O último refúgio de macacos selvagens na Europa está a prosperar: porquê?
Hannah Stitfall é uma repórter de vida selvagem, cineasta e conservacionista que na última década tem fotografado e filmado animais na natureza. Descubra a sua aventura em Gibraltar, onde descreve a incrível coexistência de macacos-berberes com humanos.
Hannah Stitfall, prestigiante repórter da vida selvagem, mostra-nos, num vídeo publicado pela BBC Earth, a sua aventura em Gibraltar onde tenta descobrir porquê e como algumas das suas favoritas espécies coexistem em ambiente urbano com o ser humano.
Este território britânico, na ponta austral de Espanha, é o último local na Europa que possui macacos selvagens e o único onde esta espécie - que está em perigo -, existe, e cuja população está em crescimento. Nos restantes, como Marrocos e Argélia está a decrescer.
A importância do macaco-berbere para Gibraltar
A população urbana de Gibraltar afigura-se como uma das chaves para a sobrevivência e prosperidade do macaco-de-gibraltar ou macaco-berbere em ambiente urbano e humano. Estes animais selvagens, muito celebrados e notáveis em Gibraltar por causa do turismo que atraem são o símbolo de Gibraltar. Milhões de turistas visitam Gibraltar anualmente e os macacos estão claramente no top de “coisas a visitar”.
Todavia, Gibraltar é o único local na Europa onde é possível observar macacos selvagens. Stiftall decide escalar até ao território deles: o famoso Rochedo de Gibraltar. Fluxos de táxis, carros e autocarros, repletos de turistas, chegam ali continuamente. “É um caos absoluto, nem sequer estou a brincar”, afirma Stitfall.
Duas espécies de primatas – macaco-berbere e Homem - convivem juntos durante várias horas, diariamente. E qualquer mal-entendido pode levar a um conflito, tal como acontece em relações muito próximas. Saliente-se este risco dado que há um lanço de escadas no Rochedo, muito popular entre os turistas, onde os macacos muitas vezes repousam e onde ocorre um grande aglomerado de pessoas.
Caso estes animais selvagens se sintam ameaçados por causa da acumulação maciça de turistas que ocorre nos lanços de escadas bastante apertados, ou até mesmo devido à tentativa de interação ou toque por parte das pessoas, podem reagir agressivamente por sentirem demasiada proximidade e desconhecerem as intenções dos humanos.
St Michael’s Cave: a interação entre humano e macaco-berbere
Hannah Stitfall encontra-se com Tessa Feeney - especialista local sobre os macacos-berberes -, e tenta descobrir como os macacos e os humanos estão a coexistir. Para tal deslocam-se a St. Michael’s Cave, um local repleto de turistas, onde pretendem observar a interação de humanos e macacos-berberes.
Por exemplo, numa das cenas registadas em vídeo, aquilo que acontece é imensamente NÃO recomendável: um humano alimentou um macaco-berbere com comida repleta de açúcar, perigosa e nada saudável para o animal selvagem. Uma das consequências deste tipo de ações é que os macacos podem tornar-se mais agressivos com as pessoas, correndo atrás delas em busca de comida humana.
Prós e contras da coexistência entre macaco berbere e humano em Gibraltar
É certo e sabido que este território europeu, o último refúgio ou reduto de uma espécie de macaco-selvagem na Europa, é palco de duas espécies de primatas muito inteligentes que partilham o mesmo espaço.
Por um lado, os macacos-berberes, apesar da presença humana, estão no seu habitat natural, trazem uma importantíssima receita económica para Gibraltar através do turismo maciço e são um animal carismático, popular e as verdadeiras estrelas deste local.
Por outro lado, também existe conflito nesta ligação. A maior causa de morte destes animais são acidentes de trânsito rodoviários e isso depreende-se bem pela quantidade impressionante de carros, táxis e autocarros que a cada hora, diariamente, chega a este local.
Hannah Stitfall questiona Tessa Feeney de que maneira estão os macacos em Gibraltar a lidar com a vida ao lado das pessoas, ao qual Feeney responde que os macacos-berberes são capazes de lidar com a presença humana, contudo…
Infraestruturas como as dos lanços de escadas, entre outras, não são as que causam problemas a estes macacos, que tão bem adaptados estão ao ambiente humano, mas sim outros aspetos. Aliás, usam alguns aspetos das construções e do ambiente humano para o seu próprio benefício.
Segundo Feeney, “Por exemplo, com bastante frequência, as estradas alcatroadas tendem a ser agradáveis e quentes de manhã, pelo que se sentam frequentemente sobre elas para se manterem quentes.”
Algumas curiosidades sobre a interação com o macaco-berbere e o seu comportamento
Para tirar fotografias deste animais há que respeitá-los e por isso ter cuidado e prudência no modo como o fazemos. Meio metro de distância; baixar o seu corpo para que seja menos ameaçador, tornando-se mais pequeno (assim evita olhar o macaco de cima). Regra geral eles são pacíficos, relaxados e gostam que lhes tirem fotografias.
Uma curiosidade que foi bem realçada por Hannah Stitfall foi o comportamento repetitivo e bastante comum que observou nestes macacos: estão constantemente a limparem-se e a escovarem-se uns aos outros. Feeney confirma este tipo de comportamento, explicando que se trata de uma grande experiência social, excelente para conectar estes animais uns com os outros. Também serve para manterem o seu pêlo limpo e livre de piolhos.
Os macacos berberes são macacos e não símios, pois o que distingue uns de outros é a presença de uma cauda. Mas ao longo do tempo, enquanto evoluíam, os macacos-berberes perderam-nas e atualmente apenas possuem um vestígio de cauda, que é, segundo Stitfall “pequeno resto na base da sua coluna vertebral”, algo que é exatamente o mesmo que nós seres humanos termos “um osso da cauda, que é uma vértebra fundida”, conclui.
Por fim, Stitfall conclui que, um dos aspetos que mais gostou acerca deste local foi o facto de estar repleto de macacos-berberes bebés, e que a população esteja a crescer, apesar de estar em declínio noutros locais onde esta espécie existe.