O súbito e preocupante desaparecimento do lago Sawa no Iraque
A história do lago Sawa, Iraque, é também o desaparecimento de pântanos e lagoas, bem como da sua biodiversidade, devido às alterações climáticas e à intervenção humana. Em Portugal e Espanha não faltam exemplos.
O lago Sawa é uma massa de água única no Iraque, caracterizada pelo seu valor de salinidade, que é o mais alto entre as massas de água do interior do país. É uma bacia endorreica, localizada perto do rio Eufrates, cerca de 23 km a oeste da cidade de Al-Samawa.
Este lago não tem entrada nem saída, mas extrai água do Eufrates através de um sistema de fendas e fissuras que conjugadas transportam a água para os aquíferos debaixo dele. Historicamente, o nível da água flutuava durante as estações seca e húmida, mas não secava devido ao estado de equilíbrio entre o abastecimento e a evaporação de água. Isto mudou radicalmente em 2022.
Porque é que o lago Sawa desapareceu?
"Este ano, pela primeira vez, o lago desapareceu", disse o ativista ambiental Husam Subhi. "Em anos anteriores, a área de água tinha diminuído durante as estações secas".
O lago, de cinco quilómetros quadrados, tem vindo a secar desde 2014, diz Youssef Jabbar, chefe do departamento ambiental da província de Muthana. As causas têm sido "as alterações climáticas e o aumento das temperaturas", explicou.
Mas isto não é tudo, porque um comunicado do governo emitido há algumas semanas também apontava para "mais de 1.000 poços escavados ilegalmente" para a agricultura na área. Além disso, as fábricas de cimento e sal próximas "drenaram quantidades significativas de água da água subterrânea que alimenta o lago", disse Jabbar.
Os habitantes locais esperam um milagre para que o lago possa voltar a ressurgir. O uso de aquíferos teria de ser limitado e, após três anos de seca, a área precisaria de várias temporadas de chuvas abundantes, num país atingido pela desertificação e considerado um dos cinco mais vulneráveis às alterações climáticas, de acordo com a AFP.
Exemplos semelhantes na Península Ibérica
Infelizmente, não é complicado encontrar casos paralelos na Península Ibérica. Um dos casos mais mediáticos é o da aldeia de Aceredo, Ourense, na fronteira da Galiza (Espanha) com Portugal. No final de 2021, a aldeia galega de Aceredo ficou de novo à vista de todos. A falta de água no rio Lima provocou uma descida da barragem do Lindoso. Esta povoação tinha ficado submersa, em 1992, quando a barragem do Alto Lindoso fechou as comportas. Por estes dias, Aceredo recebe a visita de alguns dos antigos moradores e vários turistas.
Outros exemplos à escala nacional, e cujas massas de águas estão em risco de desaparecer devido à seca que o país atravessa, são o Sítio das Fontes, na vila de Estômbar, município de Lagoa, ou até mesmo o cancelamento da operação da abertura ao mar da Lagoa de Santo André, no concelho de Santiago do Cacém, distrito de Setúbal, que não foi realizada este ano, devido à situação de seca extrema. Esta operação colocaria em risco a atividade piscatória e a biodiversidade local. A sua abertura costuma ocorrer anualmente por altura do equinócio da Primavera e, além do espetáculo natural, visa a renovação das espécies e a limpeza da água.
No Iraque, o lago Sawa não é o único corpo de água que enfrenta os perigos da seca. As redes sociais iraquianas estão frequentemente cheias de fotografias de solos grotescamente rachados, tais como os pântanos de Howeiza no sul, declarados Património da Humanidade pela UNESCO, ou o lago Razzaza na província central de Karbala.
Latif Dibes, natural de Samawa mas residente na Suécia, tem trabalhado ativamente ao longo da última década para aumentar a consciência ambiental na região. "Tenho 60 anos e cresci com o lago. Pensei que desapareceria antes dele, mas infelizmente morreu antes de mim", disse.