O que é um rio atmosférico? Vem aí o fenómeno que poderá intensificar a chuva em Portugal
Dentro de poucos dias um rio atmosférico poderá atingir Portugal continental, produzindo chuva abundante e generalizada nalgumas regiões. Que fenómeno é este? Poderá repetir-se na segunda quinzena de outubro? Contamos-lhe aqui na previsão!
Vêm aí mudanças! Nestas últimas semanas o calor excecional tem sido notícia em Portugal, que tal como grande parte da Europa tem sido condicionado meteorologicamente por uma massa de ar extremamente quente para a época do ano, o que provocou vários recordes de temperaturas e agravou a seca em várias regiões do país. Contudo, tudo indica que a partir de sexta-feira, 13 de outubro, se registará um volte-face no panorama.
Ao longo da segunda metade desta semana a crista subtropical acabará por enfraquecer, abrindo caminho a depressões e frentes associadas que vão assim ser capazes de se aproximar da geografia de Portugal continental. Tudo isto acontecerá, previsivelmente, em simultâneo com uma descida geral e significativa das temperaturas, esperando-se valores mais em concordância com as datas em que estamos inseridos.
Rio atmosférico em direção a Portugal: que fenómeno é este?
Segundo o modelo da nossa maior confiança (ECMWF) é provável que as altas pressões se estabeleçam em redor da Escandinávia. Isto faz com que as depressões atlânticas que irão condicionar o estado do tempo em Portugal sejam provenientes tanto de latitudes médias-altas, como das mais baixas. Estas últimas podem vir a interagir com outros sistemas de baixas pressões de carácter tropical e subtropical, o que potencialmente geraria rios atmosféricos que rumariam até ao nosso país.
Um rio atmosférico é uma faixa longa, estreita e de transição na qual ocorre um transporte horizontal de vapor de água, e está normalmente associado a uma corrente de jato de baixo nível antes de uma frente fria de uma depressão. O vapor de água nos rios atmosféricos é fornecido por fontes de humidade tropicais e/ou extratropicais.
Os rios atmosféricos são capazes de produzir precipitação forte e generalizadas, sendo forçados a subir, por exemplos em montanhas, que estão bem expostas a estes fluxos de humidade. O transporte horizontal do vapor de água nas nossas latitudes ocorre principalmente nos rios atmosféricos e centra-se na troposfera inferior.
Estas faixas estreitas abrangem milhares de quilómetros e costumam persistir durante vários dias. Os rios atmosféricos são como “autênticas autoestradas” que distribuem a humidade desde as zonas tropicais ou subtropicais a outras latitudes médias e altas da Terra. Por outro lado, na latitude de Portugal continental surgem com maior frequência entre o fim do outono e o início da primavera.
Rios atmosféricos de carácter atlântico: aqueles que mais atingem o nosso país
Os rios atmosféricos que afetam Portugal continental nascem no Atlântico e são responsáveis por conduzir ar subtropical temperado e muito húmido. Como já explicámos, a precipitação é normalmente muito abundante e eficiente, sobretudo nas áreas e regiões que se situam sob a influência destas correias transportadoras de humidade e também nos relevos bem expostos a estes fluxos, em que as acumulações de chuva podem acabar por se tornar bastante significativas.
O primeiro vai alcançar Portugal dentro de poucos dias, mas não se exclui a chegada de mais na segunda quinzena
O nosso modelo de referência prevê, para o próximo domingo (dia 15), a chegada “em cheio” de um rio atmosférico a Portugal continental, guiado por várias depressões atlânticas que irão circular por latitudes muito baixas e pelas altas pressões. Justamente, um destes centros de baixas pressões poderá manifestar algumas características subtropicais, o que requer uma atenta monitorização da situação.
Caso este cenário se concretize, a chuva será abundante e generalizada, devendo assumir uma maior expressão na fachada atlântica. O litoral português ficaria, assim, sob a influência desta “autoestrada” húmida, com a possibilidade de se registarem, grosso modo, acumulações consideráveis no Minho, Douro Litoral e Beira Litoral, bem como na maioria das áreas a oeste da Barreira de Condensação e a norte do sistema montanhoso Montejunto-Estrela. Ou seja maiores quantidades de chuva na metade Oeste e Norte-ocidental do país.
Outras partes da Região Centro também poderão ser bem regadas. Como ainda subsiste alguma incerteza nas quantidades de chuva e na trajetória da depressão, é preciso continuar a seguir a sua evolução. Após uma primeira quinzena do mês extremamente quente e estável, a segunda poderá resultar em acumulações de chuva abundantes a várias regiões de Portugal.
Açores, Madeira e, por fim, a afirmação do outono no Continente?
Os Açores poderão registar um estado do tempo mais variável nestes próximos dias, com um período instável até aos dias 14/15 de outubro e que depois terá tendência a estabilizar no começo da segunda quinzena. Quanto à Madeira, parece que irá ficar mais à margem da precipitação, mas, finalmente, estão a surgir sinais cada vez mais evidentes de que a atmosfera está a “mexer-se” e trazer até nós o outono que, nas últimas semanas, simplesmente desapareceu.