O maior escaravelho do mundo está em risco de extinção: a ciência já identificou os culpados
A população de um dos maiores insetos do mundo parece estar ameaçada. Se nada for feito, o risco de extinção será real. Fique a saber mais sobre este tema, connosco!

O escaravelho (ou besouro) Golias (Goliathus) é uma esp��cie africana que se encontra ameaçada devido a duas circunstâncias: por um lado, a indústria do cacau; por outro, o comércio internacional de insetos secos. Esta espécie de escaravelho gigante pode ser encontrada em latitudes equatoriais, em países como a Costa do Marfim, a Nigéria ou os Camarões.
Existem ao todo cinco espécies diferentes de escaravelhos Golias, que se caracterizam por poderem chegar aos 15 cm de comprimento e 40 g de peso. Os machos, em média, medem 11 cm e apresentam chifres em forma de “Y” e as fêmeas são ligeiramente mais pequenas, não apresentam estas estruturas (chifres). São ainda conhecidos pelos seus hábitos, quase exclusivamente diurnos.
Nos últimos 30 anos, especialistas em biodiversidade, tanto de universidades africanas como de outros continentes, têm estudado as populações destes escaravelhos (e de outras espécies igualmente ameaçadas), chegando a conclusões preocupantes. Mas, afinal, porque são estes insetos assim tão importantes? E o que podemos fazer para os preservar?
A importância deste escaravelho e os estudos académicos
A presença destes escaravelhos é um excelente indicador da saúde destas florestas, cada vez mais ameaçadas pelas atividades humanas. No seu estado inicial de larvas, os besouros são omnívoros, ou seja, alimentam-se de restos de carne e plantas. Isto atesta a sua importância na promoção das trocas de nutrientes por todo o ecossistema florestal.
Enquanto adultos, os Golias alimentam-se da seiva de algumas espécies de árvores. Uma floresta que sustenta uma população significativa de escaravelhos indica que a floresta é saudável e está preparada para sustentar um ecossistema complexo. O contrário indica que as florestas podem estar a percorrer um caminho penoso, em direção ao seu esvaziamento, resultando na extinção de inúmeras espécies de fauna e flora.

Os estudos desenvolvidos nas comunidades locais permitiram compreender que as subespécies Goliathus regius e Goliathus cacius são as mais ameaçadas de extinção. Os primeiros vivem em florestas tipicamente tropicais, sendo que os segundos preferem viver em florestas ligeiramente mais secas. Tendo em conta a quantidade de floresta que desapareceu, principalmente na Costa do Marfim, estima-se que se tenha perdido cerca de 80% da população de Goliathus cacius, naquilo que se pode classificar como um declínio catastrófico. A população de Goliathus regius também decresceu na ordem dos 40%.
As principais razões apontadas para esta situação estão relacionadas com o comércio internacional de escaravelhos desidratados, que acontece em plataformas como o eBay e o Facebook. As extensas áreas de floresta que foram substituídas por campos de cultivo, nomeadamente de cacau é outra das razões que explicam o desaparecimento de um dos maiores insetos do planeta.
Ações de preservação
Apesar de ser uma espécie quase extinta, os diferentes Goliathus ainda estão relativamente a salvo em certas regiões dos Camarões, o Uganda e do Quénia. Nas regiões onde as ameaças são maiores, é importante salvaguardar os habitats naturais. Devem proteger-se as árvores que são fonte primordial de alimento.

Da mesma forma que a deteção do problema contou com a ajuda da comunidade, a preservação deve contar com o contributo das gerações mais velhas, mais sábias, que sabem quais os conjuntos de árvores que devem ser preservadas. Outra estratégia a adotar pode passar pela criação de áreas protegidas, como Parques Naturais ou mesmo Parques Nacionais: só a criação destes organismos pode impedir a expansão das áreas associadas à agricultura, ao cultivo do cacau.
Por fim, seria importante que os países criassem mecanismos que controlassem o comércio, muitas vezes ilegal, destes escaravelhos secos. Este tipo de comércio, sendo importante para a economia local, contribui para a redução drástica da população de insetos. Também será importante continuar a envolver a comunidade científica, agências governamentais e ONG’s na sensibilização para a importância da preservação dos escaravelhos gigantes.
Referência da notícia:
Luca Luiselli, Julia Fa, Olivier Le Duc, Edem Eniang, Sery Gonedelé Bi, Gabriel Segniagbeto, Mathias Behangana, Stephanie Ajong, Emmanuel Hema, Drissa Koné, Simon Demaya, Mirco Morani, Giovanni Amori, K Malonza, N Mutua, Michele De Palma, Nic Pacini, Daniele Dendi. Red Listing African Goliath Beetles: Assessing Threats and Conservation Needs. African Journal of Ecology. 63. (2025)