Os vulcões afectam o clima?
A dinâmica interna do planeta condiciona a ocorrência da actividade vulcânica, sendo a sua distribuição à superfície o esboço de um padrão de faixas activas, correspondentes às margens das placas tectónicas e/ou a zonas interplacas. Vivemos assim, numa Terra em permanente renovação!
O balanço energético do planeta, que resulta na temperatura média apurada pela diferença entre a energia recebida do Sol e a energia emitida pelo Efeito de Estufa, caracterizam a busca constante do clima do planeta por um pertenço estado de equilíbrio. Pese embora, a desregulação da quantidade dos gases que constituem a atmosfera, tal como a eliminação da mancha verde, pela intensiva desflorestação e/ou incêndios, sejam incontornáveis motivos para que ocorram alterações nos padrões climáticos, a combinação de três factores, impossíveis de alterar, podem ser apontados como o cerne do aumento e/ou diminuição da temperatura no planeta – a órbita da Terra, os ciclos Solares e a actividade vulcânica.
O vulcanismo faz parte do processo vivo que caracteriza o planeta Terra. Trata-se de um mecanismo que ajudou na formação geológica, no aparecimento de novas terras, no estabelecimento da atmosfera, e inclusive na proliferação do sistema agrícola pelo contributo de nutrientes minerais.
Ora, o que acontece, é que durante uma erupção vulcânica é expelida uma gigantesca quantidade de finas partículas de rocha vulcânica fragmentada, e dá-se uma libertação para a atmosfera de dióxido de enxofre, o qual, ao atingir a camada superior da atmosfera se transforma em pequenas gotas de ácido sulfúrico. Estas, ao interagirem com o vapor de água, funcionam como pequenos espelhos, que reflectem a luz solar, impedindo que o calor atinja a superfície do planeta.
Ou seja, para o clima, o maior impacte dos gases vulcânicos relaciona-se com a libertação de cinzas e dióxido de enxofre, o qual, pela sua elevada resistência, fica alojado em suspensão em camadas de aerossóis na estratosfera, muito tempo após as partículas de cinza se depositarem na Terra. E isto acontece porque em altitudes muito elevadas não há nuvens, não há precipitação que possibilite uma “purificação” do ar mais rápida e efectiva. Deste modo, essas camadas, que se situam a cerca de 15 a 30km de altitude, interceptam a luz solar, aquecendo a estratosfera, mas diminuindo a temperatura, quer da superfície terrestre, quer da própria atmosfera.
E o passado mês de setembro foi particularmente pródigo em actividade vulcânica!
De facto, desde as fortes explosões no Etna, na Europa, no início do mês, à explosão de uma fonte termal adormecida à quase quatorze anos, no Yellowstone, nos EUA, em meados de 15, ao Otman-Bozdag, com duas explosões de lama, no passado dia 23, em Baku, e ao Katla vizinho do Eyjafjallajokull, na Islândia, que há dois dias atrás accionou o alerta para uma eminente erupção, são algumas das manifestações vulcânicas, impreterivelmente necessárias, que ocorrem diariamente, com maior ou menor intensidade, um pouco por todo o planeta. Apesar do perigo constante e elevado poder destrutivo, a actividade vulcânica é essencial e faz parte da vida e regeneração da Terra!
E, é assim passível ser feita a associação do vulcanismo à variabilidade dos processos atmosféricos, que caracterizam as cíclicas alterações nos padrões do clima do planeta. Ou seja, para além do contributo humano para o desequilíbrio dos gases que constituem a atmosfera, igualmente, mas numa escala bem maior, os vulcões implicam com a desregulação das temperaturas do planeta.
Sucintamente, o que acontece é que, também nós, humanos, poluímos e lançamos material particulado para nós mesmos, mas se nos dermos ao trabalho de nos deslocarmos umas centenas de quilómetros dos centros urbanos, conseguimos vivenciar um ar muito mais “puro”. Metaforicamente, a responsabilização do vulcanismo pela desregulação do clima deve ser atenuada, considerando que, é como se vivêssemos dentro da cratera de vulcões criados por nós próprios, tudo se resume a uma questão de escalas!