Perante um cenário de seca extrema em Portugal, quais serão as culturas mais viáveis?
São cada vez mais evidentes os efeitos das alterações climáticas sobretudo em cenários como o aumento das temperaturas e secas severas e prolongadas. Descubra aqui como podem estes efeitos influenciar a agricultura.
A 8 de maio do presente ano foi declarado estado de seca severa e extrema em 40% do território português, pela ministra da Agricultura e Alimentação, Maria do Céu Antunes, de acordo com o Jornal, o Público.
Este fenómeno está a afetar sobretudo a parte sul do país, nos municípios dos distritos de Beja, Évora, Faro, Portalegre, Santarém e Setúbal, fazendo com que fossem acionadas medidas europeias de apoio aos agricultores.
Desde o início do ano que a água que cai nas terras dos agricultores é quase nula em várias zonas de Trás-os-Montes, assim como no centro e sul do continente.
A realidade é que o panorama não se compôs e as águas mil de abril nunca chegaram, registando ainda valores meteorológicos que o colocam entre os cinco mais quentes desde 1931. De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), no mês de abril registaram-se três ondas de calor, com temperaturas superiores a 30º C.
Terminado abril, os agricultores ainda esperançados pelo mês de maio, viram-se aflitos devido às temperaturas acima do normal e precipitação abaixo do ideal.
Será que se avizinha um verão quente como o do ano passado? Ou será ainda pior?
Já são muitas as gentes da terra que assistem à desgraça sem saber o que fazer. Aflitas, com receio que o ano traga novamente quebras na produção.
Que soluções agrícolas existem para esta situação?
Mértola é o concelho mais seco e entre os mais quentes do País. A seca severa, que se reflete sobre a falta de chuva, está a originar um grave problema para a agricultura.
No entanto, Marta Cortegano, engenheira florestal e membro da Associação Terra Sintrópica, tem, juntamente com a Associação, tentado encontrar soluções, ao nível da agricultura, nas terras secas do concelho.
Neste contexto surgiu, em 2019, a Horta da Malhadinha, que funciona como centro de investigação alimentar, onde se realizam experiências com novas técnicas agrícolas em terras secas.
Aqui está a ser implementado, de acordo com o agricultor António Coelho à plataforma portuguesa – O Gerador, um sistema de agricultura regenerativa, a que se chama sintrópica ou agrofloresta de sucessão, ou seja, uma forma de fazer agricultura com a floresta.
Imitar a natureza e fazer agricultura
O sistema agroflorestal de sucessão, também conhecido como agricultura sintrópica, foi idealizada e fundamentada pelo agricultor e investigador suíço Ernst Götsch, inspirado na forma como as florestas se desenvolvem.
Neste tipo de agricultura o solo está sempre coberto por pequenas plantas, arbustos, árvores diversas, de diferentes alturas que ocupam diferentes espaços na vertical e na horizontal.
Com este conceito está-se a regenerar e a colocar mais água nos solos. Ou seja, é possível plantar e produzir uma imensidão de vegetais das mais variadas espécies e frutas várias.
As árvores de fruto são plantadas em linha, alternando com outro tipo de árvores não fruteiras, como o choupo, e arbustos como o alecrim ou medronheiros.
O sistema assenta no conceito de sucessão natural em que cada espécie vegetal se encaixa no tempo e no espaço no ecossistema, contribuindo para um aumento constante de recursos.
Este sistema agroflorestal baseia-se em ambientes naturais, sem intervenção do Homem que contraria a agricultura como a conhecemos, muito assente em cultivo de culturas de ciclo curto e/ou cultivo de monoculturas perenes.
Mas será esta uma solução a aplicar em larga escala?
Este é ainda um tipo de agricultura que está a dar os primeiros passos no Mediterrâneo, contudo, é um sistema altamente produtivo e com alta capacidade de regeneração dos ecossistemas como um todo.
Na opinião de António Coelho, a ciência terá um papel fundamental na perceção de qual é a influência direta que existem nos ecossistemas e na viabilidade desta prática.
Porém é preciso estudar e investigar, para verificar se é ou não possível aplicar esta tipologia em grande escala. Em causa está o custo da mão de obra para a poda das árvores, ou a mecanização numa prática agrícola onde os alimentos e plantas são plantados muito próximos.