O plâncton provavelmente não sobreviverá às futuras alterações climáticas, afirma novo estudo

O plâncton adaptou-se às mudanças da última era glaciar, mas provavelmente não sobreviverá às futuras alterações climáticas, afirma novo estudo elaborado por equipa de investigadores de várias universidades.

plâncton
As temperaturas estão a aquecer mais rápido do que se previa. Poderá a vida no planeta adaptar-se com rapidez suficiente?

Numa nova investigação, os investigadores exploraram a capacidade de adaptação ao aquecimento global de minúsculos organismos marinhos chamados plâncton. A principal conclusão: alguns plânctons são menos capazes de se adaptar atualmente do que no passado.

O plâncton pode sofrer consequências com o aquecimento dos oceanos

O plâncton vive nos primeiros metros do oceano. Estas algas (fitoplâncton) e animais (zooplâncton) são transportados pelas correntes oceânicas, uma vez que não nadam ativamente.

As alterações climáticas estão a aumentar a frequência das ondas de calor no mar. Mas é difícil prever os efeitos futuros das alterações climáticas porque algumas projeções dependem da física e da química dos oceanos, enquanto outras consideram os efeitos nos ecossistemas e nos seus serviços.

Alguns dados sugerem que as atuais alterações climáticas já modificaram drasticamente o plâncton marinho. Os modelos projetam uma deslocação do plâncton para ambos os polos (onde as temperaturas do oceano são mais baixas) e perdas de zooplâncton nos trópicos, mas podem não prever os padrões que os dados mostram. Os dados de satélite relativos à biomassa de plâncton são ainda demasiado curtos para determinar as tendências a longo prazo.

Foi comparada a resposta às alterações climáticas do passado à tendência de resposta no futuro

Para ultrapassar estes problemas, a equipa investigou a forma como o plâncton respondeu a alterações ambientais passadas e modelaram a forma como poderá responder a alterações climáticas futuras.

Exploraram, também, um dos melhores registos fósseis de um grupo de plâncton marinho com conchas duras chamado Foraminifera. Esta base de dados abrangente de distribuições atuais e passadas foi recolhida por centenas de cientistas do fundo do mar em todo o mundo desde a década de 1960. Compararam dados da última era glaciar, há cerca de 21 000 anos, e registos modernos para ver o que aconteceu quando o mundo aqueceu anteriormente.

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O facto de as atuais e futuras alterações climáticas serem mais rápidas, dificulta o processo de adaptação das espécies.

Os investigadores utilizaram modelos computacionais, que combinam tendências climáticas com caradterísticas do plâncton marinho e o seu efeito no mesmo, para simular os ecossistemas oceânicos desde a última idade do gelo até à era pré-industrial. A comparação do modelo com os dados do registo fóssil permite-nos confirmar que o modelo simulou as regras que determinam o crescimento e a distribuição do plâncton.

O estudo mostra que a temperatura ótima de algumas espécies subtropicais e tropicais para o pico de crescimento e reprodução podia lidar com o aquecimento da água do mar no passado, o que é apoiado tanto pelos dados fósseis como pelo modelo. As espécies de plâncton de águas mais frias conseguiram derivar para florescer sob temperaturas de água mais favoráveis.

Esta análise mostra que os foraminíferos conseguiram lidar com as alterações climáticas naturais, mesmo sem a necessidade de se adaptarem através da evolução. Mas será que conseguem lidar com o atual aquecimento e com as futuras alterações das condições oceânicas, como a temperatura?

Futuro da cadeia alimentar

Foi utilizado este modelo para prever o futuro sob quatro graus diferentes de aquecimento, de 1,5 a 4 °C. Infelizmente, a capacidade deste tipo de plâncton para lidar com as alterações climáticas é muito mais limitada do que era durante o aquecimento passado.

Este estudo realça a diferença entre um aquecimento mais rápido induzido pelo homem e um aquecimento geológico mais lento para o plâncton marinho.

Este estudo realça a diferença entre um aquecimento mais rápido induzido pelo homem e um aquecimento geológico mais lento para o plâncton marinho. As alterações climáticas atuais são demasiado rápidas e estão a reduzir a oferta de alimentos devido à estratificação dos oceanos, o que dificulta a adaptação do plâncton a este período.

O fitoplâncton produz cerca de 50% do oxigénio do planeta. Assim, cada segundo de oxigénio que respiramos provém de algas marinhas, enquanto o restante provém de plantas em terra.

vida marinha
Para além de um excelente sumidouro de carbono, o plâncton é a base da cadeia alimentar marinha.

Alguns plânctons comem outros plânctons. Este, por sua vez, é comido por peixes e depois por mamíferos marinhos, pelo que a energia é transferida para o topo da cadeia alimentar. Ao fazer fotossíntese, o fitoplâncton é também uma máquina natural de fixação de carbono, armazenando 45 vezes mais carbono do que a atmosfera.

Se o plâncton diminuir com o aumento das temperaturas, a vida marinha poderá estar em risco, assim como a das pessoas que consomem peixe.

Em todo o mundo, muitas pessoas dependem fortemente dos alimentos provenientes do oceano como fonte primária de proteínas. Quando as alterações climáticas ameaçam o plâncton marinho, isso tem enormes repercussões no resto da cadeia alimentar marinha.

Os mamíferos marinhos que se alimentam de plâncton, como as baleias, não terão alimento suficiente para se alimentarem e haverá menos peixe para os predadores (e, consequentemente, para as pessoas). A redução da magnitude do aquecimento e o abrandamento da taxa de aquecimento são necessários para proteger a saúde dos oceanos.

Referência da notícia:
Ying, R., Monteiro, F.M., Wilson, J.D. et al. Past foraminiferal acclimatization capacity is limited during future warming. Nature (2024).