O stress pode causar cancro? A ciência explica a relação entre as hormonas e o desenvolvimento da doença
O ritmo frenético da vida quotidiana expõe-nos a situações de stress constantes, mas... o stress prolongado pode ser um fator de risco para o desenvolvimento do cancro? Os investigadores são claros.
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O cancro é uma das principais causas de morte no mundo e a sua origem está ligada a uma série de fatores, incluindo a genética, o estilo de vida e a exposição a substâncias cancerígenas. No entanto, muitas pessoas perguntam-se se o stress prolongado pode ser um fator que favorece o desenvolvimento da doença.
A ciência investigou a relação entre o stress psicológico e o cancro, especialmente no que diz respeito às hormonas do stress e ao seu impacto no organismo.
As hormonas do stress e o seu impacto no organismo
O stress ativa o sistema nervoso autónomo, desencadeando a libertação de hormonas como o cortisol, a adrenalina e a noradrenalina. Estas substâncias desempenham um papel fundamental na resposta do organismo à ameaça, dando prioridade ao fluxo de energia para o cérebro e para os músculos para facilitar a reação de luta ou fuga. No entanto, outras funções fisiológicas, como a resposta imunitária e a reparação celular, passam para segundo plano.
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— FacultadMedicinaUNAM (@FacMedicinaUNAM) January 20, 2025
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Embora esta resposta seja benéfica a curto prazo, o stress crónico pode ter efeitos negativos para a saúde. Tem sido associado a doenças cardiovasculares, a uma menor resistência às infeções e a dificuldades de cura. Nos últimos anos, surgiram também provas que sugerem uma ligação entre o stress prolongado e o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer e a doença de Parkinson.
Qual é a relação entre o stress e o cancro?
A Organização Mundial de Saúde (OMS) não considera o stress como uma causa direta de cancro. O Instituto Nacional do Cancro dos Estados Unidos defende que a ligação entre o stress e o cancro pode ser indireta, devido à influência do stress crónico no desenvolvimento de hábitos pouco saudáveis, como fumar, beber álcool ou fazer uma má alimentação.
No entanto, estudos experimentais recentes começaram a mostrar que a ligação pode ir mais longe e ter um impacto direto na formação de tumores.
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Estudos laboratoriais mostraram que o stress crónico pode enfraquecer o sistema imunitário, reduzindo a sua capacidade de eliminar células anormais que podem tornar-se cancerosas. Além disso, observou-se que certas hormonas do stress podem afetar os genes responsáveis pela supressão dos tumores, como a p53, uma proteína-chave na regulação do crescimento celular.
Por exemplo, estudos realizados em ratos mostraram que a injeção de corticosterona (equivalente ao cortisol no homem) diminui a função do gene p53, favorecendo o desenvolvimento de tumores.
Desenvolvimento de estratégias preventivas
Com o avanço da investigação sobre o impacto do stress na saúde, surge a possibilidade de utilizar biomarcadores para medir o nível de stress e avaliar o seu impacto no aparecimento de doenças. Graças às tecnologias “ómicas” (genómica, proteómica, metabolómica) e à utilização de grandes volumes de dados, é possível analisar os níveis de cortisol e de outras hormonas em amostras de sangue, urina ou saliva ao longo do tempo.
Se for confirmada uma ligação direta entre o stress e o cancro, poderão ser desenvolvidas estratégias preventivas baseadas na monitorização destes marcadores e na aplicação de intervenções destinadas a reduzir o stress crónico. Isto incluiria técnicas de gestão do stress, como a meditação, o exercício físico e o apoio psicológico.
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Embora o stress não seja oficialmente reconhecido como uma causa direta do cancro, as provas experimentais sugerem que pode desempenhar um papel no aparecimento e na progressão da doença. A investigação neste domínio poderá abrir a porta a novas estratégias médicas para reduzir o impacto das hormonas do stress na saúde e diminuir o risco de doenças graves no futuro.
Referência da notícia:
Moore JX, Andrzejak SE, Bevel MS, Jones SR, Tingen MS. Exploring racial disparities on the association between allostatic load and cancer mortality: A retrospective cohort analysis of NHANES, 1988 through 2019. SSM Popul Health. 2022 Jul 31;19:101185. doi: 10.1016/j.ssmph.2022.101185. PMID: 35990411; PMCID: PMC9382324.