Os impactos das alterações climáticas na criosfera têm vindo a acelerar
Numa cimeira realizada recentemente em França, em que participaram cientistas, decisores políticos e comunidades locais de mais de 40 países, foi analisado e discutido o efeito das alterações climáticas na criosfera.
O estado dos glaciares e dos planaltos do mundo é preocupante. O colapso da criosfera à escala mundial pode ter efeitos desastrosos para as populações e para os ecossistemas no seu conjunto.
Cimeira “One Planet-Polar”
Nesta cimeira internacional, dedicada sobretudo à criosfera, foi dado o alerta para a escala e a velocidade aceleradas do degelo da neve, do gelo e dos glaciares e para a ameaça iminente para o bem-estar e a segurança humana, ambiental e económica.
Atendendo que a criosfera se refere às regiões da superfície terrestre onde a água se encontra na forma sólida, foi analisado, na cimeira, o ponto de situação dos vastos lençóis de gelo da Antártida e da Gronelândia, o gelo marinho no Ártico e na Antártida, o manto de neve, os glaciares de montanha e o permafrost.
Estas regiões, que cobrem 10% da superfície da Terra e albergam ecossistemas únicos, estão a suportar as consequências extremas da crise climática e estão também a contribuir para a subida do nível do mar.
De acordo com o Secretário-Geral da Organização Meteorológica Mundial, OMM, Prof. Petteri Taalas, a elevada concentração de gases com efeito de estufa na atmosfera significa que o degelo dos glaciares e a subida do nível do mar deverão continuar nos próximos milénios.
Um dos relatórios científicos divulgado na cimeira salienta a aceleração dos impactos das alterações climáticas na criosfera. O relatório apela a uma melhor coordenação, mais investigação e intercâmbio de dados, melhores previsões e monitorização, maior envolvimento com as comunidades locais e indígenas e mais educação e divulgação.
Impactos das alterações climáticas na criosfera
O degelo da neve, dos glaciares e do gelo marinho devido às alterações climáticas tem efeito em diferentes áreas, tendo sido referidos, na cimeira, alguns desses impactos:
- Um centímetro adicional de subida do nível do mar significa que mais 2 a 3 milhões de pessoas serão ameaçadas por inundações anuais.
- Cada tonelada adicional de dióxido de carbono na atmosfera elimina 2 a 3 metros quadrados de gelo marinho no Ártico.
- Dois mil milhões de pessoas dependem dos recursos hídricos provenientes dos glaciares das montanhas.
- Para uma temperatura de 1,5 °C, são libertadas giga toneladas de carbono do permafrost, o que corresponde até 5 anos de emissões globais de dióxido de carbono pelos seres humanos. Os incêndios florestais no Ártico representam uma ameaça adicional.
Existe uma preocupação especial com o degelo do permafrost e o seu potencial para libertar grandes quantidades de metano, que é um poderoso gás com efeito de estufa.
O relatório alertou ainda para o facto de existir um "recuo quase irreversível de cerca de 200 000 glaciares, localizados na Europa, em África, na Oceânia, na Ásia e nas Américas".
Os anos de 2021 e 2022 registaram uma perda maciça de glaciares de montanha, que, em média, foi 20% superior à da década anterior. Prevê-se que pelo menos metade destes glaciares se perca até 2100.
No Ártico, as temperaturas à superfície aumentaram até quatro vezes mais do que a média global nos últimos quarenta anos e registou-se uma enorme perda de camadas de gelo na Gronelândia e na Antártida. Esta perda quadruplicou em 30 anos, contribuindo assim para que o nível médio do mar aumente a um ritmo mais rápido.