O Homem tem tornado o mundo mais resistente às catástrofes, mas investimento deve continuar para que não haja retrocesso

Ao longo dos tempos os fenómenos meteorológicos e sísmicos severos têm causado catástrofes devastadoras com perdas de milhões de vidas.

Cheias
As catástrofes continuam a ocorrer, mas as mortes causadas pelos fenómenos extremos têm vindo a diminuir.

Apesar dos fenómenos extremos causados pelas alterações climáticas se estarem a tornar mais frequentes e intensos, as mortes causadas por estes fenómenos têm vindo a diminuir, devido ao facto de termos melhorado a nossa proteção e a dos outros.

As mortes devido às catástrofes têm vindo a diminuir

De acordo com Hannah Ritchie em “Our World in Data”, no Bangladesh, em 1970, mais de 300.000 pessoas morreram quando um forte ciclone atingiu a região; em 1985, outra tempestade causou 15.000 mortes e em 1991 outra matou 140.000 pessoas.

No entanto, em 2020, o Bangladesh foi atingido pelo ciclone Amphan, uma das tempestades mais fortes de que há registo na Baía de Bengala e o número de mortos foi de 26.

É evidente que o ciclone Amphan também causou enormes prejuízos, milhões de pessoas ficaram desalojadas e houve grandes perdas económicas.

Mas é de salientar que dezenas, possivelmente centenas de milhares de vidas foram salvas, devido à existência de um sistema eficiente de avisos precoces, entretanto implementado na região, evacuações atempadas e maior preparação por parte da população.

Com a implementação de um sistema de avisos precoces, as pessoas no Bangladesh estão muito mais bem protegidas das catástrofes do que estavam há algumas décadas.

Felizmente, o Bangladesh não é um exemplo único. Utilizando a Base de Dados Internacional sobre Catástrofes, EM-DAT, que remontam a 1900, é possível verificar que o número de pessoas mortas em catástrofes no mundo diminuiu muito ao longo do último século, apesar de haver quatro vezes mais pessoas no mundo.

Mortes por catástrofes
Número de mortes no globo causadas por catástrofes, expresso em média decenal, desde 1900. Fonte: Our World in Data tendo por base a EM-DAT

Ainda de acordo com Hannah Ritchie, na primeira metade do século XX ocorreram catástrofes devastadoras, tais como inundações ou secas extremas que provocaram a fome em muitas regiões.

Também antes de 1900 ocorreram muitas catástrofes. É de referir, por exemplo, um forte fenómeno meteorológico El-Niño na década de 1870 que provocou fome na China, na Índia e no Brasil, matando dezenas de milhões de pessoas.

Quais as causas que levaram o mundo a estar mais resiliente às catástrofes?

As previsões meteorológicas melhoraram drasticamente nos últimos 50 anos, e deste modo as populações podem preparar-se melhor para tempestades, inundações, secas e incêndios florestais. Além disso, existem muitos mais países que dispõem de sistemas de aviso precoce, os avisos são emitidos atempadamente para a população ter tempo para tomar medidas de proteção.

No setor agrícola, os sistemas agrícolas são atualmente muito mais resistentes aos choques e as próprias mudanças nos sistemas políticos reduziram o risco de fome. Segundo Joe Hasell e Max Roser, de “Our World in Data”, a fome é rara em democracias que funcionam bem.

Impacto na agricultura
Um aviso agrometeorológico dá informação ao agricultor sobre as condições meteorológicas previstas e o impacto que poderá ter na agricultura.

Outro aspeto importante é que, em geral, as pessoas em todo o mundo são mais ricas do que eram há um século.

A população mais pobre é a que é mais vulnerável aos fenómenos extremos.

Uma pessoa que tenha acesso a uma casa à prova de sismos, acesso a eletricidade e água potável, ar condicionado ou aquecimento e recursos suficientes para recuperar após uma catástrofe, significa que essa pessoa está mais preparada para se proteger do que outra que não viva nas mesmas condições. No último século, milhares de milhões de pessoas passaram a ter acesso a estes recursos básicos.

Muitos investigadores e organizações associaram esta redução da vulnerabilidade a vários tipos de catástrofes. A Organização Meteorológica Mundial (OMM) concluiu que as mortes causadas por catástrofes relacionadas com o clima e o tempo diminuíram quase 3 vezes entre 1970 e 2019.

Os investigadores Giuseppe Formetta e Luc Feyen estudaram uma base de dados de catástrofes diferente, a NatCatSERVICE da Munich RE, e descobriram uma grande redução da vulnerabilidade global a catástrofes entre as décadas de 1980 e 2010.

Como reduzir o risco de catástrofes no futuro

Ainda segundo Hannah Ritchie, há três fatores que determinam o risco de danos, ou seja, uma catástrofe, quando ocorre um perigo. Em primeiro lugar, as características do perigo em si, em segundo lugar, o número de pessoas ou a quantidade de infraestruturas expostas ao perigo e por último, a vulnerabilidade das pessoas que estão expostas.

Dado que o primeiro fator, as características do perigo, do fenómeno extremo, tende a agravar-se, a tornar-se mais intenso e frequente, será necessário tomar medidas para diminuir os outros dois fatores, se o Homem quer continuar a reduzir o risco de catástrofe.

Para reduzir a exposição, é necessário compreender, quando e onde é mais provável que os perigos ocorram, quais são as regiões mais vulneráveis, por exemplo, à subida do nível do mar. Há que ter em conta que as pessoas continuam a deslocar-se para zonas de risco, como é o caso das zonas costeiras.

O aumento da cobertura dos sistemas de aviso precoce é fundamental, mas, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial, cerca de um terço do mundo, maioritariamente os países mais pobres, ainda não dispõe destes sistemas.

Em relação à vulnerabilidade, tirar as pessoas da pobreza é uma solução essencial para reduzir os riscos climáticos. É fundamental investir em infraestruturas, tornar a agricultura mais produtiva e construir uma governação política forte.