O que é o devorador de pinhões e como está a afetar as florestas portuguesas?

Há um inseto originário da América do Norte que é capaz de 'sugar' os pinhões nacionais. Chegou a Portugal pela primeira vez há mais de 10 anos. Conheça a espécie exótica que é encarada pelos produtores do pinhão como uma autêntica praga.

leptoglossus occidentalis
O percevejo da pinha (Leptoglossus occidentalis) é uma espécie de inseto hemíptero da família Coreidae. É nativo da parte ocidental da América do Norte e chegou acidentalmente à Argentina e à Europa, onde se comporta como uma espécie exótica invasora que afeta as culturas de pinhas e os viveiros de pinheiros.

A espécie exótica Leptoglossus occidentalis é um sugador cujo alimento são pinhas e flores de diversas espécies de resinosas. Dotado de uma capacidade de sobrevivência rara, numa região em que não tem inimigos naturais, pois trata-se de uma espécie exótica, este inseto não conhece fronteiras.

Dono de uma espécie de trompas pontiagudas, o Leptoglossus occidentalis, que apresenta uma dimensão pouco maior do que 2 centímetros, é capaz de penetrar a pinha para recolher o alimento, e, ao fazê-lo, absorve o pinhão em formação. O resultado são os designados “pinhões chochos”. Mas este inseto não absorve apenas o pinhão, ele também estraga a pinha que ainda está a formar-se. É importante relembrar que o processo de maturação de uma pinha leva três anos.

Saiba em que ano o sugador de pinhas chegou a Portugal e as suas árvores hospedeiras

De acordo com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), este inseto exótico - que, lembremo-nos, é mais uma praga a ameaçar a floresta autóctone e as exportações portuguesas (por exemplo, o pinheiro bravo) - chegou à Europa, mais exatamente ao Norte de Itália, já em 1999, “tendo-se aclimatado e disseminado rapidamente por vários países europeus”.

Confirmou-se a sua presença em Portugal continental no ano de 2010 na península de Tróia e na Região Norte.

Segundo a União da Floresta Mediterrânica (UNAC), o sugador de pinhas (Leptoglossus occidentalis) é um percevejo invasor nativo da zona Oeste da América do Norte. O primeiro registo em Portugal é de 2010. É um inseto picador-sugador, que se alimenta inserindo um fino estilete entre as escamas da pinha até atingir a semente que suga.

O que sabemos sobre a biologia e o ciclo de vida do sugador de pinhas?

Este inseto sugador alimenta-se de pinhas e sementes e as suas árvores hospedeiras incluem coníferas de vários géneros, tais como os pinheiros, os abetos, as píceas, os cedros, as tsugas e as pseudotsugas.

PeríodoProcesso biológico/Ciclo de vida
Novembro a abril Hibernam em abrigos (casas próximas da floresta,
armazéns, debaixo de cascas de
árvore, entre outros).
Abril-maio Os adultos deixam os
abrigos e procuram pinhais para
se alimentar e reproduzir.
7 a 10 diasEclosão dos ovos. As ninfas desenvolvem-se passando por
cinco estádios, e têm comportamento
gregário, encontrando-se nas pinhas
e agulhas.
1 mês e meio (depende da temperatura) Ciclo completo de ovo a adulto.
Até junho/julhoGeração hibernante adulta
Julho/agostoNovos adultos (1ª geração - pico de densidade de insetos adultos no campo).
Finais de setembro/outubroAdultos da 2ª geração
Finais de outubro/novembroPossibilidade de uma 3ª geração caso o outono registe temperaturas amenas
Fonte: Adaptado de União da Floresta Mediterrânica (UNAC)

A seguir a Espanha, Portugal é o país que, na atualidade, possui a maior área geográfica de pinheiro manso. Deste modo, os países ibéricos contêm cerca de 75% da área de distribuição mundial do pinheiro manso. Na última década o povoamento de pinheiro manso aumentou mais de 50% em Portugal.

Referências da notícia

Green Savers. Sabe que existe um devorador de pinhões em Portugal? SAPO. 12 Janeiro 2025.
Manuela Branco e Ana Farinha (ISA) e Conceição Santos Silva (UNAC). Sugador das pinhas leptoglossus occidentalis. UNAC - União da Floresta Mediterrânica. Fevereiro 2020.