O impacto ambiental dos passadiços
Os passadiços estão a multiplicar-se por todo o país, contudo a maioria dos passadiços construídos em Portugal podem ser um interessante equipamento de recreio, mas não são um equipamento de conservação da natureza e educação ambiental, nem um bom exemplo de intervenção do território.
Os passadiços combinam o melhor de dois mundos: a natureza e a atividade física, proporcionando, assim, momentos de puro deleite. Os passadiços em Portugal estão inseridos em quadros bucólicos, entre vales e montanhas, ou com cheiro a maresia, estes rapidamente se tornaram na escolha perfeita para caminhadas, corridas ou andar de bicicleta.
As autarquias têm apostado na criação de novos percursos, onde os caminhantes beneficiam do contacto direto com a Natureza. Os passadiços estão associados ao turismo na natureza e as suas caraterísticas geomorfológicas deram origem a uma grande variedade de paisagens e habitats naturais, com condições que permitem a realização de atividades e produtos relacionados com a animação turística, permitindo, assim, que Portugal se possa afirmar como um destino de excelência para a prática de atividade de Turismo de Natureza.
Este tipo de turismo consiste em descobrir lugares naturais que obrigam à interação com a natureza, de modo a apreciar a sua beleza e a usufruir da mesma, assim como, locais ideais para sentir a autenticidade dos valores do património, da natureza e da história.
Têm o objetivo primordial de promover o turismo com comportamentos ambientais responsáveis, com pouco impacto, mas que acima de tudo, promovam a educação e interpretação ambiental de forma a garantir a salvaguarda da equidade entre gerações, com base num modelo de desenvolvimento sustentável, tendo como vantagem consolidar o crescimento da estrutura económica, com o melhoramento da qualidade de vida das populações locais, e com a mais valia de lhes proporcionar novas oportunidades.
Passadiços: forma de construção e a implementação
Os passadiços sobrelevados ou em estrados de madeira (em inglês, boardwalk, um tipo especial de footpaths) são muito antigos e destinam-se a evitar a degradação do solo e da flora ou/e a vencer obstáculos, como pequenos lagos ou rios.
Na Europa, o primeiro guia para a construção deste tipo de percursos foi editado em 1983 pelo British Trust for Conservation Volunteers; em Portugal o primeiro passadiço instalado de que há registo foi o da Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto, na década de 1980, e destinava-se a permitir o acesso à área de reserva integral, sem pisotear o cordão dunar, e a vencer algumas valas de drenagem.
Em ambiente urbano, os primeiros passadiços terão sido instalados em Vila Nova de Gaia, em 1988, na zona costeira, com o objetivo de diminuir o impacto da passagem das pessoas nos ecossistemas das dunas durante a época balnear. A instalação deste tipo de equipamentos foi-se alargando, conjugando a preocupação ambiental com a vontade em criar condições de acessibilidade. No entanto, os passadiços começaram a ser vistos como equipamentos de recreio, tendo esta função acabado por se tornar predominante, transformando até o fenómeno dos passadiços numa oferta turística popular.
Segundo a Associação Portuguesa Para a Conservação da Biodiversidade (FAPAS), a colocação de passadiços, especialmente nas dunas, foi-se alargando ao território nacional e, em alguns casos, assumiu uma função recreativa o que levou a perder-se a noção da sua função inicial e a fomentar a instalação de muitos quilómetros de passadiços, em que a função lúdica teve prioridade e que, em muitos casos, estão a prejudicar as condições ambientais dos sítios onde foram instalados.
Muitos são os locais que hoje devassam áreas naturais até então livres da pressão humana e que, com a facilidade de acesso criada, passaram a ser frequentada por multidões, muitas vezes ruidosas e, frequentemente não apenas em deslocação pedonal, mas também em motociclos.
Atualmente, têm surgido várias associações contra algumas destas infraestruturas espalhadas pelo território português onde apelam à necessidade de legislar sobre estas estruturas, impedindo a sua proliferação, uma vez que o resultado deste num instrumento para "turismo de massas" pode ser prejudicial à biodiversidade local.