Os desafios de minerar na Gronelândia: será possível extrair minerais sem prejudicar o meio ambiente?

O cenário calmo e tranquilo da Gronelândia contrasta com o destaque mediático internacional que tem tido nas últimas semanas. Fique a saber mais sobre a importância deste território, no nosso portal!

Gronelândia
Este território é conhecido pelo clima extremo (frio), mas também pelas casas multicoloridas que se multiplicam pelas pequenas vilas e cidades.

Acredita-se que há inúmeras riquezas inexploradas, principalmente no subsolo daquela que é considerada a maior ilha do planeta. Este território do Atlântico Norte, povoado há mais de mil anos, teve tal como o Arquipélago dos Açores, uma importância geoestratégica durante a 2.ª Guerra Mundial. Entretanto voltou a estar no centro de disputas territoriais e da atenção mediática internacional devido à mudança de presidente nos Estados Unidos da América.

(...) o aumento da procura de minerais críticos, que se espera que quadruplique nos próximos 15 anos, faz com seja necessário procurar novas fontes.

As riquezas por explorar poderão estar associadas tanto a reservas de recursos minerais, bem como a extensas jazidas dos tão almejados combustíveis fósseis, essenciais para a economia mundial. Contudo, é também aceite que, apesar do crescente interesse, a exploração destas reservas ainda é um grande desafio logístico e vai continuar a sê-lo nas próximas décadas.

História geológica

Apesar de na maioria dos mapas parecer um território gigante, o tamanho real da Gronelândia é de aproximadamente 2 000 000 km2, o equivalente à área da República Democrática do Congo. Há mais de 65 milhões de anos atrás, este território, juntamente com partes da Europa e da América do Norte, formavam um supercontinente que começou a separar-se há cerca de 60 milhões de anos.

Habitações.
As habitações coloridas são uma das imagens de marca da Gronelândia, contudo, as riquezas do subsolo podem gerar uma série de conflito entre países europeus e americanos, que reclamam aquele território.

A separação da Europa fez com que a Gronelândia se movimentasse para Oeste, ao sabor do hotspot islandês. As rochas que atualmente a compõem são testemunho de tudo isto, sendo que esta sequência de eventos é responsável por todo o potencial geológico no que toca à concentração de minerais valiosos.

Os tipos de rochas presentes, muito idênticas às encontradas noutras explorações petrolíferas do Ártico, indiciam que podem existir no subsolo enormes reservas de petróleo e gás natural, apesar de nada ter sido comprovado até agora. Tendo em conta a sua latitude, apenas 20% da ilha não está coberta por gelo, sendo que a sua população não chega às 60 000 pessoas.

Exploração de recursos ao longo dos anos

Desde meados do séc. XIX que a exploração dos recursos da Gronelândia acontece, sendo que nesta época foram encontradas jazidas de criolita. Desde 1850 até à 2.ª Guerra Mundial, foram criadas várias minas com o intuito de explorar este mineral que era importante na produção de bicarbonato de sódio e também do alumínio, para a indústria aeronáutica.

Gronelândia
As regiões costeiras são as que têm melhores acessibilidades, sendo que também não estão cobertas por gelo durante todo o ano.

Foi aproximadamente nesta época que foi desenvolvido o seu mapeamento geológico, processo que nunca foi concluído devido à sua complexidade e ao facto de poder demorar aproximadamente 200 anos até à sua conclusão. Mas com evoluir da tecnologia, há cada vez mais informações geológicas fidedignas, mesmo de áreas permanentemente cobertas pelo gelo, que atestam a presença de jazidas de recursos minerais e metálicos, cada vez mais importantes na economia mundial.

Futuro da exploração

Apesar de alguns destes minerais já serem explorados no continente asiático e no africano, a proximidade das regiões do Ártico às grandes potencias mundiais, que estão por sua vez cada vez mais em confronto, faz com que a exploração destas áreas seja cada vez mais atrativa. De resto, o aumento da procura de minerais críticos, que se espera que quadruplique nos próximos 15 anos, faz com seja necessário procurar novas fontes.

Os minerais críticos são aqueles que contribuem de forma significativa para as cadeias produtivas de um país e para o seu desenvolvimento económico.

A dúvida continua a ser a viabilidade económica de uma possível exploração mineira, numa região do globo conhecida pelo seu clima impiedoso. A falta de infraestruturas, seja de transportes ou de transformação dos minérios é também um dos principais desafios para a exploração daquele território: fora das maiores vilas, não há quaisquer estradas ou caminhos de ferro.

As questões ambientais também são importantes. Vestígios de explorações da primeira metade do séc. XX continuam a marcar a qualidade da água na ilha. Existem vestígios de minerais pesados que contaminam as águas e os solos, condicionando a pesca e a caça, duas atividades que fazem parte do estilo de vida dos habitantes locais.

O recuo dos glaciares, que já se verifica e que se espera que continue nos próximos anos, pode potenciar uma nova corrida aos recursos, fazendo com que o interesse daquele território permaneça alto, para as principais potências mundiais.