Países mediterrânicos discutem a falta de água e o impacto da seca na agricultura

Os ministros da Agricultura dos países mediterrânicos (MED9) reuniram-se no Chipre para debater os desafios da escassez de água no setor primário. Portugal vai assumir a presidência da União Europeia das Associações de Gestão da Água até 2025.

água
A FENAREG - Federação Nacional de Regantes de Portugal acolhe em Évora, de 8 a 10 de setembro, a reunião anual da União Europeia das Associações de Gestão da Água. A gestão e armazenamento da água é o tema central.

A FENAREG - Federação Nacional de Regantes de Portugal acolhe em Évora, de 8 a 10 de setembro, a reunião anual da União Europeia das Associações de Gestão da Água (EUWMA - European Union of Water Management Associations, em inglês). A gestão e armazenamento da água é o tema central.

A par disso, a FENAREG anunciou que irá assumir, já a partir de 9 de setembro, a presidência da EUWMA para o período de 2024/2025. Esta estrutura europeia representa as organizações gestoras de água de 10 Estados-membros (Bélgica, Itália, Hungria, Alemanha, França, Espanha, Portugal, Reino Unido, Roménia e Holanda).

O encontro anual da EUWMA ocorre “num momento em que a modernização e o consumo racional e eficiente da água se está a tornar um imperativo à escala global, em particular no contexto dos terrenos agrícolas regados”. Daí a FENAREG ter elegido a gestão e o armazenamento de água como assunto central da presidência desta União.

"Vivemos um momento muito desafiante, mas também de muitas oportunidades de modernização e inovação. O regadio tem um efeito estruturante particularmente significativo na agricultura dos países europeus, afirmando-se como um fator de competitividade e resiliência das explorações agrícolas e dos territórios rurais”, refere José Núncio, presidente da FENAREG.

A Federação agrega 33 associados que representam mais de 28 mil agricultores regantes, que significam mais de 98% do regadio organizado nacional.

O responsável desta estrutura defende, assim, “uma profunda mudança na forma como a água é captada, transportada, armazenada e gerida, de forma a permitir que o regadio se torne mais sustentável e capaz de responder às necessidades criadas pelas alterações climáticas”. Essa gestão, diz, “irá transformar completamente a forma como fazemos agricultura e como tratamos a água”.

José Núncio sublinha ainda que "o desafio da água, será provavelmente o maior do nosso século”. Na sua opinião, ele passa por “uma transformação profunda, que já está em curso, que exige inovação contínua, conhecimento, tecnologia, mas também vontade política”.

Mobilizar regiões, instituições, países e governos

“Para sermos bem-sucedidos, é imperativo mobilizar regiões, instituições supranacionais, países, governos, associações setoriais, agricultores e regantes num esforço conjunto de mudança que terá de ser transversal, até porque dele dependerá largamente a sobrevivência da própria humanidade”, sublinha o presidente da FENAREG.

armazenamento de água
Nos últimos dias (entre 1 e 3 de setembro), os ministros da Agricultura dos países mediterrânicos (MED9) - Chipre, Croácia, Eslovénia, Espanha, França, Grécia, Itália, Malta e Portugal - reuniram-se no Chipre (Ayia Napa), para discutir os desafios relacionados com a escassez de água e o impacto da seca na agricultura.

Meindert Smallenbroek, secretário-geral da EUWMA, citado num comunicado divulgado pela FENAREG, refere que "a gestão e o armazenamento de água são aspetos cruciais no contexto das alterações climáticas que estamos a viver”. E afirma que “será cada vez mais relevante armazenar água nos períodos em que a temos em abundância para a usarmos nos períodos de seca”.

Para o secretário-geral da EUWMA o tema da presidência portuguesa até 2025 “facilitará esta discussão e isso é muito importante”, uma vez que a EUWMA é “uma iniciativa de colaboração única e muito importante entre as diversas entidades responsáveis pela gestão da água em toda a Europa”.

Ministro da Agricultura no Chipre

A gestão e o armazenamento da água para fins agrícolas está, na verdade, na ordem do dia, em Portugal e na Europa. Nos últimos dias (entre 1 e 3 de setembro), os ministros da Agricultura dos países mediterrânicos (MED9) - Chipre, Croácia, Eslovénia, Espanha, França, Grécia, Itália, Malta e Portugal - reuniram-se no Chipre (Ayia Napa), para discutir os desafios relacionados com a escassez de água e o impacto da seca no setor primário.

José Manuel Fernandes, o ministro da Agricultura, também participou no encontro, a convite da ministra da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Ambiente do Chipre, Maria Panayiotou.

Na sua intervenção, o governante destacou “o consenso sobre a importância do reforço da implementação de práticas sustentáveis de gestão da água na agricultura, assim como da adoção de tecnologias de uso eficiente da água”.

Para isso, diz José Manuel Fernandes, “é necessária uma maior cooperação entre os países do MED 9, traduzida numa partilha de informação mais acentuada e na participação conjunta em programas de investigação, tendo em vista a troca de experiências, de melhores práticas de gestão, e de soluções tecnológicas inovadoras para mitigar as consequências da falta de água”.

Ciente de que, “de Norte a Sul, Portugal tem sido afetado por secas severas e prolongadas que se tornaram mais frequentes nos últimos anos”, o ministro português realçou “a importância estratégica da água para o desenvolvimento da agricultura em Portugal”. E lembrou que o financiamento para o armazenamento e a distribuição eficiente de água para a agricultura e para o consumo humano é “uma prioridade para o Governo”.

Outros mecanismos de financiamento para além da PAC

Para o ministro da Agricultura, “a Política Agrícola Comum (PAC) não pode ser o único instrumento a financiar este desígnio” relacionado com a água. José Manuel Fernandes diz que “a PAC não se pode desviar do seu objetivo principal – produzir alimentos suficientes, de qualidade, a preços acessíveis, respeitando os mais elevados padrões ambientais”.

Daí que, em nome da “complementaridade entre os fundos europeus”, tenha de haver outros mecanismos de financiamento, como “os fundos da Política de Coesão, o InvestEU e o Banco Europeu de Investimento”, que “devem participar no financiamento das infraestruturas necessárias que mitiguem os efeitos negativos das alterações climáticas”. Em paralelo, “em Portugal, o Fundo Ambiental também tem de cumprir esta missão”, disse José Manuel Fernandes.