Onda de calor marinha "inédita" ameaça as costas do Reino Unido e da Irlanda com perda de habitats
Uma onda de calor marinha sem precedentes atinge as costas do Reino Unido e da Irlanda, representando uma grave ameaça para as espécies marinhas. As temperaturas dos oceanos estão várias graus acima da média, estabelecendo recordes para esta época do ano.
As costas do Reino Unido e da Irlanda enfrentam, nos últimos dias, uma onda de calor marinha sem precedentes, representando uma séria ameaça para as espécies marinhas. As temperaturas dos oceanos, especialmente ao largo da costa nordeste da Inglaterra e a oeste da Irlanda, apresentam vários graus acima da média, o que se constitui novo recorde para o final da primavera e início do verão.
O MetOffice relata que as temperaturas globais da superfície do mar atingiram níveis históricos para os meses de abril e maio, de acordo com os registos históricos que remontam a 1850. Nesta altura, o mês de junho está a caminho de estabelecer novo recorde de temperatura oceânica.
Temperaturas oceânicas atingem níveis históricos, onda de calor marinha de categoria quatro intensifica-se
O National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) classificou, em partes do Mar do Norte, uma onda de calor marinha de categoria quatro, considerada de nível "extremo". Para tal, contribuíram várias áreas ao longo da costa da Inglaterra, que apresentam temperaturas até 5 °C acima do normal para esta época do ano.
A situação é especialmente crítica ao longo da costa leste do Reino Unido, de Durham a Aberdeen, e ao largo da costa oeste da Irlanda. Em Seaham, na costa de Durham, as temperaturas da água atingiram 15 °C no dia 18 de junho, bem acima da média de 12 °C para esta época do ano. De acordo com Rodney Forster, da University of Hull, algumas partes da costa do Reino Unido enfrentam já temperaturas de água próximas de 20 °C, o que se revela muito preocupante.
Schmidt acrescenta ainda que, embora as ondas de calor marítimas sejam mais comuns em águas mais quentes, como as do Mediterrâneo, temperaturas tão anómalas no Atlântico Norte são inéditas. Estas condições devem-se à variabilidade climática que se verifica no Atlântico Norte, mas também à diminuição da quantidade de poeira do Saara sobre o oceano.
Impactes devastadores nos ecossistemas marinhos e redução preocupante do gelo marinho
O stress térmico afeta organismos marinhos de forma semelhante ao que ocorre em terra. Noutras partes do mundo, as ondas de calor oceânicas têm causado perda de habitats, com a morte de plantas e animais marinhos. Tais problemas acarretam perdas financeiras de centenas de milhões de euros, ao afetarem a pesca, o armazenamento de carbono, os valores culturais e, mais importante, a perda de ecossistemas. A menos que reduzamos drasticamente as emissões, estas ondas de calor continuarão a destruir os ecossistemas marinhos.
Um estudo de 2019 revelou que as ondas de calor oceânicas estão a tornar-se mais frequentes, com o número de dias sob efeito deste fenómeno a triplicar nos últimos dois anos. O aquecimento dos oceanos ameaça não só a vida marinha, mas também causa danos significativos à humanidade, que depende dos oceanos para obter oxigénio, alimentos, proteção contra tempestades e a remoção de dióxido de carbono da atmosfera.
A redução do gelo marinho é outra consequência das temperaturas dos oceanos com anomalias positivas significativas. Um relatório do MetOffice aponta que a quantidade de gelo no Ártico está abaixo da média para esta época do ano, embora ainda esteja acima dos níveis recorde baixos registados anteriormente após a perda de gelo em maio. No entanto, a extensão do gelo marinho antártico é excecionalmente baixa, a menor já registada para esta época do ano, com uma margem considerável.