O que faria se tivesse de desviar um asteroide para salvar a Terra? Aceite a missão e saiba que trunfos pode usar

Entre nesta aventura e decida o que fazer diante das várias opções que a comunidade científica dispõe para evitar a destruição do nosso planeta.

Asteroide em rota de colisão com a Terra
Os astrónomos calcularam que uma colisão entre um asteroide e a Terra não ocorrerá durante pelo menos os próximos 100 anos. Foto: Pixabay

Em finais de janeiro, as Nações Unidas ativaram pela primeira vez o Protocolo de Defesa Planetária, criado há pouco mais de uma década, para reagir a um eventual impacto do asteroide 2024 YR4 na Terra.

Por ser maior que 10 metros e ter atualmente 2,3% de probabilidade de colidir com o nosso planeta em 2032, a ONU mobilizou as equipas de dois grupos de reação a asteroides.

O International Asteroid Warning Network (IAWN), da NASA, tem a missão de apoiar os governos a analisar respostas às consequências do impacto.

O Space Mission Planning Advisory Group (SMPAG), da Agência Espacial Europeia, facilita, por seu turno, a troca de informações entre os países e planeia ações para reduzir os danos causados por objetos próximos da órbita da Terra.

Mas não é preciso entrar em pânico. As probabilidades de o asteroide atingir a Terra são muito baixas. Além disso, há uma comunidade global de investigadores que trabalha dia e noite para proteger o nosso planeta.

A sua missão é detetar asteroides potencialmente perigosos e planear meticulosamente as estratégias para afastá-los da nossa órbita ou até mesmo destruí-los antes de se aproximarem da Terra.

O trabalho envolve explorar o espaço com potentes telescópios e sondas em busca de potenciais ameaças. A Agência Espacial Europeia (ESA, sigla em inglês) tem, por exemplo, a sua própria contagem: 1665 asteroides com probabilidade diferente de zero de atingir a Terra em algum momento no futuro. Simplificando a linguagem matemática, significa que em nenhum dos casos as hipóteses são muito elevadas.

Quatro cenários e uma decisão

Longe dos filmes-catástrofes de Hollywood e, no mundo real, não estamos ainda na fase em que é urgente executar missões de emergência. Mas é preciso estarmos preparados, fazendo testes e simulações em laboratório e também exercícios no espaço que permitam responder às perguntas ainda sem resposta.

Asteroide
Segundo a NASA, a Terra é atingida em média uma vez por ano por um asteroide do tamanho de um carro. A desintegração, porém, acontece antes do impacto no solo. Imagem: Pixabay

Esperemos, por isso, que aceite o comando de uma missão vital para a sobrevivência da humanidade. Entre nesta aventura e esteja pronto para, nos parágrafos que se seguem, decidir o que fazer diante dos vários recursos que a comunidade científica dispõe para evitar a colisão de um asteroide com a Terra.

Cenário 1: use um trator gravitacional para afastar o asteroide

Lance para o espaço uma nave espacial com cerca de uma tonelada de massa, posicionando-a a 150 metros de distância do asteroide. O método funciona como um trator gravitacional que altera a trajetória do obstáculo, transportando-o até uma nova órbita.

Esta opção, no entanto, só é eficaz se o tempo estiver a seu favor. Os investigadores estimam que uma missão desta natureza teria de ser lançada pelo menos uma década antes do momento previsto para o impacto.

A nave estacionada ao lado do esteroide poderia enviar informações precisas para a Terra sobre a sua posição e movimentos em tempo real.

Na posse desses dados, a equipa, sob o seu comando, estaria em condições de programar a trajetória da nave e ajustar a rota consoante os resultados obtidos ao longo dos anos. O efeito é lento, mas tem a vantagem de poder ser controlado a partir de uma base terrestre.

Cenário 2: pulverize o asteroide com raios lasers ou solares

Lance para o espaço uma frota de naves preparada para disparar lasers na superfície do asteroide. A técnica, denominada de ablação, vaporiza as rochas, criando colunas espessas de poeiras que empurram o obstáculo, mudando lentamente o seu curso.

