O que são as tão badaladas “terras-raras” e o porquê da sua importância global
Muito se tem falado nos últimos dias sobre terras-raras. Mas afinal do que se trata e porque são tão procuradas? Neste artigo procuraremos dar-lhe estas e outras respostas quanto as estes minérios.

Nos últimos tempos muito se tem ouvido falar em terras-raras, sobretudo devido à insistência do Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald J. Trump em forçar um acordo que dê garantias ao gigante americano na exploração destas em território ucraniano, em troca de apoio militar a Kiev.
Ou então porque a China parecer querer restringir novamente a exportação de alguns destes minerais "críticos", como parte da guerra comercial com os EUA, que ainda muito promete dar que falar.
Afinal de contas, estas não são realmente “terras”, mas sim um grupo muito diverso de elementos químicos, mais precisamente dezassete metais com propriedades magnéticas e eletroquímicas tão fantásticas que produzem mais energia com menos poluição.
Falamos de escândio, ítrio e os quinze elementos do grupo dos lantanídeos (lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio e lutécio). O escândio e ítrio estão incluídos entre as terras-raras porque frequentemente aparecem misturados com lantanídeos nos mesmos depósitos.
Estas “terras” na verdade também não são assim tão raras. O cério, por exemplo, é mais comum na crosta terrestre do que o cobre, já o neodímio, a segunda mais comum, é cerca de duas vezes mais abundante do que o tão badalado lítio.
Então, porque têm esse nome?
O nome "terras" é assim atribuído porque, na história da química, os óxidos, rochas que podiam ser dissolvidas em água, assim eram denominados. Já o termo “raras” acredita-se que esteja relacionado com o facto de um mineiro na Suécia ter encontrado, em 1788, uma rocha negra peculiar, qualificação ainda hoje utilizada, apesar de alguns deles serem relativamente abundantes na crosta terrestre.
Apesar da sua abundância relativamente elevada, como se disse, os minerais das terras-raras são mais difíceis de explorar do que os minerais de metais como o cobre, chumbo, zinco e muitos outros. Esta dificuldade torna os metais das terras-raras relativamente caros, pelo que o seu uso industrial foi limitado até serem desenvolvidas técnicas de separação de alto rendimento em meados do século XX.

Estas matérias primas têm aplicação em grande variedade de modernas tecnologias de ponta, mais do que apenas o evidente interesse económico. Podem ser usadas para fabricar vários objetos, tais como ecrãs de telemóveis, discos rígidos, lentes de telescópios ou até tacos de basebol. Os ecrãs de computadores e televisores, por exemplo, são compostos por materiais luminescentes que contêm várias terras-raras (como o ítrio, o európio e o térbio), que geram as cores que nós observamos.
Apesar de serem elementos químicos muito úteis para a humanidade, a extração destas matérias-primas é bastante complexa e nefasta para o meio ambiente e populações que estejam estabelecidas nas proximidades.
A acidificação dos solos e dos cursos de água, a eutrofização e a contaminação do ar com partículas e gases tóxicos lançados durante o processamento extrativo são alguns dos problemas relacionados com a exploração destes minérios. Já a libertação de elementos radioativos é o maior de todos os problemas.
Onde se encontram as maiores reservas?
Estima-se que grande parte das terras-raras esteja localizada na Ásia, com especial destaque para a China, que detém cerca de 44 milhões de toneladas. Além da China, países como o Vietname e o Brasil (com 22 milhões de toneladas), a Rússia (12 milhões de toneladas) e a Índia (praticamente sete milhões de toneladas) também possuem reservas destes metais nos seus territórios.

Além da sua importância aqui já documentada, as terras-raras são fundamentais para a transição energética, assim como para as telecomunicações, a defesa, setor aeroespacial e medicina. Muitas das tecnologias de diagnóstico e tratamento hoje disseminadas (como a ressonância magnética, os raios-x ou as terapias oncológicas) utilizam-se destes minérios.
Mas o comércio global de minerais enfrenta atualmente um cenário de grande incerteza, com até 30% das transações em risco de poderem ser interrompidas na próxima década, consequência direta do novo redesenho geopolítico e das prementes tensões comerciais internacionais.
Ao mesmo tempo, julga-se a procura por estes minerais poderá aumentar em até dez vezes até 2035, atingindo os 750 mil milhões de dólares. A pressão exercida sobre os recursos, tal como vimos, está a ser agravada por restrições comerciais, políticas protecionistas e pela concentração do processamento em poucos países, nomeadamente a China, responsável por cerca de 60% da capacidade global.