Os vestígios da presença humana mais antiga na Europa estão na Ucrânia
Os artefactos arqueológicos recentemente descobertos desvendam a presença de seres humanos primitivos na atual Europa de Leste e da sua possível viagem para outros pontos do continente. Fique a saber mais sobre este assunto, aqui!
O sítio arqueológico de Korolevo, no Oeste da Ucrânia, muito próximo da fronteira com a Roménia e com a Hungria, mostrou à comunidade científica e ao mundo algumas ferramentas paleolíticas com quase 1 milhão e meio de anos. Esta datação, efetuada através de métodos de física nuclear, comprova que a presença de seres humanos na Europa é ainda mais antiga do que se pensava.
Os primeiros hominídeos, parentes dos seres humanos atuais, chegaram à Eurásia entre 1 a 2 milhões de anos atrás, mas não são conhecidos muitos locais com artefactos arqueológicos que indiquem com mais precisão a data da chegada. Desta forma, Korolevo tem sido importante desde a década de 70 do séc. XX, já que tem fornecido inúmeros instrumentos, essencialmente ferramentas em pedra, cuja idade era desconhecida até agora.
Uma equipa de investigadores internacionais, liderados por um investigador checo conseguiu determinar recentemente a idade exata da maioria dos artefactos encontrados naquele sítio arqueológico: 1,42 milhões de anos. Segundo os investigadores, esta datação faz uma ponte entre a chegada do Homo Erectus ao Cáucaso (entre 1,85 – 1,78 milhões de anos atrás) e o sudoeste da Europa (entre 1,78 – 1,2 milhões de anos atrás).
Até agora existiam vestígios claros, como por exemplo ossadas bastante completas, da presença de hominídeos na Península Ibérica, nomeadamente em Atapuerca, na província de Burgos. Do ponto de vista do tipo de descoberta, continuam a ser a presença mais antiga. Contudo, a descoberta e a datação exata das ferramentas de pedra encontradas, faz de Korolevo o local onde a presença do ser humano é mais antiga.
Técnicas utilizadas e conclusões retiradas
A técnica de datação dos artefactos está associada à física nuclear e consiste, muito sinteticamente, na medição de certos nuclídeos que se formam nas rochas. Esta medição pode ser feita para datar rochas até 5 milhões de anos. Ao datarem as ferramentas de pedra, os cientistas também puderam analisar o padrão de distribuição do Homo Erectus pelo continente europeu, durante o Paleolítico Inferior.
Assim, este estudo alega comprovar uma teoria antiga que indica que a colonização da Europa neste período, com os primeiros humanos, se deu de Este para Oeste, já que Korolevo se situa num ponto intermédio (do ponto de vista espacial e temporal) entre o Cáucaso e o Sudoeste da Europa (Itália, Sul de França e Península Ibérica). Os investigadores acreditam que os primeiros hominídeos entraram pelo Este ou pelo Sudeste da Europa e que haverá ainda muitos mais locais arqueológicos nos Balcãs que comprovem esta teoria.
Foi ainda estudada a adequação aos habitats por parte dos hominídeos, cruzando esta descoberta com informações climáticas. Assim, sabe-se que estes seres humanos primitivos aproveitaram períodos interglaciares mais quentes para se deslocarem até latitudes mais elevadas e áreas com um clima mais continental, como é o caso de Korolevo. Este é mesmo um dos sítios arqueológicos mais setentrionais com artefactos do Paleolítico inferior.
Apesar de Korolevo se situar numa zona relativamente segura da Ucrânia, tem sido difícil manter uma investigação coerente e continuada. A situação de guerra que o país vive está a dificultar a relação entre instituições e investigadores estrangeiros e locais pois as autorizações de trabalho são cada vez mais difíceis de arranjar. Tudo isto, aliado à falta de financiamento, está a comprometer o desenvolvimento de novos estudos que poderiam dar ainda mais informações.