas por esses acontecimentos aconteceram em países em desenvolvimento, prejuízos considerados desproporcionados.
Para Petteri Taalas, o ciclone tropical Mocha é um claro exemplo disso. Causou devastação generalizada em Myanmar e no Bangladesh, afetando os mais vulneráveis economicamente. O Secretário Geral da OMM destaca, no entanto, o papel preponderante dos sistemas de alerta precoce e de gestão coordenada do risco de desastres, que permitiram baixar significativamente as taxas de mortalidade causadas por este tipo de eventos.
A "pobre" da vulnerabilidade
Como se disse, os países menos desenvolvidos foram aqueles que maiores impactos sofreram, tendo um custo desproporcionado em relação ao tamanho das suas economias. Nestes países, os diversos eventos ocorridos nos últimos 51 anos causaram perdas económicas de até 30% do Produto Interno Bruto (PIB), destaca a OMM.
Em contrapartida, e apesar de cerca 60% dos danos terem afetado as economias mais ricas do planeta, mais de 80% dos desastres não causou perdas económicas superiores a 0,1% dos PIB's, não tendo sido registado nenhum evento que tenha causado perdas superiores a 3,5% do PIB.
Nos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS), um em cada cinco desastres teve um impacto “equivalente a mais de cinco por cento” do PIB, com alguns desastres a representar toda a riqueza nacional produzida nesses países.
Em África, os 1.839 desastres mataram mais de 733,5 milhões de pessoas (95% devido a secas) e provocaram perdas de 43 mil milhões de dólares. Na Europa, em especial pelas temperaturas extremas, o número encerrou em 166,4 milhões de perdas humanas e foram registadas perdas económicas de 562,0 mil milhões de dólares, essencialmente devido a cheias e inundações.
A América do Norte e a América Central e Caraíbas, contabilizaram 77 milhões de óbitos e 2 milhões de biliões de dólares. O sudoeste do Pacífico teve 66,9 milhões de mortos e perdas de 185,8 mil milhões de dólares. A América do Sul registou 58,4 milhões de mortes e perdas de 115,2 mil milhões de dólares em 943 desastres.
A Ásia teve o maior número de mortes no último meio século, com quase um milhão de mortes – mais de metade somente no Bangladesh. Só o ciclone tropical Nargis em 2008 ceifou a vida a 138.366 pessoas.
Os sistemas de alerta precoce salvam vidas
Como vimos, as estratégias de gestão do risco de desastres têm sido eficazes nas últimas décadas, uma vez que resultaram numa redução do número de vítimas mortais, especialmente pela gestão coordenada e pelos sistemas de precoce. Mas é preciso fazer mais e melhor!
Efetivamente, as mortes registadas entre 2020 e 2021 (22.608 no total) demonstram ter existido uma nova queda na mortalidade em relação à média anual da década anterior, mesmo apesar dos danos económicos terem aumentado.
Estas medidas de adaptação climática comprovadamente eficazes, salvam vidas e fornecem pelo menos dez vezes mais retorno sobre o investimento público. Estes sistemas podem reduzir os danos resultantes de desastres em 30 por cento, se utilizados 24 horas antes da consumação destes eventos.
No entanto, apenas metade do mundo está coberto por sistemas de alerta precoce, destacando-se os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS), os Países Menos Desenvolvidos (LDCs) e o continente africano em geral, onde a cobertura é especialmente baixa.
A Comissão Global de Adaptação (Global Centre on Adaptation) descobriu que gastar apenas 800 milhões de dólares em tais sistemas nos países em desenvolvimento evitaria perdas de 3 a 16 mil milhões por ano.
Esta preocupação foi tema da celebração de 2022: Alerta Precoce para Todos, que se focou numas das sete metas estratégicas do Quadro de Sendai para a Redução do Risco de Catástrofes, que refere “aumentar substancialmente a disponibilidade e o acesso a sistemas de alerta precoce para vários perigos e as informações e avaliações sobre o risco de desastres para o povo até 2030.”