Partícula encontrada no fundo do mar pode ser o neutrino mais energético jamais detetado
Neutrino de altíssima energia pode ser a partícula mais energética jamais encontrada, prometendo fornecer pistas valiosas sobre eventos cósmicos massivos. Veja mais informações aqui.
O neutrino é uma partícula subatómica fundamental, ou seja, é um dos ‘bloquinhos’ que se juntam para formar tudo o que existe à nossa volta. Chamam-lhe partícula “fantasma”, pois não tem carga elétrica, quase não interage com a matéria e radiações, e a sua massa é muito pequena, menor que a de um eletrão. Contudo, depois dos fotões, é a partícula mais abundante no Universo.
E agora, uma descoberta foi revelada durante a 31ª International Conference on Neutrino Physics and Astrophysics em Milão, em Itália: uma partícula encontrada no fundo do Mar Mediterrâneo pode ser o neutrino mais energético jamais detetado na Terra, e pode indicar um evento cósmico massivo. Acompanhe mais informações connosco.
A deteção da partícula de altíssima energia
A partícula que pode ser o neutrino mais energético jamais detetado foi identificada pelo Observatório Astroparticle Research with Cosmics in the Abyss (ARCA) no fundo do Mar Mediterrâneo.
Este observatório é uma estrutura composta por detetores presos a ‘cordas’ no fundo do mar a 3.500 metros de profundidade, ao sudeste da ilha de Sicília, em Itália. Estas cordas são longas estruturas verticais no fundo do mar que sustentam os detetores de neutrinos.
E cada uma destas cordas possui várias esferas feitas de um material conhecido como polimetilmetacrilato. Estas esferas contêm detetores de luz, que são dispositivos sensíveis capazes de captar os flashes de luz produzidos por partículas subatómicas altamente energéticas.
Os neutrinos são considerados mensageiros de alguns dos eventos mais catastróficos do Universo, como explosões de buracos negros supermassivos em galáxias distantes. Logo, esta descoberta promete fornecer pistas valiosas sobre eventos cósmicos massivos.
João Coelho, físico do Laboratório de AstroPartículas e Cosmologia (APC) em Paris, e que divulgou a descoberta na tal conferência, disse que o neutrino detetado “se destaca de maneira impressionante” em relação a outros eventos. No entanto, ele não revelou a direção exata de onde ele veio nem quando a observação ocorreu.
Segundo o cientista, mais de um terço dos sensores do ARCA registaram flashes consistentes com um muão a cruzar o observatório horizontalmente, produzidos por um neutrino que chegou de cerca de 1 grau abaixo do horizonte. A partícula provavelmente tinha uma energia de muitas dezenas de petaeletrão-volts, o que a tornaria a mais energética jamais detetada.
Procura por neutrinos não deve parar
Pelo menos quatro novos observatórios para detetar estas partículas extremas estão em construção ou foram propostos. Por exemplo, um futuro observatório de neutrinos na Ilha de Vancouver, no Canadá; e um protótipo que está a ser testado em Utah (EUA).
A deteção do neutrino de altíssima energia pelo observatório ARCA é um marco importante para a física de partículas, apresentando possibilidades de uma nova compreensão sobre eventos cósmicos cataclísmicos que ocorrem no nosso Universo.
Referência da notícia:
Castelvecchi, D. ‘Fantastic’ particle could be most energetic neutrino ever detected. Nature, 2024.