ONU alerta para “epidemia de calor extremo”, após registar os três dias mais quentes da história recente

Esta semana foram registados os três dias mais quentes desde que há registo. Sem esquecer que os últimos 13 meses foram os mais quentes da história recente da Terra. É urgente agir sobre este perigo.

Calor extremo
Mais de 70% da força de trabalho global, cerca de 2,4 biliões de pessoas, correm agora um elevado risco de calor extremo.

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, lançou na última quinta-feira (25) uma nova iniciativa em resposta ao rápido aumento da escala, intensidade, frequência e duração do calor extremo, na qual apelou a dez agências especializadas para trabalharem na abordagem do problema.

Guterres apelou a um esforço urgente para melhorar a cooperação internacional para enfrentar o calor extremo, exatamente na semana em que foram registados os três dias mais quentes na história recente da Terra, de acordo com os dados da Organização Meteorológica Mundial (WMO) que monitorizam o clima global.

Biliões de pessoas enfrentam uma epidemia de calor extremo, definhando sob ondas de calor cada vez mais mortais, com temperaturas superiores a 50 graus Celsius em todo o mundo”, afirmou o secretário-geral.

Calor incomparável

No domingo, dia 21 de julho, foi atingido o recorde diário de temperatura média global, com 17,09°C. Porém, no dia seguinte (22) a temperatura média diária global superou esse recorde anterior, atingindo o valor de 17,16°C. E no dia 23 de julho o valor preliminar era de 17,15°C, apenas um centésimo abaixo do recorde. Todos estes dados correspondem ao conjunto de dados ERA5, que remonta a 1940, e são fornecidos pelo Copernicus Climate Change Service (C3S) da União Europeia. Estes três dias foram mais quentes que o recorde anterior de 17,08°C, alcançado há apenas um ano, no dia 6 de julho de 2023.

O calor opressivo parece não parar. E embora o padrão climático cíclico do El Niño não esteja a atuar (o que faz com que as temperaturas globais aumentem), as temperaturas continuam a subir. Biliões de pessoas em todo o mundo sofrem os efeitos de ondas de calor cada vez mais severas, frequentes e extensas em duração e área, impulsionadas pelo aquecimento global antrópico que resulta nesta crise climática.

Temperaturas recordes
Entre julho de 2023 e julho de 2024, vários países registaram valores de temperatura que ultrapassaram os 50ºC mais do que uma vez.

É importante destacar que mais de 70% da força de trabalho global, cerca de 2,4 bilhões de pessoas, correm agora um elevado risco de calor extremo. De facto, um relatório recente da NASA alertou que até 2070, como resultado da crise climática, haverão áreas do planeta que se tornarão inabitáveis devido às altas temperaturas.

Regiões como o sul da Ásia, o Golfo Pérsico e o Mar Vermelho, partes da China e centro e nordeste do Brasil poderão enfrentar condições que serão muito difíceis de suportar para os humanos. E as comunidades mais vulneráveis serão as mais afetadas.

A iniciativa sobre o calor extremo

Esta nova iniciativa para enfrentar o calor extremo concentra-se em quatro áreas críticas:

  • Cuidar dos que são mais vulneráveis;
  • Proteger os trabalhadores;
  • Aumentar a resiliência das economias e das sociedades através de dados e da ciência;
  • Limitar o aumento da temperatura a 1,5°C, eliminando gradualmente os combustíveis fósseis e aumentando o investimento em energias renováveis.

A iniciativa propõe um esforço global para melhorar a cooperação internacional e reúne a experiência e as perspetivas de dez agências especializadas das Nações Unidas, das quais: FAO (Alimentação e Agricultura), OIT (Organização Internacional do Trabalho), OCHA (Coordenação de Assuntos Humanitários), UNDRR (Escritório das Nações Unidas para Redução de Risco de Desastres), UNEP (Meio Ambiente), UNESCO (Educação, Ciência e Cultura), ONU-Habitat (Assentamentos Humanos), UNICEF (Crianças), OMS (Organização Mundial da Saúde) e OMM (Organização Meteorológica Mundial).

O impacto do calor extremo é implacável na saúde humana. Segundo Guterres, estima-se que o calor extremo vitimize quase meio milhão de pessoas por ano, cerca de 30 vezes mais que os ciclones tropicais. E isto tem repercussões nas economias, aumentando as desigualdades e comprometendo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

Felizmente, as doenças causadas pelo calor e as mortes são evitáveis e muitos impactos podem ser minimizados com políticas económicas e sociais específicas e ações concretas, incluindo campanhas de sensibilização pública. O sistema de alerta de calor para a saúde, aplicado em apenas 57 países, tem potencial para salvar cerca de 98.314 vidas por ano.

“A Terra está a ficar mais quente e mais perigosa para todos, em todas as partes”, disse Guterres. A inércia climática não é uma opção.