Os desafios de minerar na Gronelândia: será possível extrair minerais sem prejudicar o meio ambiente?
O cenário calmo e tranquilo da Gronelândia contrasta com o destaque mediático internacional que tem tido nas últimas semanas. Fique a saber mais sobre a importância deste território, no nosso portal!
Acredita-se que há inúmeras riquezas inexploradas, principalmente no subsolo daquela que é considerada a maior ilha do planeta. Este território do Atlântico Norte, povoado há mais de mil anos, teve tal como o Arquipélago dos Açores, uma importância geoestratégica durante a 2.ª Guerra Mundial. Entretanto voltou a estar no centro de disputas territoriais e da atenção mediática internacional devido à mudança de presidente nos Estados Unidos da América.
As riquezas por explorar poderão estar associadas tanto a reservas de recursos minerais, bem como a extensas jazidas dos tão almejados combustíveis fósseis, essenciais para a economia mundial. Contudo, é também aceite que, apesar do crescente interesse, a exploração destas reservas ainda é um grande desafio logístico e vai continuar a sê-lo nas próximas décadas.
História geológica
Apesar de na maioria dos mapas parecer um território gigante, o tamanho real da Gronelândia é de aproximadamente 2 000 000 km2, o equivalente à área da República Democrática do Congo. Há mais de 65 milhões de anos atrás, este território, juntamente com partes da Europa e da América do Norte, formavam um supercontinente que começou a separar-se há cerca de 60 milhões de anos.
A separação da Europa fez com que a Gronelândia se movimentasse para Oeste, ao sabor do hotspot islandês. As rochas que atualmente a compõem são testemunho de tudo isto, sendo que esta sequência de eventos é responsável por todo o potencial geológico no que toca à concentração de minerais valiosos.
Os tipos de rochas presentes, muito idênticas às encontradas noutras explorações petrolíferas do Ártico, indiciam que podem existir no subsolo enormes reservas de petróleo e gás natural, apesar de nada ter sido comprovado até agora. Tendo em conta a sua latitude, apenas 20% da ilha não está coberta por gelo, sendo que a sua população não chega às 60 000 pessoas.
Exploração de recursos ao longo dos anos
Desde meados do séc. XIX que a exploração dos recursos da Gronelândia acontece, sendo que nesta época foram encontradas jazidas de criolita. Desde 1850 até à 2.ª Guerra Mundial, foram criadas várias minas com o intuito de explorar este mineral que era importante na produção de bicarbonato de sódio e também do alumínio, para a indústria aeronáutica.
Foi aproximadamente nesta época que foi desenvolvido o seu mapeamento geológico, processo que nunca foi concluído devido à sua complexidade e ao facto de poder demorar aproximadamente 200 anos até à sua conclusão. Mas com evoluir da tecnologia, há cada vez mais informações geológicas fidedignas, mesmo de áreas permanentemente cobertas pelo gelo, que atestam a presença de jazidas de recursos minerais e metálicos, cada vez mais importantes na economia mundial.
Futuro da exploração
Apesar de alguns destes minerais já serem explorados no continente asiático e no africano, a proximidade das regiões do Ártico às grandes potencias mundiais, que estão por sua vez cada vez mais em confronto, faz com que a exploração destas áreas seja cada vez mais atrativa. De resto, o aumento da procura de minerais críticos, que se espera que quadruplique nos próximos 15 anos, faz com seja necessário procurar novas fontes.
A dúvida continua a ser a viabilidade económica de uma possível exploração mineira, numa região do globo conhecida pelo seu clima impiedoso. A falta de infraestruturas, seja de transportes ou de transformação dos minérios é também um dos principais desafios para a exploração daquele território: fora das maiores vilas, não há quaisquer estradas ou caminhos de ferro.
As questões ambientais também são importantes. Vestígios de explorações da primeira metade do séc. XX continuam a marcar a qualidade da água na ilha. Existem vestígios de minerais pesados que contaminam as águas e os solos, condicionando a pesca e a caça, duas atividades que fazem parte do estilo de vida dos habitantes locais.
O recuo dos glaciares, que já se verifica e que se espera que continue nos próximos anos, pode potenciar uma nova corrida aos recursos, fazendo com que o interesse daquele território permaneça alto, para as principais potências mundiais.