Óleos vegetais e gorduras animais geram combustíveis “verdes”. Galp investe 650 milhões em Sines

A Galp recebeu três reatores para a sua nova unidade de biocombustíveis avançados em Sines. A partir de 2026, óleos vegetais e gorduras animais vão gerar combustíveis “verdes” para a aviação e gasóleo de origem biológica.

óleos vegetais
Em Sines, a Galp vai transformar óleos vegetais e gorduras animais em combustível, que será utilizado na aviação. E também dará origem a gasóleo de origem biológica.

Os biocombustíveis são uma alternativa aos combustíveis fósseis. Têm como finalidade ajudar a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa no setor dos transportes e contribuir para as metas da neutralidade carbónica até 2050.

O biodiesel, por exemplo, é um biocombustível obtido a partir da mistura e da reação de um óleo vegetal ou da gordura animal com um álcool. Como o etanol ou o metanol, por exemplo. Durante esse processo químico também é necessária a presença de um catalisador.

Esta nova gama de combustíveis tem sido olhada como uma excelente alternativa ao uso do diesel e pode ser utilizada, por exemplo, nos motores dos camiões, autocarros e tratores, mas, também, na geração de energia elétrica nas unidades industriais e, ainda, nos motores estacionários, como os geradores.

Os três reatores da nova unidade de produção de biocombustíveis avançados da Galp em Sines, que a partir de 2026 passarão a produzir combustíveis para a aviação e gasóleo de origem biológica, atracaram em finais de dezembro.

Ciente deste potencial de produção de energia, a Galp considera que a chegada destes três novos reatores é “um marco importante no projeto de transformação da refinaria” de Sines, sendo igualmente “parte de um projeto pioneiro na Europa”.


Esta será “a primeira unidade de produção de biocombustíveis avançados integrada num sistema refinador que inclui uma unidade de produção de hidrogénio verde à escala industrial”, que também está em construção na refinaria de Sines.

Investimento global de 650 milhões

Filipe Silva, presidente executivo da Galp, revela, em comunicado, que “estes projetos, dois dos maiores desta natureza, representam um investimento global de 650 milhões de euros”, o que constitui “um contributo significativo para a transformação e o crescimento do setor industrial em Portugal”.

Refinaria
A unidade de hidrogénio verde da Galp em Sines representa um investimento de 250 milhões de euros. A unidade de biocombustíveis avançados mobiliza um investimento de 400 milhões.

Com esta aposta, a Galp coloca-se “na vanguarda do desenvolvimento de soluções de baixo carbono imprescindíveis para a transição energética”, diz o CEO.

A unidade de hidrogénio verde, representando um investimento de 250 milhões de euros, terá a capacidade de 100 MW de eletrólise. Produzirá até 15 mil toneladas de hidrogénio renovável por ano, avança a Galp.

Por sua vez, a unidade de biocombustíveis avançados, em que se integram estes três novos reatores instalados em Sines, “mobiliza um investimento de 400 milhões de euros, em parceria com a japonesa Mitsui, e terá uma capacidade de produção de 270 mil toneladas por ano”.

76 postos de trabalho permanentes

Este projeto, que empregará na fase de construção cerca de 750 trabalhadores em termos médios e 1150 no pico, irá criar 76 postos de trabalho permanentes durante a fase de operação, explica a companhia liderada por Filipe Silva.

E como se alimentará esta nova unidade industrial? A Galp adianta que a refinaria irá receber “óleos vegetais e gorduras animais devidamente tratadas e transformá-las em combustível”, o qual será utilizado na aviação.

gordura animal
O biodiesel é um biocombustível obtido a partir da mistura e da reação de um óleo vegetal, ou da gordura animal, com um álcool. O etanol ou o metanol, por exemplo.

Esse processo também dará origem a gasóleo de origem biológica, com “características idênticas ao gasóleo utilizado nos motores de combustão”. E será no interior destes reatores que se processará essa reação química, pela “injeção de hidrogénio e aumento da pressão e da temperatura”, explica a Galp.

Com um peso combinado superior a 500 toneladas, os três reatores, em aço maciço, produzidos em Itália, foram transportados do terminal de contentores do porto de Sines para a refinaria da Galp através de um sistema de módulos motorizados que, no caso do maior dos três reatores, o VO-R-1B, era constituído por 18 eixos e 72 rodas.

Este equipamento VO-R-1B irá seguir “um trajeto mais longo do que os restantes, uma vez que a sua dimensão – 30 metros com um peso de 250 toneladas – impede a sua passagem por baixo dos viadutos existentes no percurso mais curto”.

A Administração do porto de Sines avançou, em comunicado, que “esta foi uma das cargas mais pesadas movimentadas” naquela infraestrutura portuária e no Terminal XXI, operado pela PSA Sines.

Biocombustíveis em expansão na Europa

O setor dos biocombustíveis e do hidrogénio verde estão em amplo crescimento na Europa.

Exatamente há um ano, a 18 de janeiro de 2024, a Associação Portuguesa de Produtores de Bioenergia (APPB) anunciou, em comunicado, que os novos combustíveis renováveis, como o hidrogénio verde ou os biocombustíveis, “poderão criar 1,7 milhões de novos empregos na Europa e contribuir para um crescimento do PIB europeu de 145 mil milhões de euros até 2040”.

Citando o estudo “Green molecules: the imminent revolution of the employment market in Europe”, realizado pelo ManpowerGroup e pela Cepsa e apresentado a meados de janeiro de 2023 na reunião do Fórum Económico Mundial em Davos, a APPB traçou o cenário: "Nas próximas duas décadas, Espanha vai liderar a produção de hidrogénio verde e o crescimento do emprego associado”.