O novo trilho de Portugal fica no centro do país, tem 18 quilómetros, e segue “o rasto dos Templários”
O percurso pedestre integra a passagem por elementos históricos relevantes que deram início aos descobrimentos dos portugueses — e todos poderão vê-los no concelho de Vila Nova da Barquinha.

Todos se lembram da cena na qual, numa caverna iluminada por tochas, Indiana Jones (interpretado por Harrison Ford) fica diante de uma série de cálices — um dos quais é o Santo Graal. Num momento crucial, deve escolher o verdadeiro Graal, enquanto um cavaleiro templário, que há séculos guarda o objeto lendário, o observa silenciosamente. A tensão é palpável, e a escolha correta pode significar a vida ou a morte.
Este é mesmo um daqueles filmes que, apesar de ter sido lançado em 1989, ninguém esquece. Afinal, inclui aventura, adrenalina, suspense e uma história fascinante. Mas sabia que, apesar de ficcional, esta narrativa inclui factos históricos reais? É verdade, nela surgem elementos dos Templários na busca pelo Santo Graal, um artefacto frequentemente associado aos Templários em várias lendas.
Os Templários eram uma ordem militar e religiosa de cavaleiros criada no início do século XII, durante as Cruzadas, com o objetivo de proteger os peregrinos cristãos que viajavam para a Terra Santa (Jerusalém e arredores). Oficialmente conhecidos como a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, são mais comumente chamados Cavaleiros Templários. Com o tempo, envolveram-se em várias batalhas nas Cruzadas para defender os territórios cristãos. Apesar de terem sido desmantelados, deixaram um legado duradouro. Muitas lendas e teorias da conspiração surgiram ao longo dos séculos sobre segredos e riquezas escondidas.
Agora, já não precisa de se colocar em frente à televisão para sentir a excitação de procurar tesouros escondidos. É que os Templários estiveram em Portugal (onde desempenharam mesmo um papel significativo na história do nosso país) e deixaram provas que poderá descobrir. Como? Através de um trilho único.
Uma novidade com história
Chama-se “No rasto dos Templários”, conta com um total de 18 quilómetros, e já abriu ao público. Aliás, inaugurado a 2 de junho, é mesmo o mais recente trilho do país.
Pode encontrá-lo em Limeiras, freguesia de Praia do Ribatejo, mais como uma nova oferta turística que valoriza o património natural e cultural daquela localidade, do que outra coisa.
É verdade. Depois de ter inaugurado, em fevereiro de 2022, o Trilho Panorâmico do Tejo, o concelho não ficou de braços cruzados e decidiu criar mais um percurso pedestre — mas não um qualquer.

"Trata-se de um percurso de 18 km, de grau de dificuldade difícil e que integra a passagem por elementos históricos relevantes, como o estaleiro naval onde foram construídas 60 galeotas [um tipo de navio] que deram início aos descobrimentos portugueses e que integraram a armada que conquistou Ceuta em 1415", disse à Lusa (citado pelo jornal ‘Público’) Guilherme Grácio, presidente da associação de Limeiras, no concelho de Vila Nova da Barquinha, distrito de Santarém.
“Toda a área onde se situa a atual freguesia de Praia do Ribatejo fazia parte do território de Ozêzar, mais tarde denominado por Payo de Pelle, o qual foi doado em outubro de 1159, por D. Afonso Henriques, à Ordem do Templo, pertencendo posteriormente à sua sucessora, Ordem de Cristo. É já com estes últimos, e de acordo com a informação do espião castelhano Ruy Dias de Vega, que se constrói o estaleiro naval, sendo as suas ruínas o ex-libris deste trilho”, refere Rita Inácio, dirigente da associação de Limeiras e investigadora da história local. Está explicado, então, o motivo pelo qual existem inúmeros vestígios da ocupação templária na freguesia.
Por onde passa o trilho?
O trajeto começa na foz do rio Nabão, na zona do Cafuz, e segue até à Ponte de Constância, contando com um declive de 1055 metros. Passa ainda ao longo das margens do rio Zêzere, interligando com o Trilho Panorâmico do Tejo, percurso ribeirinho que se estende depois desde o Castelo de Almourol ao Parque de Escultura Contemporânea, em Vila Nova da Barquinha.
Feitas as contas, poderá demorar cerca de cinco a seis horas para terminá-lo, dependendo sempre do ritmo a que vai.
"É um projeto muito ambicioso por parte da comunidade das Limeiras e pelo Centro Cultural e Desportivo Limeirense e significa o concretizar de um objetivo maior que é o de termos na aldeia um percurso homologado para que toda a gente nos possa vir visitar e que tenha um conhecimento do que foi Limeiras, do que foi a Praia do Ribatejo e do que foi o concelho de Vila Nova da Barquinha", indicou o presidente da associação de Limeiras.
A inauguração teve tanto sucesso, que as inscrições esgotaram rapidamente. A estreia contou com uma centena de pessoas que puderam “vislumbrar o estaleiro, mas também ribeiras, nateiros, azenhas e açudes.” Ao longo do percurso foram “apresentados diversos lugares e os seus factos históricos mais relevantes, com a explicação do legado tangível desta paisagem cultural templária”, detalhou o presidente da associação. Um passeio memorável, diríamos.
Ainda assim, deve ter em atenção que o trilho deverá ser percorrido entre a primavera e o outono, uma vez que no inverno alguns troços do percurso podem estar intransitáveis devido à subida do leito do rio.