OMM alerta que em 2023 atingiu-se um novo recorde de concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera
Segundo a Organização Meteorológica Mundial, organização das Nações Unidas, a velocidade de acumulação de dióxido de carbono na atmosfera é a maior da história da humanidade.
O Boletim Anual de Gases de Efeito Estufa divulgado pela Organização Meteorológica Mundial, a menos de 15 dias do início da COP29, em Baku, mostra que, apesar das promessas de redução feitas pela maioria dos países, as emissões de carbono continuam a crescer.
Os níveis de gases com efeito de estufa atingiram um novo recorde em 2023
O Boletim de Gases com Efeito de Estufa da Organização Meteorológica Mundial (OMM) é uma das publicações emblemáticas da OMM lançada para informar a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP), e vai agora na sua 20ª edição.
De acordo com o último Boletim da OMM, o dióxido de carbono (CO2), gás com efeito de estufa mais importante na atmosfera relacionado com as atividades humanas, está a acumular-se na atmosfera mais rapidamente do que em qualquer outro período.
No ano passado, 2023, a concentração média global de CO2 à superfície atingiu 420,0 partes por milhão (ppm), a de metano 1 934 partes por mil milhões e a de óxido nitroso 336,9 partes por mil milhões (ppb). Estes valores representam respetivamente 151%, 265% e 125% dos níveis pré-industriais (antes de 1750).
Os valores apresentados são calculados com base nas observações de longo prazo efetuadas no âmbito da rede de estações de monitorização da atmosfera (Global Atmosphere Watch).
O aumento de CO2 na atmosfera em 2023 foi superior ao de 2022, embora inferior ao dos três anos anteriores. O aumento anual de 2,3 ppm marcou o 12º ano consecutivo com um aumento superior a 2 ppm.
Causas do aumento da concentração de gases com efeito de estufa na atmosfera
Segundo o Boletim da OMM, o aumento da concentração de gases com efeito de estufa na atmosfera tem sido provocado pelas grandes emissões de CO2 provenientes de incêndios florestais e de uma possível redução da absorção de carbono pelas florestas. Estes dois efeitos dos ecossistemas, juntamente com as emissões elevadas de CO2 provenientes de combustíveis fósseis, devido às atividades humanas e industriais têm sido os principais responsáveis pelo aumento dos gases com efeito de estufa na atmosfera.
No entanto, é de referir uma variabilidade considerável de ano para ano devido a fenómenos naturais como o El Niño e o La Niña.
Durante os anos de El Niño, os níveis de gases com efeito de estufa tendem a aumentar, porque a vegetação mais seca e os incêndios florestais reduzem a eficiência dos sumidouros de carbono da terra, além de que as águas mais quentes do El Niño absorvem menos CO2. De referir que em maio de 2023, a Terra passou de uma La Niña de 3 anos para um El Niño.
O efeito de aquecimento do nosso clima pelos gases de longa duração com efeito de estufa, no período de 1990 a 2023, aumentou 51,5%, sendo o CO2 responsável por cerca de 81% deste aumento, de acordo com o Índice Anual de Gases com Efeito de Estufa da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, NOAA, citado no Boletim da OMM.
Enquanto as emissões continuarem, os gases com efeito de estufa continuarão a acumular-se na atmosfera, conduzindo ao aumento da temperatura global.
De acordo com a OMM, a última vez que a Terra registou uma concentração comparável de CO2 foi há 3 a 5 milhões de anos, quando a temperatura era 2 a 3°C mais quente e o nível do mar estava 10-20 metros mais alto do que atualmente.
O Boletim da OMM alerta para o facto de estarmos perante um potencial ciclo vicioso. A variabilidade climática natural desempenha um papel importante no ciclo do carbono. Mas, num futuro próximo, as próprias alterações climáticas poderão fazer com que os ecossistemas se tornem maiores fontes de gases com efeito de estufa.
Em 2023, as emissões globais de carbono dos incêndios foram 16% superiores à média, o sétimo lugar entre todas as épocas de incêndios desde 2003. O Canadá registou a sua pior época de incêndios florestais de que há registo. A Austrália registou o período de três meses mais seco de que há registo em 2023, de agosto a outubro, com graves incêndios florestais.