OMS declara o fim da emergência internacional de COVID-19

O Comité de Emergência da OMS declarou o fim da Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional (ESPII ou PHEIC, em inglês) da COVID-19. No entanto, cuidados e estratégias ainda precisam de ser mantidos.

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O Comité de Emergência da Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o fim da Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional da COVID-19.

No dia de ontem, o Comité de Emergência da Organização Mundial da Saúde (OMS) reuniu-se pela 15ª vez e recomendou ao Diretor Geral da Organização o fim da emergência de saúde pública de interesse internacional (ESPII, ou PHEIC, em inglês) da COVID-19.

O Diretor Geral da Organização, Tedros Adhanom, aceitou a recomendação, mas reforça, em coro com o Comité, que os países devem manter as estratégias contra a COVID-19 em vigor.

"Portanto, é com grande esperança que declaro a COVID-19 como uma emergência de saúde global. No entanto, isto não significa que o COVID-19 acabou como uma ameaça à saúde global. Na semana passada, o COVID-19 ceifou uma vida a cada três minutos - e estas são apenas as mortes que conhecemos" - Tedros Adhanom

Questões em aberto

Com o fim da emergência declarado, os especialistas ainda questionam quando e se a COVID-19 irá tornar-se uma endemia. O conceito de endemia pode ser entendido como um cenário "em que a quantidade de pessoas que adoece e eventualmente morre nem aumentam, nem diminuem", ou seja, quando estes valores estão equilibrados "dentro de uma população em que qualquer pessoa pode infetar-se", segundo a publicação do Blogs de Ciência da Unicamp.

Endemias não são cenários inofensivos: pelo contrário. Muitos países e regiões mundiais encaram endemias há anos, contabilizando um número significativo de agravamentos da saúde e óbitos. É o caso da tuberculose, que foi responsável por 1 milhão e 600 mil óbitos no mundo em 2021, segundo a Agência Brasil. Exemplos de endemias são doenças tais como: esquistossomose, leishmaniose, leptospirose e hanseníase, as quais ocorrem com maior intensidade em áreas rurais ou de reduzido acesso à saúde.

A COVID longa

Infelizmente, são muitas as pessoas que, mesmo após um ano ou mais da recuperação de um caso de COVID-19, ainda enfrentam sequelas da doença. Estas sequelas pós-infeção aguda ou que surgem a partir de um tempo maior após a recuperação da infeção são agrupadas no termo COVID longa.

Especialistas ainda estão a debruçar-se sobre este assunto para entender toda a extensão, duração e impacto que estas sequelas podem ter na qualidade de vida dos indivíduos recuperados, tal como comentado aqui - numa compilação geral do que se sabe até ao momento sobre este assunto.

"Enquanto falamos, milhares de pessoas no mundo inteiro estão a lutar pelas suas vidas em unidades de terapia intensiva. E outros milhões continuam a viver com os efeitos debilitantes da condição pós-COVID-19" - Tedros Adhanom

Com um maior número de infecções por COVID-19, maiores são os riscos de desenvolver sequelas pós-COVID-19, tal como noticia a CNN sobre estudos recentes na temática.

O desafio das coberturas vacinais

Outro ponto importante que o Diretor Geral da OMS comenta frequentemente é sobre a falta de equidade nas coberturas vacinais do mundo. Enquanto há países que aplicam um segundo ou terceiro reforço na sua população, apenas 29,8% da população de países de baixo rendimento receberam pelo menos uma dose das vacinas contra a COVID-19, segundo o Our World in Data.

Com baixas coberturas, o risco de uma transmissão sustentada do vírus é grande, e com isso, o risco de novas variantes de maior preocupação surgirem passa a aumentar também. Novas "versões" da Ómicron, variante de dominância global, tem preocupado devido à sua elevada transmissão em paralelo a um escape maior dos anticorpos neutralizantes gerados pela resposta à infeção ou à vacinação.

Estratégias globais de aumentar a equidade no acesso e aplicação das vacinas, bem como estratégias locais de aumentar e manter elevadas coberturas vacinais nos países devem ser mantidas, juntamente com medidas para melhorar a ventilação dos ambientes e reduzir o risco de exposição em ambientes mais propensos a isso, ou em estações em que o aumento da circulação de vírus respiratórios aumenta.

A desinformação continua "pandémica"

Juntamente com tantos desafios, a desinformação ainda encontra um grande espaço para circular narrativas desqualificadas e que colocam em risco a saúde das pessoas. É de suma importância que a consciencialização sobre medidas e estratégias que apresentam fundamento científico, bem como estratégias de combate à desinformação, continuem de forma permanente em curso daqui em diante.

O movimento anti-vacina e anti-ciência tem vindo a encontrar espaços em vários países, num cenário onde temos o desafio das coberturas vacinais para as vacinas contra a COVID-19 e contra outras doenças também.

Sobre os termos

Algumas pessoas podem ficar um pouco confusas em relação à definição de Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional (ESPII) versus Pandemia.

Já o termo pandemia é diferente e faz referência à disseminação mundial de uma nova doença, quando vários continentes têm uma transmissão sustentada do surto. Para a OMS, a declaração de uma pandemia é uma caracterização ou descrição de uma situação. - G1

O G1 publicou uma reportagem a explicar estas definições. A ESPII, segundo a plataforma, é um termo técnico que auxilia na implementação e coordenação de esforços globais perante uma ameaça global.