O interior da Terra é um espaço cheio de mistérios por desvendar: quão bem o conhecemos?
As camadas mais profundas do nosso planeta continuam a ser um mistério. Mas, até onde o ser humano pode escavar para desvendar alguns dos segredos do interior da Terra?
A Viagem ao Centro da Terra, uma obra icónica de Júlio Verne que foi publicada em 1864, é contemporânea de várias teorias que se revelaram infundadas, como é o caso da que apontava para a Terra ser oca. Desde essa época (pelo menos), que o ser humano especula sobre o que existe debaixo dos seus pés. Há até quem afirme que sabemos muito mais sobre o espaço sideral do que sobre o interior da Terra.
Durante o séc. XX, a comunidade cientifica chegou a um quase consenso, em que se afirma que o interior da Terra é denso e composto por várias camadas compactas e sobrepostas. Contudo, praticamente todas as camadas são inalcançáveis ao ser humano, mesmo com a vasta gama de tecnologia que hoje tem ao seu dispor.
Existem 3 grandes camadas que se subdividem em 5: a crosta terrestre é a mais próxima da superfície terrestre e tem uma espessura que varia entre os 8 e os 64 km, aproximadamente. Logo abaixo da crosta está o manto superior, que pode ter uma espessura de perto de 350 km. De seguida, o manto inferior, que é a camada mais espessa: praticamente 2500 km! O núcleo externo é composto por ferro em estado líquido e terá uma espessura a rondar os 2000 km. Já o núcleo interno é composto por ferro em estado sólido e terá uma espessura a rondar os 1200 km.
Sabe-se que estas camadas estão empilhadas umas sobre as outras e que algumas delas são compostas por rochas sólidas e duras, ao invés de outras que serão mais macias (ou pegajosas). Já foram feitas várias tentativas de perfurar o túnel mais profundo da Terra, mas mesmo depois de se penetrar vários quilómetros abaixo da superfície, é até hoje impossível ao ser humano alcançar o manto ou qualquer outra das camadas mais próximas do núcleo.
O que se conhece até agora?
Apesar de os maiores segredos ainda estarem para ser desvendados, sabe-se que a maior parte da informação que se retirou do interior da Terra é proveniente de eventos sísmicos, terramotos, erupções vulcânicas e mesmo meteoritos. Com base em dados sísmicos, que criaram uma imagem de alta resolução do interior da Terra, um novo estudo indica que há um antigo leito oceânico a “cercar” o núcleo da Terra, na área de divisão entre o núcleo externo e o manto inferior, que forma uma espécie de nova camada.
Há uma nova geração de cientistas que quer aprofundar o conhecimento e relação ao interior do nosso planeta. Assim, na China, está a decorrer uma ambiciosa operação de escavação de um dos poços mais profundos jamais construídos, com uma profundidade de praticamente 11 km, com o objetivo de alcançar rochas com mais de 145 milhões de anos.
Este poderá ser o túnel mais profundo já escavado na China, mas não é o mais profundo no mundo, já que o que foi escavado na Península de Kola (denominado SG-3), desde o ano de 1970 (na antiga União Soviética, atual Rússia), terá uma profundidade a rondar os 12 km, que foi alcançada em 1990, ano em que o regime comunista colapsou naquele país. Este continua a ser o túnel mais profundo alguma vez construído pelo ser humano.
Mais recentemente, uma equipa de cientistas perfurou a crosta terrestre e foi capaz de extrair amostras de rochas do manto superior. Desta perfuração oceânica foram extraídas amostras de peridotito, uma rocha que está associada à composição do manto. A tecnologia que atualmente o ser humano tem à sua disposição continua a não ser suficiente para aprofundar o conhecimento sobre o interior da Terra. Porém, o acelerado desenvolvimento tecnológico de alguns países emergentes poderá ser o fator de mudança, neste campo.