O Mediterrâneo está a sofrer uma seca extrema. É preocupante e as vinhas começam a sofrer vários impactos

O Mediterrâneo está a atravessar uma seca severa e prolongada que coloca culturas como a vinha em alerta máximo, provocando perdas de colheitas e, consequentemente, uma situação complexa no setor vitivinícola.

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A seca severa durante a época de maturação das uvas reduz a colheita.

O Mediterrâneo espanhol é conhecido pelo seu clima temperado e soalheiro, no entanto, do ponto de vista agrícola, tem vindo a atravessar uma crise crescente nos últimos anos: a seca. Este fenómeno está a causar grandes efeitos na agricultura, especialmente no setor vitivinícola e na produção de uvas, afetando a quantidade e a qualidade do vinho emblemático da região.

A seca, um problema crescente

A seca no Mediterrâneo não é um problema novo, mas nos últimos anos tornou-se mais frequente. A região registou uma diminuição significativa da precipitação, acompanhada de um aumento das temperaturas médias. Estas alterações climáticas estão a alterar os ciclos naturais e a disponibilidade de água, que é essencial para a agricultura.

A escassez de água afeta diretamente as vinhas, que são particularmente sensíveis a condições climáticas extremas. As uvas necessitam de um equilíbrio adequado entre o sol e a água para se desenvolverem corretamente, e esta falta contínua de água pode reduzir a produção de uvas e também afetar a sua composição química, que é crucial para a qualidade dos vinhos.

Impacto do calor na uva

As vinhas mediterrâneas, famosas por produzirem algumas das melhores uvas do mundo, estão a sofrer os graves efeitos da seca e, com esta, uma perda de quota de mercado a nível mundial. As regiões vinícolas mais famosas do mundo são Espanha, Itália e França, onde as colheitas foram reduzidas nos últimos anos. Em Espanha, por exemplo, a produção de vinho diminuiu 25% em 2023.

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A uva, um fruto nobre e delicado face às intempéries.

A escassez de água nos campos não só reduz a quantidade de uvas, como também prejudica a sua qualidade. As uvas stressadas pela falta de água tendem a ser mais pequenas e a ter uma maior concentração de açúcares e menor acidez, o que reduz a capacidade de envelhecimento dos vinhos, para além de resultar em vinhos muito alcoólicos, o que não se coaduna com as novas tendências de consumo que visam vinhos cada vez mais leves em termos de álcool.

Estratégias de adaptação

Perante esta situação, os viticultores estão a adotar várias estratégias para atenuar os efeitos da seca. Uma das soluções mais comuns é a implementação de sistemas de rega gota a gota, que permitem uma utilização mais eficiente da água. No entanto, esta solução tem as suas limitações, uma vez que muitas regiões também têm restrições de água devido à seca.

Outra estratégia é a seleção de vinhas mais resistentes à seca. Algumas variedades autóctones mediterrâneas demonstraram maior tolerância às condições de seca e os viticultores estão a começar a plantar mais destas variedades. Além disso, estão a ser exploradas técnicas de gestão do solo, como a utilização de cobertura vegetal e a redução da lavoura, para melhorar a retenção de água e reduzir a evaporação.

Impacto económico

A seca não só prejudica a produção de uva e de vinho, como também tem implicações económicas e culturais. O vinho é um produto emblemático da região mediterrânea e a sua produção ajuda a apoiar a economia local e dá emprego a milhares de pessoas. Além disso, o vinho é parte integrante da cultura e tradição mediterrânea, sendo as festas das vindimas, as provas de vinho e o enoturismo aspetos importantes da indústria.

Qual é o futuro do vinho nestas regiões?

Os viticultores estão a aprender a trabalhar com as novas condições climáticas, utilizando a tecnologia e os conhecimentos tradicionais para proteger as suas vinhas. A longo prazo, a solução mais eficaz será abordar as causas das alterações climáticas, como a redução das emissões de gases com efeito de estufa e a adoção de práticas agrícolas sustentáveis.

A curto prazo, tudo o que resta fazer é trabalhar com novas técnicas de cultivo, novos sistemas de poda e de gestão das vinhas, a utilização de castas locais ou a melhoria dos sistemas de irrigação, quando estes podem ser utilizados. Entretanto, a resiliência dos viticultores e a sua capacidade de adaptação à evolução das condições serão cruciais para manter a produção de vinho numa das regiões vinícolas mais importantes do mundo.