Asteroide extermina dinaussarios
Há 66 milhões de anos, um asteroide colossal exterminou os dinossauros e abriu caminho à era dos mamíferos. imagem: John Hawkins, CC BY 2.0, via Flickr

Os testes laboratoriais desta tecnologia já permitiram aos investigadores da NASA e da ESA atualizar os modelos teóricos. Os resultados mostraram que a técnica é viável, podendo ainda ser substituída por raios solares.

Em vez de lasers a pulverizar as camadas rochosas, as naves utilizariam espelhos para direcionar a luz do Sol até à superfície do asteroide, provocando o mesmo efeito.

Cenário 3: provoque uma colisão entre uma nave espacial e um asteroide

Lance uma nave espacial contra o asteroide, como já fez a NASA. A missão Teste de Redireccionamento de Asteroides Duplo (DART, sigla em inglês) partiu em novembro de 2021 para o espaço numa viagem sem regresso.

O alvo foi Dimorphos, uma pequena lua com cerca de 160 metros de diâmetro, a orbitar Didymos, com 800 metros de largura. Foi a primeira tentativa para testar um método de desvio de um asteroide e revelou-se duplamente bem-sucedida.

A missão demonstrou que, não só é possível pilotar remotamente uma nave com precisão suficiente para atingir um alvo, como o impacto da colisão é capaz de desviar a órbita de um asteroide.

Cenário 4: recorra a armas nucleares para fazer explodir o asteroide

O método não é consensual já que boa parte da comunidade científica defende que os explosivos nucleares podem fragmentar o asteroide, originando uma violenta chuva de rochedos gigantes capazes de atingir a Terra.

Experiências mais recentes conduzidas em laboratório, todavia, sugerem que, para funcionar, a explosão nuclear teria de ocorrer acima da superfície do asteroide.

Estude todos os cenários e tome a melhor decisão

Agora que está na posse de informações valiosas, poderá tomar a melhor decisão. Há, todavia, muito ainda para aprender. No caso do 2024 YR4, descoberto no ano passado, os cientistas vão continuar a recolher dados até abril, momento em que a observação do asteroide deixa de ser possível durante três anos.

Os investigadores acreditam, no entanto, que com mais observações a serem realizadas a partir de 2028, será possível determinar com muito mais rigor as hipóteses de colisão.

Muitas outras missões estão a decorrer em paralelo. Ainda recentemente, em outubro de 2024, a Agência Espacial Europeia enviou para o espaço uma nave para monitorizar de perto o 99942 Apophis.

Asteroide na órbita da Terra
Tudo, desde o tamanho à composição, passando pelo formato ou pelo brilho influencia a forma como um asteroide se move pelo espaço. Imagem: Chil Vera/Pixabay

O asteroide, com 375 metros de diâmetro, é aquele que, no dia 13 de abril de 2029, mais perto irá passar da Terra. A oportunidade é única para a investigação, dado que só ocorre uma vez em cada cinco ou 10 mil anos.

A China, entretanto, também já anunciou que, até 2030, irá lançar a sua primeira missão para fazer colidir uma nave espacial contra um asteroide com quase 30 metros de largura.

É claro que todos estes exercícios são simulações. Teremos ainda de passar pela hora da verdade. Mas é importante saber que, com tempo e cooperação à escala planetária, a humanidade está, neste momento, mais bem preparada do que nunca.

Referências do artigo

Potential asteroid impact notification. Potential for Impact of Near-Earth Asteroid 2024 YR4 on 22 December 2032. International Asteroid Warning Network (IAWN)

William Brown. A novel push-pull asteroid magnetic Tractor(MT). Science Direct.

J. Campbell, c. Phipps, L. Smalley, J. Reilly, D. Boccio. The IMPACT IMPERATIVE - Laser Ablation For Deflecting Asteroids, Meteoroids, And Comets From Impacting The Earth. NASA

Double Asteroid Redirection Test (DART). NASA

Nathan W. Moore, Mikhail Mesh, Jason J. Sanchez, Marc-Andre Schaeuble, Chad A. McCoy, Carlos R. Aragon, Kyle R. Cochrane, Michael J. Powell & Seth Root. Simulation of asteroid deflection with a megajoule-class X-ray pulse. Nature Physics.